Tosse e febre são os sintomas mais comuns de condições como gripe, covid-19, infecção por vírus sincicial respiratório (VSR), resfriado e pneumonia. As doenças respiratórias costumam ser o motivo da superlotação de emergências, pronto-atendimentos e unidades de saúde durante as estações mais frias do ano e, por isso, são uma das grandes preocupações dos médicos e autoridades da área da saúde. Neste ano, por causa dos impactos da enchente no Rio Grande do Sul, especialistas temem que situação possa exigir ainda mais atenção.
Essas doenças são mais comuns durante o outono e o inverno porque, no frio, as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados e mal ventilados, facilitando a propagação de vírus e bactérias. Além disso, o ar frio e seco pode irritar as vias aéreas e enfraquecer o sistema imunológico. Outros fatores, como a sazonalidade dos vírus e as mudanças frequentes de temperatura, também explicam o aumento das ocorrências.
— Além de aumentar a frequência das doenças infecciosas, essa época do ano também pode causar uma piora no quadro de pacientes que já têm doenças respiratórias crônicas, como asma, enfisema e bronquite, por exemplo — pontua o chefe do Serviço de Pneumologia da Santa Casa de Porto Alegre, Adalberto Rubin.
Para essas pessoas, a recomendação é não interromper o tratamento habitual e buscar uma nova orientação médica para ajudar a aliviar as queixas mais comuns.
Já para aqueles que não convivem com problemas de saúde crônicos, a dica é ficar atento aos sintomas das doenças respiratórias agudas. Ou seja, as infecciosas. Essas condições podem ser causadas por vírus ou bactérias e costumam apresentar sinais semelhantes, tornando fácil a confusão entre elas. Por isso, buscar uma avaliação médica para fazer o diagnóstico e receber o tratamento adequado é essencial.
— Infecções virais e bacterianas costumam se apresentar com tosse carregada, espirros, expectoração, febre, coriza, congestão facial e inapetência. Em alguns casos, como o da influenza (gripe), o quadro pode ser sistêmico. Isso significa que afeta todo o corpo, causando fadiga e dores. Mas, em geral, os sintomas são todos um pouco parecidos. Quanto antes identificar a condição, melhor para direcionar o tratamento e ter bons resultados — explica o professor e pneumologista do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Gustavo Chatkin.
Principais doenças
O resfriado comum é uma das condições mais frequentes desta época do ano. Trata-se de uma infecção viral do trato respiratório superior, geralmente causada por rinovírus. A transmissão se dá através de gotículas respiratórias quando uma pessoa infectada tosse, espirra ou fala, ou através do contato com superfícies contaminadas. Já a gripe é causada pelos vírus influenza A, B e C e a transmissão é similar ao do resfriado comum.
— O resfriado geralmente é uma infecção viral mais leve, com sintomas como coriza, espirro e tosse. A influenza é um vírus que dá muita febre, dor no corpo e fadiga. Derruba a pessoa, porque tem uma capacidade sistêmica muito grande — acrescenta Chatkin.
A infecção pelo vírus sincicial respiratório é uma doença já conhecida do outono e inverno gaúcho. A infecção viral afeta as vias respiratórias e é comum em bebês e crianças pequenas, mas também pode afetar adultos e idosos. A transmissão é parecida com a do resfriado e da gripe. A condição é preocupante porque pode levar à bronquiolite, pneumonia e insuficiência respiratória.
Também já bastante conhecida, a covid-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2 que pode ser transmitida através de gotículas respiratórias, contato com pessoas infectadas ou aerossóis em ambientes fechados. Em quadros mais desfavoráveis, os pacientes podem apresentar pneumonia, síndrome respiratória aguda grave (SRAG), falência de múltiplos órgãos, trombose e até morte.
Temida pelos pneumologistas, a pneumonia é uma infecção dos pulmões que pode ser causada por bactérias, vírus, fungos ou outros agentes patogênicos. Dependendo do agente causador, pode ser transmitida por gotículas respiratórias, que podem conter os agentes patogênicos responsáveis por causar a doença, ou contato com superfícies contaminadas.
Fatores de risco e complicações
Idade e comorbidades são fatores de risco importantes para as doenças respiratórias agudas. Imunossuprimidos, crianças, idosos e tabagistas estão sob risco ainda maior nesta época do ano. Além de terem mais chances de infecção, esses pacientes podem enfrentar quadros mais graves das doenças, podendo precisar de internação hospitalar.
As complicações podem causar insuficiência respiratória, desidratação ou necessidade de acompanhamento médico contínuo. Somente neste ano, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS), mais de 5,7 mil pessoas já foram hospitalizadas com síndrome respiratória aguda grave, sendo 895 pessoas por influenza, 1,1 mil por covid-19 e 957 por VSR.
— A preocupação pode ser definida pela gravidade da doença em si, ou pelas condições prévias do paciente. Pessoas saudáveis podem ficar mal por causa de uma pneumonia grave e idosos podem ficar mal por causa de uma pneumonia não tão grave, por exemplo — afirma o chefe do serviço de pneumologia do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Basso Gazzana.
Prevenção
Os especialistas ressaltam que a prevenção é importante para diminuir riscos de infecção. Realizar a higiene correta das mãos, evitar lugares fechados e com aglomerações, não fumar – cigarros tradicionais ou eletrônicos –, manter os ambientes limpos e arejados, proteger o nariz e a boca ao tossir ou espirrar, não se aproximar de pessoas com sintomas gripais e utilizar máscara são algumas das orientações principais. A forma de prevenção mais eficaz, porém, é a vacinação.
—Hoje já temos vacinação para gripe e covid-19 que, além de evitar essas infecções virais, evita que essas doenças progridam para uma pneumonia. Além disso, também temos vacina antipneumocócica, que age contra a bactéria mais comum causadora da pneumonia. Recentemente, chegou ao Brasil a vacina contra o VSR — explica Gazzana.
As vacinas estão disponíveis na rede pública para o público-alvo específico, definido pelo Ministério da Saúde, ou na rede privada para o público geral. Algumas clínicas de vacinação também oferecem o imunizante contra o VSR, que ainda não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e, na rede privada, pode custar até R$ 1,5 mil a dose para adultos.
Impacto das enchentes
A catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul no mês de maio trouxe uma série de consequências diretas e indiretas aos gaúchos. Uma delas é o aumento no número de casos de várias doenças, incluindo as infecções respiratórias. Para os especialistas, as condições de moradia dos afetados pelas enchentes pode fazer com que a quantidade de diagnósticos de doenças respiratórias seja ainda maior neste inverno.
— Agora, nós temos três etapas que são muito importantes para o aparelho respiratório. Primeiro, é a inundação, que pode aumentar o risco de doenças respiratórias, tanto pulmonares, quanto superiores. Depois, as pessoas que vivem nos abrigos ou em casa de parentes correm mais risco de contaminação por doenças infecciosas. A terceira etapa é a de reconstrução, em que as pessoas vão voltar a habitar casas muito mofadas e úmidas, e isso pode ser um outro irritante respiratório — explica Adalberto Rubin.
Com cerca de 30 mil pessoas desabrigadas, segundo dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedes), a aglomeração nos abrigos é uma preocupação. Rubin também chama atenção para aqueles casos em que grandes famílias ou grupos de amigos passaram a viver em conjunto em apenas uma casa, impossibilitando o distanciamento social.
Nestes casos, a recomendação dos especialistas é a vacinação da população, que já está sendo oferecida pelas prefeituras na maioria dos abrigos espalhados pelo Estado.
Superlotação das emergências
Anualmente, os pronto-atendimentos e emergências dos hospitais gaúchos enfrentam problemas com a superlotação nesta época do ano. Casos leves e graves de doenças respiratórias são comumente encontrados nas salas de espera dessas instituições de saúde. Por isso, a prefeitura de Porto Alegre, a SES/RS e alguns hospitais da Capital já estão se organizando para o possível aumento no número de casos.
— Nós ampliamos o atendimento na cidade através das carretas de saúde e ampliamos o funcionamento de cinco unidades durante os finais de semana. Os hospitais de campanha também dão suporte às unidades de pronto-atendimento. Mas, antes disso tudo, uma das nossas maiores preocupações foi com a vacinação — conta a diretora da atenção primária da Secretaria de Saúde de Porto Alegre, Vânia Frantz.
A SES/RS também avalia que os cenários excepcionais decorrentes do desastre climático propiciam o aparecimento de doenças infecciosas respiratórias. A vigilância estadual faz o monitoramento contínuo e sistemático dos dados relacionados aos vírus respiratórios e disponibiliza tratamento para grupos de maior vulnerabilidade.
O Hospital Moinhos de Vento, por exemplo, informou que o Serviço de Emergência está com protocolos específicos para atendimento aos pacientes com doenças respiratórias. Entre as ações, estão a ampliação da rede de atendimentos conforme classificação de risco, priorização de pacientes graves, interface com a telemedicina para acompanhamento pós-alta, além da disponibilidade de exames e rede de ambulatório de baixa complexidade para assistência aos casos de menor gravidade.
Gustavo Chatkin, pneumologista do São Lucas, faz uma recomendação:
— É importante ressaltar que não é em todo o caso que devemos procurar as emergências. Em um primeiro momento, a pessoa pode procurar o recurso primário, indo em um pronto-atendimento, no posto de saúde ou marcando uma consulta com seu médico. Se o caso for mais grave, a pessoa estiver com uma febre alta que não diminui ou com muita falta de ar, por exemplo, aí pode ir para emergência.