O ano ainda não acabou, mas dificilmente vou gastar as últimas horas de 2023 assistindo a algum filme pior do que estes nove.
Por sorte, por experiência ou por recomendação, costumo me desviar de bombas. Não vi O Exorcista: O Devoto, nem os brasileiros O Lado Bom de Ser Traída e A Menina que Matou os Pais: A Confissão, três torturas infligidas ao meu colega e amigo Carlos Redel. Também escapei de Mercenários 4 e de Ursinho Pooh: Sangue e Mel (mas curti O Urso do Pós Branco!). Porém, há ocasiões em que acidentes são inevitáveis (como quando vou ver a sessão de imprensa de um lançamento cinematográfico). Pode acontecer, também, de a curiosidade se revelar uma cilada. Mesmo assim, considero uma vitória não conseguir completar um "top" 10.
O ranking abaixo está apenas em ordem alfabética, e já antecipo: achei alguns títulos tão ruins, que não aguentei até o fim. Clique nos links se quiser saber mais. E assista por conta e risco.
1) Besouro Azul
De Angel Manuel Soto. Nesta aventura do personagem da DC que traz Bruna Marquezine no elenco, os 15 minutos iniciais são os mais insossos e genéricos da história dos filmes de super-herói. Parei de ver antes mesmo da transformação de Jamie Reyes em Besouro Azul. (HBO Max)
2) Uma Família Feliz
De José Eduardo Belmonte. Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini estrelam suspense escrito por Raphael Montes e Ilana Casoy que, com o perdão do clichê, tem mais furos do que um queijo suíço. (Competiu no Festival de Gramado e tem estreia nos cinemas prevista para 23 de março de 2024)
3) Five Nights at Freddy's: Pesadelo Sem Fim
De Emma Tammi. A adaptação de um popular game é uma mistureba ruim e desconjuntada que põe no liquidificador um trauma de infância, um drama familiar, bonecos animatrônicos com sanha assassina, pesadelos muito vívidos, um ator que tem a palavra "vilão" escrito na testa, uma atriz em uma atuação embaraçosa e uma trilha sonora com a típica pegada oitentista. Não provocou nem um sustinho, que dirá alguma reflexão. Apenas arrependimento pelo tempo perdido (considerando também os deslocamentos de ida e volta entre a Redação e a sala onde houve a exibição para a imprensa). Taí, apropriado o subtítulo brasileiro. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
4) Ghosted: Sem Resposta
De Dexter Fletcher. Como juntar dois nomes quentes de Hollywood, Ana de Armas, indicada ao Oscar de melhor atriz por Blonde (2022), e Chris Evans, o Capitão América do Universo Cinematográfico Marvel, e fazer um filme tão medíocre e tão constrangedor quando este que mistura comédia romântica, ação e espionagem? É outro que nem terminei de assistir. (Apple TV+)
5) Mamonas Assassinas: O Filme
De Edson Spinello. A cinebiografia do quinteto irreverente de Guarulhos (SP) tem um grande acerto: não foca no desastre aéreo que abalou o país.
Mas isso não é salvaguarda para a história de como Dinho, os irmãos Sérgio e Samuel Reoli, Júlio Rasec e Bento formaram a banda e ralaram para alcançar o sucesso. Talvez os fãs curtam mesmo assim, mas para mim o filme está muito, muito longe das virtudes apresentadas também em 2023 por Nosso Sonho, que reconstitui outra trajetória marcada por suor, talento, êxito e tragédia, a da dupla carioca de funk Claudinho & Buchecha. O roteiro não se debruça sobre as inspirações das canções dos Mamonas Assassinas e acaba enchendo muito a bola do produtor musical Rick Bonadio. Tirando Ruy Brissac, que faz o papel do vocalista, as atuações parecem amadoras (por outro lado, é o próprio elenco que interpreta músicas como Robocop Gay, Pelados em Santos e Vira-vira). A direção de fotografia é monótona, e a montagem deixa vazios nos finais das cenas. Só não é pior porque acaba mais ou menos logo: tem 90 minutos. (Estreia nos cinemas no dia 28 de dezembro)
6) As Marvels
De Nia DaCosta. É o filme mais curto da Marvel, com 105 minutos de duração. Mas é tão chato, é tão genérico, é tão desprovido de personagens interessantes, cenas de impacto, cenários atrativos e tensão genuína, que a sensação é de que acabamos de maratonar todos os 33 longas-metragens lançados desde Homem de Ferro (2008). Só vale pena cena pós-créditos. (Foi exibido nos cinemas e deve estrear no Disney+ em fevereiro de 2024)
7) Meus Sogros Tão pro Crime
De Tyler Spindel. Eu já tinha até esquecido desta comédia (?) com Adam Devine, Pierce Brosnan e Ellen Barkin, cheio de piadas (?) sobre sexo ou sobre vômito, quando deparei com o filme em listas semelhantes. Em MUITAS listas semelhantes. (Netflix)
8) Quem Fizer Ganha
De Taika Waititi. A seleção de futebol de Samoa Americana, na Oceania, entrou para o livro dos recordes em 2001, ao perder por 31 a 0 para a Austrália, nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002. Uma década depois, a equipe busca a redenção pelas mãos de um problemático técnico holandês, Thomas Rongen, e tendo Jaiyah Selua como primeira jogadora trans a disputar uma partida de classificação para o Mundial.
Diretor do sensível e oscarizado Jojo Rabbit (2019), mas também do famigerado Thor: Amor e Trovão (2022), Waititi conta essa história em forma de comédia ora boboca, ora piegas (é um sub-sub-sub-Ted Lasso), caricaturizando os personagens e debochando dos costumes locais. Michael Fassbender está visivelmente pouco à vontade no papel principal, e o cineasta não faz o menor esforço para filmar o futebol, muito menos explicar as táticas do treinador. Eu só dei uma risada, ou melhor, um sorriso, e mesmo assim de autocongratulação, ao confirmar que o discurso de Al Pacino em Um Domingo Qualquer (1999), filme sobre futebol americano ao qual Rongen assiste no hotel, seria usado na preleção — e identificado por um atleta. (Em cartaz nos cinemas)
9) Os Tiozões
De Bill Burr. Também roteirista e protagonista, o comediante transformou em filme seu bem-sucedido show. Ao acompanhar três amigos de 50 anos, Burr enfileira reclamações sobre como o mundo ficou politicamente correto demais, sobre como os homens ficaram moles demais, sobre como ser pai ficou complicado demais. É o mimimi de uma turma que vive se queixando de mimimi. (Netflix)