A Disney estava fazendo filmes animados há quase seis décadas quando um novo estúdio decidiu que era hora de mudar o jogo e apostar em uma obra completamente diferente do que já fora visto até ali. Depois de uma série de curtas e comerciais, a Pixar assinou um acordo de US$ 26 milhões com a casa do Mickey Mouse e lançou o seu primeiro longa-metragem nos cinemas: Toy Story.
Era novembro de 1995 e um filme de animação tridimensional, completamente computadorizado, nunca havia sido feito. Os maiores sucessos da animação, ao menos para plateias ocidentais, giravam ao redor de títulos como O Rei Leão, Aladdin e Bela e a Fera. Todos voltados completamente às crianças, todos se apoiando fortemente em suas canções originais. Mas as coisas estavam a ponto de mudar.
Buzz Lightyear e Woody, os protagonistas de Toy Story, tomaram os cinemas de assalto: o filme teve a segunda maior bilheteria de 1995, atrás apenas de uma sequência de Duro de Matar, e por pouco. Com US$363 milhões arrecadados ao redor do mundo, o filme garantiu vida longa à Pixar e à franquia. De lá para cá, foram mais três filmes de Toy Story. Mais 21 longas-metragens do estúdio. E mais de uma dezena de Oscars.
Mais do que isso: a própria Pixar se transformou em um selo de qualidade nas animações, sendo vendida para a Disney por Steve Jobs em 2006. Mas tudo isso só foi possível graças a uma série de peculiaridades do estúdio. Do uso inovador dos computadores até uma nova forma de olhar para os filmes para crianças, veja algumas curiosidades que explicam o sucesso de Toy Story e da gênese da Pixar como a conhecemos.
Computadores em ação
Não havia jeito para Toy Story não entrar para a história do cinema. Na época, ninguém sabia se animações 3D funcionariam — mas todos estavam curiosos. Para o bem ou para o mal, o filme decidiria o futuro dos longas animados, e os envolvidos sabiam disso. Assim, o longa foi tanto um resultado direto dos avanços na computação gráfica nos anos 1980 e 19r a90 quanto um motor para a nova tecnologia.
Inexperiência à bordo
O que isso significa? Que os funcionários da Pixar precisaram desenvolver a tecnologia necessária para Toy Story enquanto desenvolviam o próprio filme. Como colocar os brinquedos correndo atrás de um carro? Caindo de um elevador? Voando acima da cidade? O processo foi lento e cenas de minutos tomavam semanas inteiras para ser feitas.
"Naquela altura, nenhum de nós sabia o que estávamos fazendo. Não tínhamos experiência em produção, exceto curtas-metragens e comerciais", contou Ed Catmull, que na época era engenheiro de software e agora é presidente da Pixar e da Disney Animation, à revista TIME. "Mas havia algo estimulante sobre ninguém saber o que diabos estávamos fazendo".
Uma nova face
Mas a nova tecnologia, afinal, não foi só dor de cabeça para o estúdio. Novos horizontes se abriram para os filmes animados graças à computação gráfica ou, mais especificamente, novas estampas. Isto porque detalhes como a camiseta quadriculada de Woody e seu colete malhado seriam uma provação imensa para um ilustrador tradicional.
Nos mínimos detalhes
Ao mesmo tempo, os cenários mais intrincados resultaram em uma das marcas clássicas da Pixar: seus easter eggs. São pequenas referências escondidas dentro das produções, como um Nemo de pelúcia visto no quarto de Boo, em Monstros S.A. Desde o primeiro Toy Story, contudo, esse espírito já estava presente. Um dos livros no quarto de Andy é Tin Toy, nome de um curta da Pixar lançado em 88 sobre um outro brinquedo que ganha vida, Tinny.
Histórias importam
Apesar de toda tecnologia, a Pixar nunca reduziu seus filmes a uma inovação técnica. Para a história de Toy Story, trabalharam juntos no roteiro Joss Whedon (de Buffy e Os Vingadores), Andrew Stanton (de Nemo e Wall-E), Joel Cohen e Alec Sokolow (ambos de Garfield). E, de alguma forma, eles conseguiram criar um filme de crianças que ressoa de forma diferente, mas ainda significativa, com os adultos na sala.
Woody é tão tridimensional em sua aparência quanto em sua personalidade. Claro que ele cuida dos brinquedos ao seu redor, mas também é tão ciumento e inseguro que trama contra o outro protagonista, Buzz. Eles lutam e se desentendem. E o caubói é até um pouco cruel antes de baixar a guarda e descobrir o verdadeiro sentido de amizade. Mas não é uma fábula nem um conto de fadas, e sim um filme.
Não foi à toa que a obra acabou reconhecida com uma indicação ao Oscar de melhor roteiro original. Em uma época em que a categoria de melhor animação ainda não havia sido criada, coube a Pixar uma estatueta especial por seu trabalho no filme, ainda. Reconhecimentos maiores ainda viriam com o tempo, até com indicações a melhor filme. Tudo isso, de certa forma, possível graças a uma carismática turma de brinquedos.