Há algo que por vezes fica oculto na rivalidade da dupla Gre-Nal, tão enraizada na rotina do Rio Grande do Sul: o fato de haver em Porto Alegre duas instituições de enorme tamanho, Grêmio e Inter, que têm como casas estádios de padrão altíssimo, chamadas arenas multiuso, que, além de jogos de futebol, podem servir de palcos para grandes espetáculos.
Se em 2015 Zero Hora usou o show da banda Foo Fighters no estacionamento da Fiergs para questionar "Por que os shows em Porto Alegre não são na Arena e no Beira-Rio?", em 2019 a realidade é outra: os dois estádios se consolidaram como os principais espaços para espetáculos com grandes plateias na cidade.
Desde 2013, quando estreou seu palco de shows com Roberto Carlos, a casa gremista já recebeu nomes como Ed Sheeran, Pearl Jam, Katy Perry, Shakira, David Gilmour e Coldplay. Já o estádio colorado serviu de palco, desde sua reinauguração após a reforma, em 2014, para nomes como Paul McCartney, Rolling Stones, Roger Waters, Bon Jovi, Elton John, The Who, Phil Collins e Guns N’ Roses – além do próprio Foo Fighters no seu retorno à Capital.
Se essa migração pode ser explicada pelo processo de adaptação das produtoras – locais, nacionais e mesmo internacionais – a esses novos espaços, também pesa a capacidade de adaptação de ambos os estádios para diferentes propostas: além de shows para mais de 50 mil pessoas, usando todo o espaço das arenas, há a possibilidade de realizar apresentações menores no formato anfiteatro – e, no caso da Arena gremista, da esplanada, espaço externo do estádio muito usado para festivais, principalmente de música eletrônica.
– O fato é que Porto Alegre é privilegiada nesse sentido. Possuímos duas arenas do mais alto nível para shows internacionais – avalia Gustavo Sirotsky, diretor da Maia Entretenimento, explicando que as bandas normalmente não tratam sobre o local específico em que querem tocar, mas sim na quantidade de público.
A negociação dos espaços fica por conta da produtora envolvida.
Se em 2018 o Gre-Nal musical parece ter sido vencido pelo Inter, que recebeu cinco shows internacionais (Phil Collins, Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Andrea Bocelli e Roger Waters), a Arena parece ser a favorita em 2019. Depois de Ed Sheeran, nos próximos meses a casa gremista deverá receber Sandy e Junior, Iron Maiden e a reunião de sertanejos do Amigos 20 Anos.
Calendário esportivo é primeiro fator de escolha
Mas, tendo essas duas opções, como produtoras fazem para escolher qual estádio utilizar? O primeiro fator é o calendário. Estádios são feitos, primeiramente, para receber jogos de futebol. E, dado o sucesso dos dois times nos últimos anos, são muitas as partidas, o que ajuda a restringir as possibilidades – Grêmio e Inter disputam, em 2019, Campeonato Gaúcho, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa Libertadores da América.
Superada essa questão – que normalmente é decisiva na escolha –, há outros pontos. Enquanto o Beira-Rio fica localizado numa região central, com duas avenidas em seu entorno, a Arena oferece mais variedade na hora de montar o palco. Mas são detalhes.
– Cada produtor tem suas preferências. Eu trabalho com backstage, usando muito os vestiários como camarins. Neste sentido, o Beira-Rio é mais adaptável. Na Arena, as coisas são mais distantes entre si. Por outro lado, a Arena tem um clima, realmente, de arena de espetáculos, o que causa um calor humano impressionante, o que é interessante para o público – avalia Bruno Melo, sócio da produtora Traga Seu Show e produtor atuante na montagem de shows como Paul McCartney, Coldplay, Guns 'N Roses e Roger Waters.
O valor pago para alugar cada estádio também não parece ser determinante. Segundo produtores consultados pela reportagem, não há diferença expressiva no preço dos dois estádios – o valor varia conforme a estrutura envolvida. No Beira-Rio, o custo vai de R$ 40 mil a R$ 380 mil, dependendo da formatação (estádio inteiro, anfiteatro, anfiteatro ampliado, festa-show, festival), informa a Brio, empresa parceira no Inter na gestão do estádio – faturamento ampliado com o estacionamento e o comércio, em especial, de comida e bebida. Na Arena do Grêmio, o custo de locação oscila entre R$ 35 mil e R$ 350 mil.
Outra questão também é consenso: a escolha dos lugares tem muito pouco a ver com futebol.
– Inter e Grêmio são players gigantes da cidade, comercialmente muito semelhantes. Ambos são perfeitos na qualidade do serviço e no atendimento a produtoras e ao público. Provavelmente, a preferência recente pela Arena tem a ver com agenda ou com adaptação do palco a várias capacidades de público – diz Cicão Chies, sócio-diretor da produtora DC Set, que realizou recentemente no estádio gremista shows de Shakira e Coldplay.