Projetado como vocalista do Reação em Cadeia, banda gaúcha que encerrou as atividades em 2016, Jonathan Corrêa agora tem rodado o mundo e se apresentado nos palcos de grandes festivais, como o Rock in Rio, cantando pelo Ego Kill Talent. Fundada em 2014, i grupo lançou seu disco de estreia no ano passado, que leva o nome da banda, além de contar com os EPs Sublimated (2015) e Still here (2016).
Além de Jonathan, a Ego Kill Talent é formada por Jean Dolabella (bateria e guitarra), Niper Boaventura (guitarra, baixo), Raphael Miranda (bateria e baixo) e Theo Van Der Loo (baixo e guitarra). São músicos que revezam o uso dos instrumentos, com exceção do vocal. Por exemplo: Dolabella, ex-integrante do Sepultura, toca bateria e guitarra; Raphael, também é baterista, mas pode ceder o instrumento para Dolabella e ir para o baixo, entre outras combinações.
Ego Kill Talent foi escolhida para abrir a turnê brasileira de Foo Fighters com Queens of the Stone Age, composta por cinco shows: Rio, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, que será realizado neste domingo. Jonathan conversou por telefone com GaúchaZH no dia seguinte ao primeiro show de São Paulo (última terça-feira, 27), enquanto se preparava para a segunda apresentação (quarta, 28), no Allianz Arena. Na entrevista, falou sobre o momento da EKT, sobre o rock no Brasil e sobre sua ex-banda, Reação em Cadeia.
Já está recuperado de ontem? Como foi o show no Allianz Arena?
Estou pegando leve (risos). Foi incrível! Galera chegou cedo, um público relativamente grande para o horário, que foi receptivo para caramba. Cantaram junto. É bem impressionante, por sermos uma banda relativamente nova, com quatro anos, que canta em inglês. Assim também foi no Maracanã (show realizado no último domingo, 25), que teve a mesma pressão. A receptividade tem sido muito boa.
Vocês já tocaram no festival chileno Santiago Gets Louder com o Megadeth e abriram para o System of a Down na França. Também já marcaram presença no Rock in Rio e agora acompanham a turnê brasileira do Foo Fighters. O que há na som da banda que consegue transitar por públicos diferentes?
Flertamos com vários estilos diferentes dentro do rock. Trazemos todas as referências daquilo que a gente gosta. Nós ouvimos coisas que vão desde passam por A Perfect Circle, Pearl Jam, Foo Fighters e chegam ao Tigran Hamasyan, pianista armênio. São vários extremos. Não temos uma fórmula pronta. Em algum momento a gente se aglutina e acaba trazendo esses elementos para dentro do som, que nos faz conseguir tocar tanto em um festival mais pesado de metal, na Bélgica, como o Glaspop, mas também a gente pode tocar em um festival um pouco mais democrático, que nem o Lollapalooza. Acho que tem este crossover justamente porque temos um elemento mais pop dentro da música, ao mesmo tempo que é conduzido por guitarra e bateria pesadas.
Como você definiria a sonoridade de vocês?
É difícil. Eu acho que a gente se coloca como uma banda de rock. É rock, simplesmente. Não conseguimos nos definir.
Como você entrou na banda?
Eu estava gravando o segundo disco do Reação em Cadeia, em 2003, no Rio de Janeiro, e conheci o Theo em um estúdio. Na época, ele tocava com o Raphael em uma banda chamada Saiwoa. Nos conectamos de imediato. As nossas conversas sempre foram as mesmas que temos até hoje: filosofia, religião, comportamento humano, psicologia. Na sequência, já conheci o Rapha. Eu e o Theo conversamos durante anos, e volta e meia nos encontrávamos. Até que em 2014 ele me liga me convidando para trocar uma ideia sobre a banda que ele estava montando. Fui para São Paulo e ouvi as demos que continham só a parte instrumental. Levei as faixas comigo e voltei com algumas ideias de melodia. Nós começamos a trabalhar em cima, e a coisa começou a acontecer.
Você também tem uma longa história com o Reação em Cadeia, que foi uma banda que conquistou fãs fervorosos ao longo da carreira. Como tem sido a recepção a recepção desses fãs ao Ego Kill Talent?
Tenho um apreço muito grande por toda a galera que gosta do trabalho da Reação. É legal porque tem gente que apoia muito e entende a minha escolha, o meu movimento. Mas tem ainda um pessoal que é muito saudosista, e eu entendo completamente, até porque sou fã de várias bandas, e quando acontecem os hiatos ou as paradas definitivas, isso mexe com a gente. Tem fãs que ainda não conseguiram absorver. Tudo bem, é uma coisa que leva tempo. Mesmo assim, fico muito feliz que tenha uma grande parcela que está torcendo para caramba.
Gradativamente, o rock foi desaparecendo das rádios brasileiras e das listas das músicas mais tocadas no país, perdendo espaço para artistas de outros gêneros. É muito difícil apostar no rock no Brasil hoje em dia?
Esta dificuldade sempre existiu no Brasil. Desde a época com o próprio Reação: a gente estourou, foi gigante, fazia muito show e tudo, mas sempre foi difícil. O Brasil é um país que não tem o rock como meio de expressão musical principal. Não é a nossa onda. Tivemos grandes expoentes que faziam parte do movimento do rock, mesmo assim sempre foi uma coisa um pouco mais marginal. A dificuldade existe, e a gente tem que saber trabalhar dentro das possibilidades que temos. Temos encontrado formas de tentar propagar nossa música via streaming, uma vez que as rádios são menos acessíveis e tem menos espaços para o rock. O Spotify para a gente foi uma ferramenta muito importante, tanto que a gente chegou na Holanda no ano passado para fazer um show, e o público já estava cantando e vestindo a nossa camiseta. O streaming tem essa capacidade de fomentar a música do artista tanto no país de origem quanto lá fora. É uma questão da gente trabalhar mais, tentar se profissionalizar ao máximo. É uma batalha, com muita inspiração e transpiração. Existem muitos nichos de rock, e a galera ainda é sedenta. Acho que o rock tá sempre ali, marginal, mas sempre há pessoas colada nele.
Os principais artistas do rock estão envelhecendo. Por exemplo, Dave Grohl está beirando os 50 (tem 49 anos). Como o rock se conecta com as novas gerações e pode renovar seu público e artistas?
Nós vemos que os festivais estão tendo dificuldades para encontrar headliners. Como tu falaste, os caras estão envelhecendo: Pearl Jam, Foo Fighters e System of a Down. Já não há mais muitas bandas de rock que podem segurar a posição de headliner de um grande festival. O público ainda acompanha essas bandas porque na época todo mundo era novinho. Também dificulta essa falta de espaço que existe na mídia convencional. É um jogo de xadrez, uma sinuca de bico. Embora o streaming seja muito funcional, acho que o rádio tem um poder muito grande, pelo menos dentro do Brasil. Eu vejo tudo isso com muita esperança ainda, pois tem muita banda nova chegando, grupos incríveis lá fora e aqui dentro.
Cantando em inglês, o objetivo da banda é uma carreira internacional?
A escolha do idioma inglês para cantar foi uma opção puramente estética. Até porque as referências que nós temos, o que ouvimos e gostamos, são bandas que cantam em inglês. Lógico que escutamos muito artista brasileiros, mas a nossa escolha foi nesse caminho artístico, o que acaba colaborando com essa questão de facilitar o transporte da música para fora.
Quais são os planos da banda para 2018? Disco novo?
Estamos com single novo para lançar, que foi gravado perto do final do ano passado. Não tem uma data prevista para sair, mas acreditamos seja neste primeiro semestre. Já estamos trabalhando em músicas novas para o próximo disco, temos algumas ideias já em pré-produção, mas tudo ainda é muito seminal. Não sabemos ainda quando vamos entrar em estúdio, talvez no segundo semestre. Temos muita turnê para fazer ainda. Vamos para o Chile para fazer o Lollapalooza com o Pearl Jam. Faremos mais um show por lá, no Hard Rock Cafe. Depois faremos o Lolla no Brasil e iremos para a Europa, onde tocaremos na Bélgica, no festival Glaspop, no festival Download, em Paris e Madrid. Haverá algumas apresentações em clubes que faremos na turnê. Estamos pensando em passar um mês e meio tocando pela Europa. Estamos pensando em ir para os Estados Unidos para gravar quando voltarmos, mas isso está em aberto na nossa agenda.
Você diria que este é o melhor momento da sua trajetória?
Não vou pontuar como melhor, mas posso dizer que é um dos top 5. Se eu falar isso, acabo não dizendo que vivi muita coisa legal com o Reação, coisas incríveis. O que o Rio Grande do Sul me trouxe de ensinamento e projeção, o que os fãs da Reação fizeram para mim, me construíram como artista e pessoa, essa evolução que percebo em mim, isso é muito importante. Com certeza eu estou realizando um sonho de poder fazer um som de rock cantado em inglês, isso sempre foi uma vontade minha. O que estou vivendo hoje é extremamente surreal, tanto que não consigo colocar em palavras. Em suma, diria que sim (risos).