Diante da diminuição das temperaturas, o principal agente causador de doença respiratória que implica na hospitalização de crianças volta a ganhar destaque em emergências pediátricas. Conhecido por profissionais da área pelo protagonismo nos meses de frio, o chamado vírus sincicial respiratório (VSR) afeta com maior gravidade os menores de dois anos, sobretudo prematuros e aqueles com alguma condição cardíaca ou pulmonar crônica.
Francisco Isaias, diretor adjunto de Atenção Hospitalar e Urgências da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Alegre, afirma que a Capital está enfrentando uma onda de infecções por esse vírus, o que já tem reflexo nos hospitais. Segundo ele, cerca de 55% das internações de crianças pequenas por síndrome respiratória no município atualmente são causadas pelo VSR.
Um alto número de casos costuma ser registrado entre maio e setembro, com pico ainda maior de junho a agosto. Mas, na última década, a presença do vírus tem se estendido de março a novembro, aponta João Carlos Santana, chefe da Unidade de Emergência Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), onde a superlotação decorrente de doenças respiratórias começou em abril. O especialista garante que dois terços das crianças que ficam internadas na emergência estão infectadas pelo VSR, todas em uso de oxigênio.
— A principal doença que esse vírus causa é a bronquiolite viral aguda e, hoje, a superlotação das emergências é causada especialmente por ele. Em 2020, durante os três meses de inverno, internamos só 12 pacientes com bronquiolite. No ano anterior, no mesmo período, foram 180. Agora, a tendência é internar muito mais. Não está só superando os números de antes da pandemia, mas também tem apresentado quadros mais graves — informa Santana.
Características do vírus
O VSR é um vírus que afeta o trato respiratório, principalmente das crianças, e tem capacidade de causar quadros mais graves em determinados pacientes. Fabrizio Motta, supervisor médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, destaca que prematuros, menores de dois anos e crianças com doenças cardíacas ou pulmonares crônicas fazem parte do grupo de risco.
— Em menores de dois anos temos uma gravidade maior, porque o vírus acaba acometendo não só a via aérea superior, como também o pulmão, causando uma infecção pulmonar. Esses casos geram bronquiolite ou pneumonia viral. Então, crianças nessa faixa etária são mais suscetíveis a quadros graves e têm risco maior de necessidade de internação em Unidade de Terapia Intensiva — explica.
O especialista aponta que é comum ver as emergências pediátricas lotadas nesta época do ano, muito pelo vírus sincicial respiratório, mas também por outros vírus que atingem as células respiratórias e causam infecções parecidas, como o adenovírus, o vírus da gripe (influenza) e o parainfluenza. Na Santa Casa, já foi possível notar nas últimas semanas um aumento no número de casos tanto do VSR quanto do adenovírus e influenza, diz Motta.
Adultos também podem ser infectados pelo vírus sincicial respiratório, mas quase sem repercussão. A exceção fica por conta de pessoas com algum grau de imunodeficiência, como pacientes oncológicos, ou doença pulmonar crônica, que podem ter uma evolução mais grave.
Sintomas e sinais de alerta
De acordo com João Carlos Santana, somente 10% das crianças com bronquiolite costumam precisar de atendimento em hospital, ou seja, o vírus atinge de forma leve a maioria dos infectados. Nesses casos, os sintomas são parecidos com os da gripe (tosse, febrícula, coriza e secreção) e tendem a passar no quinto dia.
Já quem precisa de atendimento médico pode apresentar uma dificuldade respiratória progressiva, com falta de ar e chiado. No hospital, algumas precisam de oxigênio ou, até mesmo, de um respirador. Entre essas crianças, 10% também podem precisar de leito em UTI, afirma o chefe da Unidade de Emergência Pediátrica do HCPA.
— É uma doença respiratória que pode ter uma evolução tranquila, como na maioria dos casos, mas também pode ser bem grave. Em crianças menores e prematuros é bem pior, porque quanto menos musculatura tiver e mais nova for, mais complicada é a resposta do organismo à infecção do vírus — enfatiza Santana.
— Recém-nascidos podem ir para a UTI e alguns casos resultam em óbitos. Além disso, em determinadas vezes, depois de curados, podem desenvolver uma doença pulmonar crônica como sequela do VSR — acrescenta Fabrizio Motta.
Por isso, há sinais de gravidade aos quais os pais e responsáveis devem ficar atentos. Entre eles, estão: unhas e lábios roxos, extremidades frias, dificuldade respiratória (respiração curta/frequência respiratória aumentada), chiado, falta de ar associada ao cansaço ao falar (não conseguir falar frases inteiras, por exemplo) e retrações na fúrcula, entre as costelas e logo abaixo delas.
Transmissão e prevenção
Segundo o infectologista da Santa Casa, o vírus sincicial respiratório é transmitido principalmente pelo contato próximo. No caso das crianças, a transmissão pode ocorrer ao brincarem juntas e compartilharem objetos contaminados por secreções, por exemplo. Desta forma, a melhor forma de prevenir a contaminação é manter o distanciamento físico de pessoas que apresentem sintomas virais e lavagem frequente de mãos. Motta Motta complementa que, atualmente, está em estudo uma vacina contra o VSR.