Contra todas as probabilidades, Phil Collins, que há pouco retornou da aposentadoria anunciada em 2011, promoveu uma verdadeira festa dançante no Beira-Rio na noite de terça-feira (27). E fez isso sem levantar-se da cadeira. O cantor de 67 anos, que entrou no palco às 21h45min caminhando com a ajuda de uma bengala e passou o show inteiro sentado, provou que tem talento e vontade para vencer uma longa lista de problemas de saúde. Em sua estreia solo em Porto Alegre, o músico inglês fez um estádio inteiro balançar como se os anos 1980 não tivessem acabado.
Com 1h35min de duração, o show seguiu o roteiro da turnê Not Dead Yet à risca, inclusive nas piadinhas.
– Oi, Porto Alegre. Obrigado – saudou o astro. – Este é todo o português que eu sei – completou, em inglês.
Já na abertura do espetáculo, o público foi fisgado com Against All Odds (Take a Look at Me Now) e continuou cantando em coro a canção seguinte, Another Day in Paradise. A voz característica de Collins está em forma e, apesar de sentado, o cantor encontra maneiras de dançar: gira na cadeira, inclina o corpo para trás, bate o pé esquerdo no palco e levanta as mãos. Em suma, canta com todo o corpo.
Ao seu redor, no palco, 14 músicos se encarregaram de promover uma festa por si só, animada especialmente pelas coreografias dos quatro cantores de apoio e do quarteto de metais – que atende pelo nome The Vine Street Horns, grupo parceiro do músico na The Phil Collins Big Band, nos anos 1990. O naipe de sopros mostrou a que veio já na terceira música, I Missed Again, e fez bonito em Who Said I Would, na qual o canto de Collins dialogou com o trompete, o trombone e o sax.
O ritmo do show apenas foi reduzido para o dueto de Separate Lives, em que a cantora Bridgette Bryant interpretou a parte de Marilyn Martin. Nesse momento, o palco foi escurecido e decorado com pontos de luz, como um céu estrelado. Outro momento introspectivo veio com In the Air Tonight, que Collins intepretou com uma expressão grave no rosto junto da dramática guitarra de Daryl Stuermer (ex-músico de apoio do Genesis em turnês) e confiando na competente bateria de seu filho, Nic Collins, de 16 anos.
O Genesis, que há 40 anos tocou no Gigantinho, foi lembrado com três músicas: Throwing it All Away, Invisible Touch e Follow You, Follow Me – a última, acompanhada de fotografias e filmes antigos do grupo projetados nos telões. Collins voltou ainda mais no tempo com a ensolarada You Can't Hurry Love, dos Supremes, que o músico inglês transformou em um cover de sucesso em 1982.
A festa de Collins terminou com um trio de músicas animadíssimas: Easy Lover, Sussudio – quando o palco ganhou as cores do arco-íris e recebeu uma explosão de confete e serpentina – e Take me Home, no bis. Na plateia, multiplicavam-se sorrisos emocionados que respondiam à expectativa de Collins: fazer um show não apenas para ser visto, mas para ser vivido. De fato, a maioria ali tinha idade para lembrar dos anos 1980 e emocionar-se com a viagem ao passado.
The Pretenders aqueceu o público com hits roqueiros
Antes de Phil Collins, a banda The Pretenders aqueceu o público com um show mais roqueiro e marcado por muita interação com a plateia. A cantora Chrissie Hynde comandou o espetáculo vestida como um ícone punk: camiseta e calça preta, terno rosa, cinto de tachas e guitarra em mãos. A todo tempo conversava com o público, e não deixou de comemorar a ausência da chuva que, minutos antes da banda subir ao palco, caia com força máxima, a ponto de adiar a apresentação de 19h45min para 20h10min.
– A chuva não cai nos justos! – gritou Chrissie.
A cada vez que ouvia um pedido de música, a cantora fazia uma promessa em tom de brincadeira:
– Ah, voltarei no ano que vem para tocar isso.
O baterista Martin Chambers, outro membro original dos Pretenders, ao lado de Chrissie, também teve seu momento nos holofotes, seja jogando uma baqueta para cima (e deixando cair) ou forçando os músculos para mostrar a boa forma, apesar dos cabelos brancos. Já o tecladista falou um pouco de galês quando Chrissie identificou um conterrâneo dele na plateia.
O show, com cerca de uma hora, começou com uma novidade, Alone, e foi recheado de hits, como The Talk of the Town, Back on the Chain Gang, Brass in Pocket e Don't Get me Wrong. A plateia não se mexeu muito, mas cantou junto nos refrãos mais conhecidos, como o de I'll Stand by You. No cover de Bob Dylan, Forever Young, Chrissie soltou a voz para não deixar nenhuma dúvida que ainda se sente bem jovem aos 66 anos. O melhor momento ficou para o final, com Middle of the Road, em que a cantora tocou uma gaita de boca, e o público respondeu pulando, dançando, erguendo celulares e cantando os característicos "uu uu u uu uu".