Logo depois do amanhecer ou ao final do dia, uma cena rara até alguns anos atrás se tornou frequente em muitas praias do Litoral Norte. Pessoas segurando uma longa haste, que termina em uma espécie de prato redondo, balançam a geringonça à esquerda e à direita enquanto caminham vagarosamente sobre a areia ou no limite da água do mar.
Geralmente acompanhadas por mais alguém munido de uma pequena pá, são adeptos do "detectorismo", prática que consiste no uso de detectores de metal para tentar encontrar objetos de valor perdidos à beira-mar. Parte dos praticantes procura pequenos ou grandes tesouros a fim de complementar a renda, enquanto outros buscam apenas passar o tempo.
Dependendo da sorte e da técnica, encontram desde tampinhas de garrafa e parafusos até objetos de ouro. Em Tramandaí e Capão da Canoa, Zero Hora observou pelo menos seis praticantes em diferentes horas do dia ao longo de uma semana.
O aposentado Paulo Ferreira Carvalho, 65 anos, tem 19 gramas de ouro acumulados ao longo dos últimos meses — principalmente alianças perdidas na areia da praia de Tramandaí. Sua meta é somar 40 gramas, derreter os achados e fazer duas correntes douradas, para um neto e uma neta. O valor final dependeria do grau de pureza dos materiais encontrados, mas pode representar algo em torno de R$ 20 mil.
— Comecei, cinco anos atrás, para superar a dependência do álcool, ter uma atividade. Não faço isso para revender — conta Carvalho.
Como muitas pessoas que resolveram a se dedicar ao chamado "detectorismo" desde então, foi estimulado por vídeos de internet publicados por caçadores de tesouro revelando terem achado preciosidades. Mas nem sempre é assim.
— Houve uma explosão de gente fazendo detectorismo nos últimos anos, mas uma parte acaba frustrada, e nem todo mundo continua — avalia o aposentado.
Se não fosse um hobby, os amigos Wensley da Silva Santos, 27 anos, e Stephany Rezende, 26, já teriam descartado o detector há algum tempo. Na sexta-feira (10), abriram o saco plástico com o que haviam recolhido à beira-mar após algumas horas de caça: pregos, parafusos e tampinhas de garrafa enferrujados, um pedaço de fiação elétrica, um isqueiro e um pequeno circuito eletrônico.
— Ela já pratica há algum tempo, eu estou começando agora por influência das redes sociais. Não é pra ficar rico, é mais para se distrair, tipo "o que será que vamos achar hoje". É pela experiência — esclarece Santos.
Ajuda para veranistas
O objeto de maior valor, um pequeno anel de ouro, foi encontrado a pedido de uma menina de 10 anos que havia recém perdido item valioso.
— Achamos e devolvemos. Ela ficou bem feliz — complementa Stephany.
Carvalho também já achou e devolveu uma aliança a um marido que estava desesperado:
— O homem disse que a mulher dele iria ficar muito braba se ele perdesse a aliança. Consegui achar. Outra vez encontrei um iPhone e também devolvi.
Objetos curiosos
O motorista João Carlos dos Santos, 48 anos, iniciou na atividade há dois anos. Tem um canal no YouTube, mas só sai à caça de preciosidades nas horas vagas, por vezes acompanhado pelo cunhado, Edvaldo Ardenghi, 42 anos. Comprou seu equipamento por cerca de R$ 5 mil.
— Cada aliança de ouro pode valer R$ 800, R$ 1 mil. O que mais se encontra de valor é anel, brinco, moeda. Mas até óculos e dentadura já encontrei — revela um dos muitos caçadores de tesouros do litoral gaúcho.