Há um ano, Vingadores: Ultimato lotava cinemas em todos os cantos do mundo para se tornar a maior bilheteria da história. Em cada país, o ritual era parecido: filas para comprar ingresso, aglomerações para entrar na sala, pessoas se esgueirando para chegar às poltronas. Muito calor humano. Agora, nos cinemas que engatinham rumo à reabertura do setor abalado pela pandemia, o cenário é bem diferente: restrição do número de espectadores, distanciamento de lugares e limpeza constante do espaço, o que pode produzir pipoca com sabor de álcool gel.
O que é o jornalismo de soluções, presente nesta reportagem
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Nos países com queda de casos da covid-19, exibidores retomam parcialmente as atividades e sob rígidos protocolos de segurança. As orientações costumam ser as mesmas em diferentes continentes: distanciamento de um a dois metros entre espectadores, limite de público nas salas e aplicação recorrente de álcool gel e desinfetante. Em cartaz, por enquanto, apenas filmes já exibidos – os lançamentos ainda dependem da recomposição efetiva da cadeia exibidora.
Um dos primeiros países a ver outra vez a luz no projetor foi a Coreia do Sul, no final de abril. Alguns complexos fazem a venda de ingresso sem contato físico, em quiosques automatizados e aplicativos, como indica reportagem do site SyFy. Foram adotadas medidas de distanciamento social, com assentos escalonados, uso regular de desinfetante, obrigatoriedade de máscara e medição de temperatura. Na semana passada, a Nova Zelândia liberou seus cinemas para reabrirem com restrições de até cem pessoas por sala —o site Stuff indica que os exibidores devem reduzir seus quadros de funcionários em 50%.
Islândia, Noruega e República Tcheca também seguem esse caminho. Por outro lado, a Suécia não impôs nenhuma medida para suspender as sessões de cinema. Mas, com o agravamento da pandemia no país, as autoridades restringiram a 50 pessoas por sala. A China iniciou a reabertura dos cinemas ainda em meados de março; porém, as sessões foram suspensas novamente pouco tempo depois com o surgimento de novos focos da covid-19.
E no Brasil?
Os cinemas brasileiros estão fechados desde março e sem previsão de voltarem a receber público. Para Daniela Mazzilli, coordenadora de Cinema e Audiovisual da Secretaria Municipal de Cultura e responsável pela Cinemateca Capitólio, um dos mais tradicionais espaços de exibição da Capital, cinemas e outras atividades coletivas deverão seguir normas de segurança por um longo período, inclusive após o pico da pandemia:
– Estas condições de acesso e manutenção das salas são extremamente importantes; porém, precisam da colaboração do público, como no uso correto da máscara. São as novas normas de convívio social que precisarão ser seguidas por todos.
Ricardo Difini Leite, diretor da rede GNC Cinemas e presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec), entende que ainda não é “o momento oportuno para falarmos sobre protocolos de reabertura”. Em entrevista concedida em abril a GaúchaZH, ele alertou que o reinício das atividades não seria a todo vapor: o espectador precisará se sentir confortável:
– Não achamos que o cinema vai abrir num dia e lotar. Temos que ter todo um esforço para que o público tenha tranquilidade para voltar sem riscos. Vai ser um processo gradual de recuperação.
Como funcionaria
Diante da ainda incerta reabertura dos cinemas no país, Claudio Stadnik, infectologista da Santa Casa de Misericórdia e professor de Medicina da Ulbra, avalia que seria recomendável o distanciamento entre os espectadores e a restrição de público nas salas:
– Não vai dar para ocupar todos os bancos um do lado do outro, a distância deve ser de pelo menos duas poltronas, ou dois metros. Mas claro que um casal pode ficar junto.
Stadnik indica a adoção de uma limpeza geral com álcool líquido em todas as poltronas após cada sessão, o que demandaria um espaçamento entre uma exibição e outra. Cita ainda a necessidade do uso de máscara também para os funcionários. E mais:
– Medir a temperatura dos colaboradores quando entrarem. Afastar temporariamente quem apresentar qualquer sintoma de covid-19, em especial, os respiratórios. Higienização em todos os lugares e colocação de álcool gel em mais acessos do cinema.
Confira como está sendo a reabertura dos cinemas em outros países:
Suécia
Cinemas seguiram funcionando durante a pandemia, restritos a 50 pessoas por sala e distanciamento entre espectadores.
Islândia
Salas estão abertas com capacidade limitada até 50 pessoas por sessão e distância de dois metros entre as poltronas.
República Tcheca
Cinemas voltaram a funcionar no dia 11 de maio, com lotação máxima de cem pessoas por sessão.
Nova Zelândia
Na semana passada, cinemas reabriram com restrições de até cem pessoas por sala e regras de distanciamento.
Noruega
Desde o começo de maio, os cinemas foram autorizados a reabrir com capacidade de até 50 pessoas e distanciamento de um metro entre cada poltrona.
Estados Unidos
Cinemas do Texas reabriram restringindo cada sala a 25% da capacidade. No Estado da Georgia, os cinemas também foram liberados com protocolos sanitários e distanciamento social.
Coreia do Sul
Cinemas vêm reabrindo desde o final de abril. Alguns complexos utilizam uma tecnologia de venda de ingresso sem contato físico. Os cinemas contam medidas de distanciamento social, assentos escalonados, desinfetantes, uso de máscaras e medição de temperatura.