Entra em cartaz nesta quarta-feira (24) na plataforma de streaming Star+ um filme lindo que não merecia ter sido totalmente ignorado nas indicações ao Oscar: Todos Nós Desconhecidos (All of Us Strangers, 2023), do inglês Andrew Haigh.
Essa tremenda esnobada pela Academia de Hollywood chegou a surpreender, pois Todos Nós Desconhecidos competiu nas premiações prévias. Disputou o Critics Choice de roteiro adaptado — é baseado no romance Strangers (1987), do escritor japonês Taichi Yamada (1934-2023). Célebre no papel do padre bonitão do seriado Fleabag (2016-2019) e, agora, como o protagonista da minissérie Ripley (2024), Andrew Scott concorreu ao Globo de Ouro de melhor ator em drama. E houve ainda seis indicações ao Bafta, da Academia Britânica, quatro ao Gotham, dedicado a produções com baixo orçamento, e três ao Independent Spirit Awards.
Autor de 45 Anos (2015), Haigh levou a trama de Yamada para Londres. Andrew Scott interpreta Adam, um roteirista gay que leva uma vida pacata e monótona em seu apartamento. Durante um teste de alarme no condomínio, ele acaba conhecendo um vizinho, Harry, papel de Paul Mescal, indicado ao Oscar de melhor ator por Aftersun (2022). À medida que o romance entre os dois avança, Adam regride no tempo: começa a visitar a casa de sua infância e conversar com os pais (personagens de Jamie Bell e Claire Foy). Não é spoiler o que vem a seguir, pois basta comparar as idades de Bell, 37 anos, e Foy, 39, com a de Scott, 47: os pais de Adam morreram muito tempo atrás.
Filme tocante (mas sem escorregar para a pieguice) e contido (ainda que guarde uma surpresa para o espectador) sobre solidão, luto e traumas ligados à sexualidade, à relação com os pais e ao bullying na escola. Todos Nós Desconhecidos tem como destaques o quarteto do elenco — em especial, Scott e Mescal — e a direção de fotografia de Jamie Ramsay. Com a inestimável contribuição do editor Jonathan Alberts e das escolhas musicais (que vão das composições de Emilie Levienaise-Farrouch a canções oitentistas de Pet Shop Boys, Fine Young Cannibals e Frankie Goes to Hollyood), ele dá às imagens uma aparência etérea, onírica e algo fantasmagórica.