O Dia do Orgulho LGBT+ é comemorado nesta sexta-feira, 28 de junho. A data foi escolhida para lembrar a revolta ocorrida em 1969, quando homossexuais estadunidenses reagiram à invasão do bar Stonewall Inn, em Nova York, pela polícia. Para celebrar, montei uma lista com filmes sobre lésbicas, gays, bissexuais e trans que estão disponíveis em plataformas de streaming.
São 21 títulos, todos premiados (ou pelo menos indicados) ao Oscar ou laureados nos festivais de Berlim e de Cannes.
Como qualquer lista, pode ter presenças ou ausências discutíveis. Faço questão de justificar uma dessas ausências, a de Azul É a Cor Mais Quente (2013).
1) 120 Batimentos por Minuto (2017)
Na França dos anos 1990, o grupo ativista Act Up se esforça para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da aids. O filme de Robin Campillo traz no elenco Nahuel Pérez Biscayart e Adèle Haenel (de Retrato de uma Jovem em Chamas). Ganhou o prêmio especial do júri e a Palma Queer no Festival de Cannes e seis troféus César, o principal do cinema francês. (MUBI)
2) O Beijo da Mulher-Aranha (1985)
Argentino naturalizado brasileiro, Héctor Babenco concorreu ao Oscar de diretor por esta adaptação de um romance do escritor Manuel Puig, também indicada nas categorias de melhor filme e roteiro e premiada na de ator (William Hurt). Na trama, dois prisioneiros dividem a cela numa cadeia da América do Sul. Um deles, Molina (Hurt), é homossexual e está preso por comportamento imoral. O outro, Valentin (Raul Julia), está encarcerado por motivos políticos. O primeiro narra ao segundo filmes inventados, cheios de suspense e mistério e de femmes fatales como a tal Mulher-Aranha do título (Sônia Braga). (Globoplay)
3) Carol (2015)
Cineasta celebrizado pela temática LGBT+ — dirigiu Velvet Goldmine (1995) e Longe do Paraíso (2002), por exemplo —, o estadunidense Todd Haynes assina este drama sobre uma mulher rica casada (Cate Blanchett, indicada ao Oscar de melhor atriz) e uma balconista (Rooney Mara, concorrente à estatueta de coadjuvante e premiada em Cannes) que se apaixonam na conservadora década de 1950. A trama é baseada em uma obra da escritora Patricia Highsmith. (Looke e MUBI)
4) Close (2022)
O filme do diretor belga Lukas Dhont ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e foi o concorrente da Bélgica no Oscar internacional.
Tem como personagem principal Léo (em ótima atuação do estreante Eden Dambrino), 13 anos, filho caçula de agricultores que cultivam flores e melhor amigo de Rémi (Gustav De Waele), que tem a mesma idade e estuda oboé para um dia, quem sabe, tornar-se músico. Os dois garotos não se desgrudam, passam o dia inteiro brincando, e de noite chegam a dormir abraçados. Mas não são namorados. Ou não importa se são ou não são, como disse o cineasta em uma entrevista. Este é um filme sobre como matamos a amizade entre meninos desde que eles são jovens. À medida que envelhecem e passam a lidar mais com as expectativas de masculinidade, os garotos se veem forçados a deixar de lado a ternura e a fragilidade e a abraçar a agressividade e a violência. (Netflix)
5) Dor e Glória (2019)
Semibiografia de Pedro Almodóvar, cineasta espanhol que abordou o tema da homossexualidade — de modo aberto, por vezes com humor, não raro com sofrimento — em filmes como Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e Má Educação (2004). Laureado como melhor ator no Festival de Cannes, Antonio Banderas encarna Salvador Mallo, um diretor de cinema em declínio que relembra sua vida, sua carreira e suas paixões desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 1960. No elenco, Penélope Cruz, como a mãe do personagem. Disputou o Oscar nas categorias de longa internacional e ator. (Disponível para aluguel em Apple TV e Google Play)
6) Felizes Juntos (1997)
Um dos mais aclamados cineastas contemporâneos, o chinês Wong Kar-wai mereceu o toféu de melhor diretor no Festival de Cannes por este filme sobre dois homens (Leslie Cheung e Tony Leung Chiu-wai) que fogem de Hong Kong para a Argentina. (MUBI)
7) Filadélfia (1993)
Não foi o primeiro filme sobre aids e homofobia a contar com um amplo lançamento nos cinemas americanos — esta honra é atribuída a Meu Querido Companheiro (1989), de Norman René. Mas o longa dirigido por Jonathan Demme ganhou mais projeção. Tom Hanks recebeu o Oscar como um advogado gay que é demitido de uma firma prestigiada por estar doente. Denzel Washington interpreta o advogado homofóbico que vai levar seu caso ao tribunal. Também venceu o Oscar de melhor canção — Streets of Philadelphia, de Bruce Springsteen, que tinha entre os concorrentes outra música do filme, Philadelphia, de Neil Young. (Max)
8) A Garota Dinamarquesa (2015)
Na Copenhague dos anos 1920, a artista Gerda Wegener (Alicia Vikander, Oscar de atriz coadjuvante) decide vestir de mulher o marido, Einar (Eddie Redmayne, indicado ao Oscar de melhor ator), para pintá-lo. Tem início uma transformação de Einar em Lili Elbe que culminará em uma das primeiras cirurgias de mudança de sexo na história. A direção é do britânico Tom Hooper. (Max)
9) Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)
Premiado com o Teddy (destinado a produções LGBT+) no Festival de Berlim, o filme de Daniel Ribeiro conta a história de um adolescente cego, Leonardo (Ghilherme Lobo), que tenta lidar com a mãe superprotetora ao mesmo tempo em que descobre mais sobre sua sexualidade. (Netflix e canal Telecine)
10) Me Chame pelo seu Nome (2017)
No verão italiano de 1983, Elio (vivido por Timothée Chalamet), 17 anos, passa seus dias transcrevendo e tocando música clássica, lendo e flertando com uma amiga. Até que conhece um estudante estadunidense mais velho, Oliver (papel de Armie Hammer). Dirigido por Luca Guadagnino, o filme valeu o Oscar de melhor roteiro adaptado para James Ivory, cineasta nonagenário que tem no currículo filmes como Maurice (1987), com Hugh Grant na pele de um universitário rico que, na Cambridge de 1909, confessa sua atração sexual pelo personagem título. (Netflix)
11) Milk: A Voz da Igualdade (2008)
Ativista, o cineasta estadunidense Gus Van Sant (o mesmo de Garotos de Programa, de 1991) fez um retrato do primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia, nos anos 1970. A cinebiografia de Harvey Milk concorreu a oito Oscar, incluindo melhor filme e diretor — venceu nas categorias de ator (Sean Penn) e roteiro original. (Canal Telecine)
12) Minhas Mães e Meu Pai (2010)
O filme de Lisa Cholodenko venceu o Globo de Ouro de comédia — embora não seja impreciso classificá-lo como drama — e concorreu a quatro Oscar, incluindo o de melhor filme. Annette Bening (indicada como melhor atriz) e Julianne Moore formam um casal de lésbicas que conceberam os dois filhos (Josh Hutcherson e Mia Wasikowska) por inseminação artificial. A curiosidade dos jovens em saber quem foi o doador do esperma para suas mães os faz encontrar o dono de restaurante Paul (Mark Ruffalo, que disputou a estatueta de ator coadjuvante). (Globoplay)
13) Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
Oscar de melhor filme — foi o primeiro com elenco todo negro e o primeiro LGBT+ a conquistar a estatueta —, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Mahershala Ali), o drama dirigido por Barry Jenkins acompanha três fases da vida do protagonista: criança, quando é apelidado de Little (Alex Hibbert), adolescente, quando se chama Chiron (Ashton Sanders), e jovem adulto, quando se apresenta como Black (Trevante Rhodes). Sua trajetória é acidentada, marcada pela negligência da mãe, pelo uso de drogas, pela pobreza, pela violência, pelo racismo estrutural e pelo preconceito — a sexualidade que o personagem está descobrindo e que mal compreende é rejeitada por sua comunidade. Como o emprego de três nomes indica, Moonlight é uma história sobre busca da identidade. Mas também é uma linda história de amor — sufocado e sofrido, mas que perdura e sobrevive. (Amazon Prime Video)
14) Priscilla, a Rainha do Deserto (1994)
A bordo de um ônibus batizado de Priscilla, duas drag queens — Anthony/Mitzi (Hugo Weaving) e Adam/Felicia (Guy Pearce) — e uma transexual, Bernadette (Terence Stamp), viajam pelo deserto da Austrália rumo a um show para o qual foram contratadas. Dosando humor, afeto e amargura, o filme de Stephen Elliot ganhou o Oscar de melhor figurino, tornou-se um clássico e, ao lado de Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar (1995), ajudou a popularizar as drag queens. (Amazon Prime Video)
15) Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
Vencedor do troféu de melhor roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes, o drama da francesa Céline Sciamma se passa em 1770, em uma ilha da Bretanha. Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora contratada para fazer o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), uma moça que acaba de ser retirada de um convento e está prometida pela mãe a um cavalheiro de Milão. Mas o que pinta é uma inflamante paixão entre artista e musa. (Canal Telecine)
16) O Segredo de Brokeback Mountain (2005)
Brokeback é o nome da montanha onde o vaqueiro Ennis del Mar (Heath Ledger) e o caubói de rodeio Jack Twist (Jake Gyllenhaal) vivem um romance secreto por quase 20 anos. Ganhou três Oscar (direção, para Ang Lee, roteiro adaptado e trilha sonora) e concorreu a outros cinco, incluindo melhor filme, ator (Ledger), atriz coadjuvante (Michelle Williams) e ator coadjuvante (Gyllenhaal). (Netflix)
17) Tatuagem (2013)
Em 1978, em Recife, um grupo de artistas liderado por Clécio Wanderley (Irandhir Santos) oferece espetáculos debochados e anárquicos, em provocação à ditadura militar. Num cabaré, o mundo de Clécio acaba se encontrando com o de Fininha, codinome do soldado Arlindo Araújo (Jesuita Barbosa). O primeiro longa dirigido por Hilton Lacerda, o premiado roteirista de Amarelo Manga (2002) e A Febre do Rato (2011), ganhou os Kikitos de melhor filme, ator (Irandhir) e trilha sonora (DJ Dolores) no Festival de Gramado. (Netflix)
18) Tinta Bruta (2018)
Ambientado em Porto Alegre, o filme foi premiado com o Teddy no Festival de Berlim. Com roteiro e direção da dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, conta a história de Pedro (Shico Menegat), um jovem que tenta sobreviver em meio a um processo criminal, à partida da irmã e única amiga e aos olhares que recebe sempre que sai na rua. Sob o codinome Garoto Neon e com o corpo coberto de tinta, ele faz performances eróticas no escuro do seu quarto para milhares de anônimos ao redor do mundo, pela internet. Ao descobrir que outro rapaz (Bruno Fernandes) de sua cidade está copiando sua técnica, Pedro decide ir atrás dele. (Canal Telecine)
19) Um Dia de Cão (1975)
Um filme de assalto a banco? Sim: neste clássico de Sidney Lumet, Al Pacino planeja o roubo para poder financiar a cirurgia de mudança de sexo da namorada (Chris Sarandon) de um parceiro de crime. Para a época, foi um lance ousado. Conquistou o Oscar de roteiro original e disputou os prêmios de filme, diretor, ator, ator coadjuvante e montagem. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
20) Uma Mulher Fantástica (2017)
Vencedor do Oscar de melhor filme internacional, o drama dirigido pelo chileno Sebastián Lelio acompanha a trajetória de Marina (Daniela Vega), uma mulher trans que precisa enfrentar o preconceito da família de seu recém-falecido namorado. (Netflix)
21) XXY (2007)
A argentina Lucia Puenzo assina este drama sobre uma jovem intersexual (Inés Efron) criada como garota. Na adolescência, ao explorar sua sexualidade, ela depara tanto com hostilidade quanto com compaixão. Ganhou quatro prêmios no Festival de Cannes e tem no elenco Ricardo Darín. (Netflix)
Bônus: Seguindo Todos os Protocolos (2022)
Talvez seja o melhor retrato ficcional da vida sob o signo do coronavírus. Na trama escrita, dirigida e protagonizada por Fábio Leal, rodada quase toda em um apartamento de Recife, o protagonista, o gay Chico, tenta encontrar um meio de aplacar sua solidão: mas como transar seguindo todos os protocolos sanitários? O que começa em tom mais de comédia oferece passagens dramáticas ou mesmo tensas e momentos tocantes de romantismo e de erotismo, até desaguar em uma sequência absolutamente poética: um passeio motociclístico noturno embalado por Amor e Sina, belíssima canção composta por Luiz Amaro Fortes e interpretada pela voz inebriante de Sophia Ardessore. (Disponível para aluguel em Apple TV, Google Play e YouTube)
Bônus 2: Todos Nós Desconhecidos (2023)
O filme de Andrew Haigh foi totalmente esnobado nas indicações ao Oscar. Na trama que se passa em Londres, Andrew Scott interpreta Adam, um roteirista que leva uma vida pacata e monótona em seu apartamento. Durante um teste de alarme no condomínio, ele acaba conhecendo um vizinho, Harry (Paul Mescal). À medida que o romance entre os dois avança, Adam regride no tempo: começa a visitar a casa de sua infância e conversar com os pais (personagens de Jamie Bell e Claire Foy). Não é spoiler o que vem a seguir: os dois morreram muito tempo atrás. A direção de fotografia, a edição e a trilha sonora dão uma aparência etérea, onírica e algo fantasmagórica a este filme bonito sobre solidão, luto e traumas ligados à sexualidade, à relação com os pais e ao bullying na escola. (Disney+)