Rio de Janeiro*
Se depender do que foi apresentado neste domingo (25), no Rio de Janeiro, o segundo show do Foo Fighters em Porto Alegre deve ser melhor que o primeiro em solo gaúcho, realizado em 2015. No Maracanã, Dave Grohl comandou uma apresentação apoteótica, digna do rock de arena. A banda retornou ao Brasil com a turnê do disco Concrete and Gold, lançado ano passado. Apesar do nono álbum do grupo ter tido uma recepção morna, suas faixas ao vivo funcionam muito bem. Também há outro diferencial antes de Grohl e companhia subirem ao palco: nesta turnê pelo país, eles estão acompanhados do enérgico Queens of The Stone Age.
Quem preparou o caminho para os dois grupos americanos foi a banda brasileira Ego Kill Talent, que tem como vocalista Jonathan Corrêa, ex-Reação em Cadeia. Com seu pós-grunge e stoner rock – as músicas são cantadas em inglês –, o grupo teve uma recepção positiva do público presente no Maracanã, que comprou a proposta da banda e vibrou durante as músicas apresentadas.
Assim como o Foo Fighters, o Queens of The Stone Age também veio ao Brasil com a turnê de seu disco mais recente, Villains, lançado ano passado. Porém, o que chamou mesmo os holofotes para o grupo recentemente foi o líder da banda, Josh Homme: ele chutou uma fotógrafa que registrava o show do QOTSA em Los Angeles, em dezembro. Primeiramente, Homme declarou que havia chutado luzes e equipamentos e só no dia seguinte teria descoberto que acertou a profissional. Porém, é possível observar no vídeo do incidente que o músico atinge a fotógrafa deliberadamente. Sua justificativa foi bastante criticada na web, e Homme precisou pedir desculpas mais enfáticas, alegando se sentir um completo idiota pelo que fez.
Polêmicas à parte, Homme e companhia fizeram um show impecável, que alternou momentos pesados, dançantes e até hipnóticos. A banda abriu com três faixas do disco ...Like Clockwork (2013): If I Had a Tail, Smooth Sailing e My God Is the Sun. Em seu repertório com 15 músicas, sem muita conversa, o QOTSA tocou as novidades do álbum mais recente, como Feet Don't Fail Me e The Way You Used to Do, e trouxe para o Maracanã clássicos como Go With the Flow, You Think I Ain't Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire e Little Sister.
Com seu stoner rock vibrante, o Queens of The Stone Age é aquela banda que faz o público sair do chão em várias músicas, que foi o que aconteceu no show do grupo em Porto Alegre, em 2014. Na apresentação do Rio, só o hit No One Knows provocou um êxtase maior nos 30 mil presentes. A banda encerrou sua potente apresentação com uma versão épica de A Song for the Dead, com os integrantes demonstrando virtuosismo e sintonia. Um dos pontos altos da noite.
De qualquer maneira, a atração principal era o Foo Fighters. Grohl e sua trupe abriram o show com Run, faixa do Concrete and Gold, que soa mais empolgante ao vivo que a versão de estúdio. Em seguida, All My Life fez o Maracanã explodir, como se fosse um gol. Learn to Fly manteve o ritmo, assim como The Pretender.
Por mais que se possa pensar que algumas músicas do Foo Fighters já saturaram de tanto que tocaram nas rádios ou trilhas de programas televisivos – casos de Times Like These e My Hero –, não adianta: elas se renovam completamente ao vivo e tornam a emocionar o público, como se fosse a primeira vez.
Todos os méritos para Dave Grohl, que tem um domínio de palco como poucos no planeta. Controla a banda e o público com destreza ímpar. Em uma de suas interações com os fãs, brincou:
– Vocês querem canções do primeiro disco? E do segundo? E do terceiro? É o quarto disco que vocês querem? Só temos três músicas boas nele, mas vamos tocá-las.
Uma parte do público levou cartazes com os dizeres "Ohh", para que fossem erguidos em Best of You como parte de um flashmob. Grohl reagiu bem-humorado:
– Obrigado por me mostrarem a letra da música. Isso é importante porque, às vezes, esqueço.
Carismático como o líder do grupo, o baterista Taylor Hawkins é uma espécie de vice-presidente do Foo Fighters. Ele trocou de lugar com Grohl, que assumiu as baquetas, para cantar Under Pressure, cover do Queen. Já o guitarrista Chris Shifflet foi o vocalista no cover de Under My Wheels, do Alice Cooper. Ao citar que Pat Smear tem sua origem no punk rock (ele já integrou o The Germs), a banda tocou Blitzkrieg Bop, dos Ramones.
No bis, que ocorreu após uns 10 minutos de paralisação, ainda teve espaço para mais um cover: Let There Be Rock, do AC/DC. O show foi encerrado com Everlong, que tradicionalmente costuma fechar as apresentações do Foo Fighters.
Em suas apresentações, o Foo Fighters costuma esticar suas músicas em jams: uma faixa de três minutos pode durar sete. Taylor e Grohl parecem conversar no palco por meio de bateria e guitarra. Muitas vezes a banda incendeia o público com sua técnica. Às vezes parece que a música terminou, mas é um mote para o líder da banda incendiar os fãs e retomar o refrão com mais força.
Por outro lado, um fã pode pensar que os covers e os tempos de jam poderiam dar espaço a outros clássicos do Foo Fighters no setlist, como Generator, Arlandria, Big Me, Bridge Burning, que não foram tocadas no Rio.
De qualquer maneira, um show do Foo Fighters é uma jukebox de hits, o que poderá ser conferido no próximo domingo (4), no Estádio Beira-Rio. Antes, o grupo liderado por Dave Grohl passará por São Paulo (terça-feira, 27 e 28) e Curitiba (sexta, 2).
* O repórter viajou a convite da Live Nation
Confira o setlist do Foo Fighters no Rio
- Run
- All My Life
- Learn to Fly
- The Pretender
- The Sky Is a Neighborhood
- Rope
- Sunday Rain
- My Hero
- These Days
- Walk
- Breakout
- Make It Right
- Under My Wheels (Alice Cooper cover)
- Another One Bites the Dust / Blitzkrieg Bop / Love of My Life (Músicas de: Queen / Ramones / Queen)
- Under Pressure (Queen cover)
- Monkey Wrench
- Times Like These
- Best of You
Bis
- This Is a Call
- Let There Be Rock (AC/DC cover)
- Everlong