No início de 2013, quando a Arena do Grêmio recebeu show de Roberto Carlos, a expectativa era de que o novo estádio fosse um "espaço para megaespetáculos". Os responsáveis pelo novo Beira-Rio previam que o campo seria "palco de grandes espetáculos". Então por que Porto Alegre teve que botar uma das grandes bandas de rock do mundo, o Foo Fighters, para tocar em um estacionamento nesta quarta-feira?
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Para especialistas, as explicações giram em torno da falta de público para lotar um estádio e do custo-benefício para alugar uma arena.
- Em um estádio cabem 50 mil pessoas. Se tu levar um show para lá e vender 15 mil ingressos, fica feio. A Fiergs é modular, dá para trabalhar com 15 mil, 20 mil e até 30 mil pessoas (como foi o caso do Foo Fighters, que lotou o espaço). No Estádio do Zequinha, outra opção, cabem cerca de 18 mil pessoas. Eu nunca vou pegar um show em que eu acho que vão 20 mil pessoas e botar num espaço para 50 mil, porque o custo de um estádio é muito maior - explica Lucas Giacomolli, diretor da Hits Entretenimento, que fez os shows de Aerosmith e Guns N' Roses na Fiergs.
Ainda que tudo dependa de negociação, calcula-se que o aluguel do Beira-Rio ou da Arena para um show fique entre R$ 200 mil e R$ 500 mil, enquanto, na Fiergs, não passa de R$ 200 mil, podendo sair por até R$ 100 mil, segundo empresário do setor ouvido por Zero Hora. Fora isso, um estádio tem mais custos no que diz respeito a segurança, cobertura do gramado e estrutura. Se não há certeza de lotação, não faz sentido alugar.
- Os estádios têm que entender que a receita proveniente do show não vai vir do aluguel do espaço. O grosso vem do estacionamento, bar, comidas, camarotes etc. É o modelo de qualquer arena nos EUA, por exemplo. Só que no Brasil gastaram milhões e não pensaram nisso. O modelo de receita é diferente, possivelmente o aluguel da Fiergs é infinitamente menor que de um estádio em Porto Alegre. Só isso inviabiliza qualquer show em estádio, a não ser que seja o show do Paul - avalia o produtor Jonathas de Vargas, que hoje mora em Los Angeles.
O jornalista Marcelo Ferla, crítico e consumidor de shows há décadas, concorda com Jonathas.
- Porto Alegre não tem demanda para grandes shows. Não há muitas bandas do tamanho do Foo Fighters para fazer show aqui, então não tem como abrir uma casa só para isso. Tem umas cinco bandas que lotam o Beira-Rio e, se tu for pensar bem, bandas do tamanho do Foo Fighters não fecham outra mão. É uma cidade com 2 milhões de pessoas, com um poder aquisitivo ok, pouco poder de patrocínio.
Porém, todos concordam que, ainda que o local não seja perfeito, problemas com o som são inaceitáveis.
- A questão é o nível de exigência da Fiergs. Por que é tão problemática com o som? - questiona-se Ferla.
De acordo com o professor de Economia da Cultura da UFRGS Leandro Valiati, um mercado com mais produtoras ajudaria a trazer mais eventos para a Capital, atingindo um público maior com menos custo. Segundo ele, isso também justificaria mais investimentos públicos e privados em infraestrutura, também um problema clássico da Fiergs:
- Do jeito que está, fica o velho pacto de pequeneza: shows de nicho para um público pequeno e elitizado, que é mal atendido. Subsídios bem colocados pelo governo e rompimento de monopólios ajudariam.
Procurada pela reportagem, a Fiergs informou que não vai se manifestar sobre o assunto. A T4F, produtora do show do Foo Fighters em Porto Alegre, não atendeu a reportagem.