Os cinemas no Brasil suspenderam as atividades em março por conta da pandemia de covid-19. Embora as salas estejam fechadas desde então, dois cinemas no Estado já retomaram a programação. É o caso do Cine Globo, de Santa Rosa. Segundo o sócio-diretor do cinema, Levy Filho, a avaliação para reabrir as portas passou por um comitê regional, que fez a intermediação com o governo estadual. Levy afirma que o cinema tem permissão para reabrir desde abril, quando saiu um edital da prefeitura de Santa Rosa apontando os protocolos de segurança a serem cumpridos. No momento, o município se encontra sob a bandeira laranja no programa de flexibilização (risco médio).
Conforme Levy, o cinema está operando com 25% da capacidade e segue as normas elaboradas pela Federação Nacional das Empresas Exibidoras de Cinema (Feneec). Há distanciamento de dois metros nas filas da bilheteria e do bar, com a disponibilidade de álcool gel. É obrigatório o uso de máscara, o distanciamento entre as poltronas é de dois metros ou mais e a temperatura do público é medida na entrada do cinema. Há ainda a higienização da sala entre as sessões.
Levy conta ainda que foi aprovada pelo comitê regional, na última sexta-feira (18), as retomadas dos cinemas de Frederico Westphalen, Três Passos e Palmeira das Missões. Segundo ele, ainda falta uma posição do governo do Estado sobre esse processo.
Inicialmente, o Cine Globo realizava sessões únicas aos sábados e domingos. Esporadicamente, exibia filmes de sexta e segunda. Na programação, títulos populares que já haviam passado pelo circuito, como Frozen 2 e Minha Mãe É uma Peça 3. Segundo Levy, houve momentos em que a volta da bandeira vermelha fez o cinema fechar outra vez. Também teve sessões vazias.
No dia 11 de setembro, o cinema voltou a passar um filme inédito, com o lançamento nacional Scooby! O Filme. Assim, ampliou as exibições para até duas sessões diárias, com diferença de uma hora e meia entre elas.
— Foi um teste para ver a retomada do público. Ficamos felizes porque de sexta a domingo a gente conseguiu botar, mesmo com as sessões reduzidas, uma média de cem pessoas — comentou Levy (a capacidade do Cine Globo é para 700 pessoas).
Para ele, já passou da hora dos cinemas retomarem as atividades:
— Chega, a cultura está sufocada. Vai ter muito artista sem emprego. Não houve auxílio do governo para os exibidores.
Ele acrescenta que não houve demissões por parte do cinema, apenas redução de contratos. Porém, o empresário crê que a situação pode piorar para o setor a partir de novembro, se não houver uma maior reabertura. Procurada pela reportagem, a prefeitura de Santa Rosa não retornou os contatos para falar sobre a reabertura.
Alegrete
Em Alegrete, cidade que se encontra na bandeira laranja (risco médio), o Cult Cinema reabriu no dia 10 de setembro. Procurada pela reportagem, a direção do espaço não quis se pronunciar sobre a retomada das atividades. O prefeito Márcio Amaral relatou que o cinema foi liberado há duas semanas, funcionando com até 30% de sua ocupação. A decisão foi tomada pelo comitê de operações especiais do município, que discute as flexibilizações e abertura das atividades.
— Geralmente, quando ocorre alguma flexibilização que seja maior que a do Estado, a recomendação é que se mande para o Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE). O nosso não foi e ficamos aguardando alguma manifestação. Temos trabalhado muito em sintonia com o Ministério Público, que vai medindo as ações do município. Temos procurado ser bastante cautelosos em todas as nossas decisões. Sempre que se toma uma medida de maior impacto, o Ministério Público nos consulta e a gente tenta entrar num acordo. Sempre com risco calculado para o retorno das atividades. Desta vez, não houve nenhuma manifestação do Ministério Público — explica Amaral.
Entre os protocolos adotados, estão a medição de temperatura na entrada, distanciamento mínimo recomendado na fila e entre as poltronas e disponibilidade de álcool gel.
— Alguém pode questionar: "Mas como, um cinema com as atividades liberadas?". Nós sabemos que nos cinemas do Interior a demanda pela utilização é bastante restrita. Conversando com o comitê de operações especiais daqui do município, os próprios médicos entenderam que era positivo para a oportunidade de lazer para as pessoas que estão aí há seis meses sem atividade nenhuma de lazer — garante o prefeito, que acrescenta que o cinema foi colocado como uma opção, sabendo que a demanda seria pequena.
Governo do Estado
As atividades de cinema estão vetadas pelo governo gaúcho em qualquer bandeira entre amarela e preta. O decreto de Santa Rosa, de abril, passou a confrontar com o que está previsto no modelo de distanciamento controlado do Estado.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Estado (SPGG) enviou uma nota: “o Comitê de Dados e a Secretaria da Saúde estão estudando possíveis alterações para os protocolos relacionados ao setor de eventos a partir de normas internacionais, de outros Estados e das propostas de representantes gaúchos deste setor. Eventos teste já foram realizados e acompanhados pelos técnicos das secretarias do Estado. Reuniões com entidades também acontecem com frequência. A conclusão da análise, sem prazo no momento, culminará em uma portaria específica para o setor".
Questionada sobre o que ocorreria com os cinemas que já reabriram, a secretaria de Planejamento respondeu que a situação será avaliada.
Ricardo Difini Leite, presidente da Feneec, comenta:
— A gente ficou um pouco surpreso com a notícia da liberação de eventos corporativos pelo governo estadual, mas até agora não ter saído o decreto autorizando, obviamente com as medidas devidas, os cinemas a funcionarem. Ainda estamos nesse limbo, sem saber quando é que vamos poder reabrir o nosso negócio.
Leite ainda acrescenta que a retomada do setor seria mais segura do que a que ele tem visto ocorrer em outros estabelecimentos, no que se refere ao contágio do vírus:
— Um cinema não vai comportar nem cem pessoas pelas limitações que estamos fazendo. Então não entendemos porque essa resistência se, por exemplo, na questão de bares e restaurantes existe a interação entre as pessoas, as pessoas conversam muito, ficam muito tempo sem máscara comendo, o manuseio de objetos também é muito maior.
De acordo com o presidente da Feneec, a previsão é de que até 15 de outubro a liberação seja concedida para os cinemas no Estado, em sua totalidade. Conforme Leite, o protocolo para retorno das salas inclui limitação da capacidade máxima em 50%, bloqueio automático das poltronas, escolhidas com intervalos que respeitam o distanciamento social, higienização das salas nos momentos entre sessões, pontos de álcool gel disponíveis para o público, orientação no piso para manter distanciamento e funcionamento de apenas metade dos pontos de venda
Hormar Castello, presidente do Sindicato das Empresas Exibidoras do Rio Grande do Sul, alerta para o impacto da crise no setor:
— Vários cinemas não vão reabrir. É uma preocupação enorme com tudo, com negócio, com emprego.
* Colaborou Juliana Agne