Rock and roll is here to stay cantou Neil Young em Hey Hey, My My, e a banda Big Star em Thirteen, ambos nos anos 1970. Em uma livre tradução, o lema presente nas duas músicas indica que o rock está aqui para ficar. No entanto, o slogan pode estar equivocado. O rock já não figura mais nem entre as cem músicas mais tocadas nas rádios do Brasil, tampouco nas listas das faixas mais ouvidas pelos nos serviços de streaming, como Deezer e Spotify. Também não está presente entre os vídeos musicais mais assistidos no YouTube. A ausência se estende para as listas globais. A fábrica da guitarra Gibson luta contra a falência, e os jovens não parecem se empolgar com um gênero cujos principais artistas estão na faixa etária da meia-idade para cima – Dave Grohl, por exemplo, tem 49 anos. Apesar do cenário desfavorável, o show o que o Foo Fighters realizou neste domingo (4), no Estádio Beira-Rio, deixou o público desejando que o rock renasça com força total, para ter mais oportunidades de presenciar guitarras e baterias pesadas, gritos e explosões. Foi basicamente isso que Grohl e sua trupe entregaram para 30 mil pessoas em Porto Alegre.
As duas bandas se apresentaram pela segunda vez em Porto Alegre: Queens of the Stone Age fez o Pepsi on Stage tremer em 2014, enquanto Dave Grohl e cia realizaram uma boa performance em 2015, na Fiergs, que foi ofuscada por problemas de som e estrutura. Os dois grupos encerraram sua turnê conjunta pelo país no Beira-Rio. Antes de Porto Alegre, na semana anterior, tocaram no Rio de Janeiro, em São Paulo (duas vezes) e em Curitiba.
Para Grohl, Porto Alegre encerrou de maneira especial a turnê do Foo Fighters pelo país.
– Este é o melhor público que tivemos nos cinco shows pelo Brasil – garantiu o líder da banda durante a apresentação.
Quem está aquecendo o público brasileiro para o QOTSA e o Foo Fighters é a banda Ego Kill Talent, que tem como vocalista Jonathan Corrêa, ex-vocalista da Reação em Cadeia. Com influências de Pearl Jam, A Perfect Circle e Alice in Chains, o grupo voltou a ter uma boa recepção do público em sua curta apresentação, como ocorreram nas outras quatro oportunidades pela turnê no país.
Forte e dançante
Durante uma hora e vinte minutos, Queens of The Stone Age realizou um show forte, direto ao ponto, com muito peso e, muitas vezes, dançante. A banda comandada por Josh Homme deu uma amostra de toda a sua discografia tocando hits como Make It Wit Chu, No One Knows, Little Sister, mas também apresentou faixas do Villains, disco lançado ano passado, como Feet Don't Fail Me e The Way You Used to Do. A épica A Song for the Dead encerrou a apresentação de maneira apoteótica, com toda a banda esmerilhando seus instrumentos. Porém, faltou mais conexão com o público, que, em sua maioria, estava lá para ver o grupo liderado por Grohl.
A atração principal da noite era o Foo Fighters, que subiu ao palco às 21h e realizou um show com muita entrega de seu líder, Dave Grohl, em sintonia perfeita com o público. Durante duas horas e meia, a banda tocou as principais músicas de sua trajetória. Estavam lá hinos como Learn to Fly, All My Life, Everlong, Walk, The Pretender e Best of You, que proporciona a deixa para o público cantar "ooh" em coro. Grohl dedicou algumas canções dos anos 1990 para os fãs mais antigos da banda, casos de Generator, Big Me e This Is a Call.
No começo de Breakout, Grohl e cia deixaram o Beira-Rio cantar o refrão por eles, sem instrumentos. O efeito foi parecido com de uma torcida organizada, com os fãs cantando a plenos pulmões – um dos pontos altos da noite.
Do último disco, Concrete and Gold, o grupo apresentou faixas como Run, logo na abertura do show, e The Sky Is a Neighborhood, que ganhou um flashmob do público: os fãs ligaram a luz de seus celulares para simular um céu estrelado. A ação se repetiria em outros momentos, como em My Hero e These Days.
Algumas músicas apresentadas pelo Foo Fighters costumam ter suas durações esticadas em jam sessions, como The Pretender e Rope, esta última com solo de Taylor Hawkins enquanto sua bateria era elevada no palco. Aproveitando que estava no alto, o baterista dividiu os vocais com o líder da banda em Sunday Rain, do último disco. Também há os falsos finais: parece que a música terminou, mas é um mote para Grohl incendiar os fãs e retomar o refrão com mais força.
Covers
Como costuma acontecer nos shows do Foo Fighters, houve um momento para os integrantes serem apresentados em meio a covers: o guitarrista Chris Shifflet foi o vocalista no cover de Under My Wheels, do Alice Cooper.
O pianista e tecladista Rami Jaffee tocou Imagine, de John Lennon, e, em cima desses acordes, Grohl cantou Jump, do Van Halen. Ao citar que Pat Smear, a banda tocou Blitzkrieg Bop, dos Ramones, promovendo mais roda punk no público – algo que foi constante durante o show.
Antes do carismático baterista Taylor Hawkins ser anunciado, o público gritou o nome do instrumentista, que lacrimejou seus olhos. Grohl declarou que Taylor é o "amor de sua vida". O baterista começou a cantar Love of My Life, do Queen, acompanhado pelo Beira-Rio. Em seguida, ele trocou de lugar com Grohl, que assumiu as baquetas, para cantar Under Pressure, outro cover do Queen.
Ainda há rock
Dave Grohl é carismático e enérgico, se movimenta bastante por todo o palco. Tamanha a entrega, que já na segunda música, All My Life, estava completamente suado. É incansável: corre, grita e toca durante duas horas e meia, sem demonstrar qualquer sinal de cansaço. É como se depois de Everlong, última canção da noite, o músico de 49 anos estivesse pronto para outras duas horas e meia de show.
Ele está ali para defender o rock, como faz questão de frisar:
- Vocês querem rock? Nós vamos tocar rock a noite toda.
Não se sabe o que vai ser do rock, se um dia irá ter o mesmo apelo de outrora, mas uma pista pode estar em uma cena presenciada pela reportagem durante a execução de Monkey Wrench. No final da música, um pai de meia-idade e seu filho adolescente saíram juntos de uma roda punk que acabaram de encarar. Extasiados, os dois se abraçaram.