Em apenas um dia de monitoramento, o Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da UFRGS registrou 55 animais mortos na faixa de areia entre Dunas Altas, em Palmares do Sul, e Tramandaí, no Litoral Norte. O número é considerado alto para o período e se justifica pela direção do vento, que trouxe as carcaças em diferentes estágios de decomposição do mar para a beira da praia.
Maurício Tavares, biólogo do Ceclimar e doutor em Biologia Animal, explica que o monitoramento sistemático do litoral gaúcho é realizado desde 2012 e que os dados registrados em todos esses anos mostram que a quantidade de animais identificados na terça-feira (14) está acima da média. Entre os bichos encontrados no trecho de 50 quilômetros, estavam 26 tartarugas marinhas, quatro golfinhos e 25 aves de diferentes espécies.
O especialista comenta que, nessa época do ano, é comum que mais tartarugas e toninhas (espécie de golfinho ameaçada de extinção) morram, devido à interação com a intensa atividade pesqueira na região. No entanto, as prefeituras também costumam recolher as carcaças com maior frequência — o que faz com que a quantidade encontrada chame ainda mais atenção.
O máximo que registramos em uma saída durante janeiro para este trecho foi 28 animais encalhados. Às vezes tem uma quantidade (mais alta) de bichos que encalharam durante a semana, mas como a prefeitura e os guarda-vidas retiram todos os dias no verão, quando eu passo para fazer o monitoramento geralmente não tem quase nada
MAURÍCIO TAVARES
Biólogo do Ceclimar e doutor em Biologia Animal
O alto número de bichos encontrado também pode ser explicado pela predominância do vento maral na região nos últimos dias, ressalta Tavares. Isso porque as rajadas vindas do mar em direção à faixa de areia favorecem o encalhe de animais na beira da praia. Não significa, portanto, que todos esses animais morreram no mesmo dia.
— Eles vão morrendo no mar por causas antrópicas ou causas naturais e começam a se decompor e a estufar. Então, acabam flutuando, derivando na água. E o vento maral favorece o encalhe, mas as carcaças estavam em diferentes estágios de composição, não encalharam todas juntas — aponta o biólogo, destacando que o local onde o animal é encontrado não é necessariamente o mesmo lugar onde morreu.
Tavares também comenta que o monitoramento do Ceclimar é sistemático entre as localidades de Itapeva, em Torres, e Dunas Altas, em Palmares do Sul. O trecho totaliza 130 quilômetros de extensão é dividido em duas áreas: norte (Imbé-Torres) e sul (Tramandaí-Palmares do Sul). A cada semana um dos trechos é percorrido.
O trabalho consiste em registrar a espécie encontrada, documentar com imagens e anotar dados referentes às coordenadas geográficas e à carcaça do animal. Quando localizam animais em estágios mais iniciais de decomposição, as equipes por vezes também coletam amostras para trabalhos de pesquisa.