Na minha lista de 30 filmes para homenagear o 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBT+, deixei de fora um título que é quase figurinha carimbada em seleções semelhantes: Azul É a Cor Mais Quente (2013), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes (e disponível no NOW, na Apple TV e no Google Play).
Trata-se da adaptação da homônima história em quadrinhos escrita e desenhada pela francesa Julie Maroh. O diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche narra o romance entre a jovem Adèle (interpretada por Adèle Exarchopoulos) e uma aspirante a pintora, Emma (Léa Seydoux), que é mais velha, tem cabelos azuis e já se resolveu quanto a sua sexualidade.
À época da estreia, Azul É a Cor Mais Quente recebeu fartos elogios pela visibilidade dada a relacionamentos lésbicos, o que incluiu uma cena de sexo com sete minutos de duração — o filme é anterior a títulos como Carol (2015), Desobediência (2017) e Retrato de uma Jovem em Chamas (2019). Pela primeira vez na história do Festival de Cannes, o prêmio máximo foi concedido também às atrizes.
Pode-se até relevar a visão excessivamente masculina empregada no balé dos corpos de Adèle e Emma, mas os bastidores depõem contra sua presença em listas celebratórias do Orgulho LGBT+.
As duas atrizes foram vítimas de abusos cometidos por Kechiche. A protagonista revelou que, nas cenas de agressão física, elas estavam sofrendo de verdade, sob o "estímulo" do diretor, que gritava "Acerte-a! Bata nela outra vez!".
As filmagens da sequência de sexo duraram 10 horas seguidas e envolveram o uso de próteses vaginais. Adèle Exarchopoulos chorava por causa do sangramento provocado pelo equipamento, mas o diretor não interrompia o trabalho. Pelo contrário: Léa Seydoux contou que, muitas vezes, ele enfiava o próprio dedo na vagina das duas para "mostrar como fazer".