"Uma noite para os livros de história, com certeza". Assim definiu Brian Kehew, técnico de instrumento do The Who, o show da banda em Porto Alegre, realizado na última terça-feira (26), no Anfiteatro Beira-Rio. Brian, que também atua como produtor musical e engenheiro, escreveu um texto relatando as suas impressões da apresentação na capital gaúcha para seu blog mantido no site oficial do grupo britânico. Ele apontou que o show de terça "certamente está entre as cinco melhores da era moderna do The Who".
No texto, Brian descreve Porto Alegre como "uma mistura complexa das classes pobres, ricas e operária". Ele ressaltou que a banda não é tão popular em POA como outras bandas e artistas que se apresentaram na cidade ao longo dos anos, citando Aerosmith, Bon Jovi e Paul McCartney. "Então sabemos que o show não será um dos maiores neste sentido. Mas, de alguma maneira, este show teve a possibilidade de ser algo grandioso", completa.
Brian comentou sobre o público da banda não ser tão grande em comparação ao Rock in Rio ("12 vezes maior"): "Não tinha muita gente, especialmente em um estádio enorme que detém muitas vezes esse tamanho. Para concertos de diferentes tamanhos (como o nosso), eles mudam a localização do palco para trabalhar com o tamanho da audiência. Estamos em um terço do campo, então vários milhares de pessoas estão de pé e ocupam o campo, e cerca de um número duplo enche os assentos nas arquibancadas do estádio".
O músico elogiou a performance do Def Leppard, destacando que a banda britânica de hard rock conseguiu reproduzir ao vivo o mesmo som produzido em estúdio.
Ao retomar seu comentário sobre o show do The Who em POA, Brian tachou a noite como "mágica": "Desde o primeiro momento, a noite foi completamente elétrica – mágica. Nada sutil sobre isso - esta foi uma das noites míticas que raramente conseguimos ver. Não apenas um show bom, ótimo - foi INCRÍVEL. Sempre há chances que algo dê errado, um aparelho quebre, uma voz falhe. Mas não em uma noite verdadeiramente mágica. A banda tinha facilmente 20 ou 30% a mais de energia do que o habitual, e tocou de maneira intensa e com uma qualidade excepcional. Roger (Daltrey, o vocalista) tem a capacidade de conquistar o público mais tímido, mas nesta noite ele teve a audiência em sua mão desde o início, e, nesta noite, eu o via sorrir tanto quanto nenhuma noite antes".
Para Brian, o público de POA era barulhento, mas não tanto quanto a audiência presente no show da banda na Cidade do México, em 2016. "Eles estavam num lugar fechado, o que ajuda", ressaltou. Porém, o músico escreveu que os fãs presentes no Beira-Rio era tão intensos como os mexicanos e ainda mais fisicamente ativos – "balançando os braços, pulando e cantando". "A banda certamente tocou melhor do que na Cidade do México, e alguns integrantes da equipe sentiram que foi o melhor show nos últimos 10 anos, talvez mais", relatou.
Brian continuou a elogiar a apresentação:
"Há poucos shows com tamanha força que eu vi desde que entrei para o grupo em 2002. Lembramos com carinho de um show privado no The Orpheum Theatre, em Los Angeles que pode ser um dos maiores que em qualquer década. Palacio de Deportes, em Madri, em 2006, também foi excepcional. E esta noite (Porto Alegre) foi neste nível, certamente está no top cinco dos melhores shows da era moderna do The Who".
A maioria das pessoas aqui nunca tinha visto essa banda antes, algumas tinham visto antes naquela mesma semana, e algumas vieram de outros lugares, usando suas camisas de turnês anteriores".
Após comentar particularidades dos integrantes e do repertório, Brian divagou sobre o que pode ter tornado o show em POA tão especial:
"É difícil dizer com certeza. Por um lado, esses públicos latinos (México, Espanha, Itália, Brasil) sempre responderam muito generosamente à música. Eles se divertem, têm menos inibição, e a música parece significar muito para as suas vidas. É uma alegria vê-los tão felizes. O som desse lugar era bom. Nós fizemos muitos shows para saber o que as pessoas gostam. (...) Foi um ótimo som ao ar livre, perfeito para a nossa música. A concha curvada da Arena ajudou a ricochetear as vozes da plateia de volta ao palco, fazendo com que parecesse quase tão alto quanto o público de um lugar fechado".
"Quaisquer que sejam as razões, foi maravilhoso e completamente divertido. Muitos momentos de surpresa e expressão poderosa também. Eu não acho que poderíamos ter escolhido algum lugar no planeta Terra que proporcionasse um evento mais positivo. Na verdade, este era O lugar para se estar naquela noite", encerrou.