Comédia é o gênero em que menos me sinto seguro para dar dicas, porque o que é hilariante para uns pode ser entediante para outros, o que é bobo para uns pode ser ofensivo para outros.
Há quem goste de pastelão e há aqueles que prefiram sofisticação, e o estado de espírito do espectador também pode ser decisivo, assim como a companhia: gargalhadas alheias têm o poder da multiplicação.
Mesmo assim, resolvi me atrever a listar os 18 melhores filmes disponíveis no streaming para se acabar de tanto rir.
1) Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Ninguém é perfeito, como diz o personagem de Joe E. Brown no célebre final desta comédia de erros, mas um filme pode ser. É o caso de Some Like It Hot, no qual Tony Curtis e Jack Lemmon são dois músicos de Chicago que, para fugir de mafiosos durante a Lei Seca, se disfarçam de mulheres e se juntam a uma banda de jazz feminino em turnê para a Flórida. No trem, vão conhecer Sugar Kane Kowalczyk, a sensual cantora encarnada por Marilyn Monroe — a personagem do polêmico (para dizer o mínimo) Blonde (2022), que valeu a Ana de Armas uma indicação ao Oscar de melhor atriz. O genial Billy Wilder disputou as estatuetas douradas de melhor diretor e roteiro. (Disponível para aluguel em Apple TV e Google Play)
2) Um Convidado Bem Trapalhão (1968)
Mais do que na série de filmes da Pantera Cor-de-rosa, é em Um Convidado Bem Trapalhão (The Party) que o inglês Peter Sellers mostra-se um incomparável ator cômico — a despeito do lance politicamente incorreto de escalá-lo para encarnar um indiano. Na trama dirigida por Blake Edwards, um magnata de Hollywood vai dar uma festa para estrelas encantadoras, modelos deslumbrantes, poderosos produtores e até um filhote de elefante. Mas, por uma falha de convite, Hrundi V. Bakshi (Sellers), um figurante com uma queda por desastres, também aparece. O que se sucede é uma coleção de cenas impagáveis: Hrundi perde o sapato numa passagem de água, Hrundi entope a privada no banheiro, Hrundi joga um frango na cabeça de uma mulher... (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
3) A Vida de Brian (1979)
Depois de sacanear a lenda do Rei Arthur em Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), o grupo inglês realizou a sátira bíblica A Vida de Brian (Monty Python's Life of Brian). No filme dirigido por Terry Jones, um pobre coitado judeu (papel de Graham Chapman), que nasceu no mesmo dia e hora de Jesus, une-se a um grupo de rebeldes para derrubar o Império Romano e acaba confundido com o salvador. Até acabar na cruz, tenta, sem sucesso, provar aos seus seguidores que é um falso messias. A turma de Jones, Chapman, Terry Gilliam, Eric Idle, John Cleese e Michael Palin faz piadas sobre católicos, judeus e protestantes e se divide em hilariantes papéis, interpretando centuriões romanos, leprosos e um impagável esquadrão suicida. A canção Always Look On the Bright Side of Life (sempre olhe para o lado bom da vida), entoada por crucificados, tornou-se clássica. (Netflix)
4) Top Secret: Superconfidencial (1984)
Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker, os realizadores do clássico Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! (1980), voltaram a acertar a mão nesta sátira aos filmes de guerra. A anárquica ambientação mistura nazistas, resistência francesa, Guerra Fria e rock’n’roll. Val Kilmer interpreta o roqueiro Nicck Rivers, que viaja dos EUA à Alemanha Ocidental para participar de um festival, mas o evento é apenas um disfarce para um ataque a submarinos. Entre os momentos que se tornaram antológicos, estão a cena da vaca e o massacre seletivo em um bar, uma piada inesquecível sobre as sequências com rajadas de metralhadora em títulos de ação. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Claro TV)
5) Feitiço do Tempo (1993)
Nesta comédia dirigida por Harold Ramis, o ator Bill Murray interpreta um arrogante meteorologista da TV que fica preso em uma armadilha temporal, na cidadezinha de Punxsuatawney, na Pensilvânia, condenado a reviver indefinidamente o mesmo dia até que mude suas atitudes. As 24 horas que ele tem de repetir são as do Dia da Marmota — Groundhog Day, no original —, uma data festiva em que, segundo a crença dos moradores locais, o pequeno mamífero teria o poder de prever a duração do inverno. Feitiço do Tempo tornou-se um clássico tanto pela comicidade quanto pela discussão filosófica (o peso da rotina, nossa capacidade de mudar comportamentos etc) e pela abordagem dos paradoxos das viagens no tempo. Virou também uma referência: quando surge algum filme em que os personagens precisam ou são obrigados a reviver os acontecimentos de um determinado período de tempo, citamos as desventuras de Bill Murray. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Claro TV e Google Play)
6) Quem Vai Ficar com Mary? (1998)
Por causa de um acidente embaraçoso no banheiro, o tímido estudante Ted (Ben Stiller) acaba perdendo a chance de ir ao baile com a garota mais popular e bonita do colégio, Mary (Cameron Diaz). Treze anos depois, ele contrata um detetive (Matt Dillon) para encontrá-la, só que ele também vai se apaixonar pela mulher. Com direção dos irmãos Bobby e Peter Farrelly e marcada por piadas de cunho sexual, fez um tremendo sucesso de público e também de crítica. Confesso que não revejo faz muito tempo, mas não esqueço das risadas que dei quando vi no cinema. (Star+)
7) Entrando numa Fria (2000)
O enfermeiro Gaylord Focker — trocadilho intraduzível do personagem interpretado por Ben Stiller — passa um inferno quando a namorada, Pam (Teri Polo), o leva para conhecer os pais, já que mete os pés pelas mãos e o sogro (papel de Robert De Niro, tirando sarro de si próprio) não vai com a cara dele. Jay Roach dirige o engraçadíssimo início de uma trilogia completada por Entrando numa Fria Maior Ainda (2004), que acrescenta Dustin Hoffman e Barbra Streisand ao elenco, e Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família (2010), em que os filhos se somam às confusões. (Star+ e canal Telecine do Globoplay)
8) O Virgem de 40 Anos (2005)
The 40-Year-Old Virgin é muito mais do que um besteirol apimentado, como o título pode sugerir aos incautos. Tanto é que apareceu na tradicional lista dos 10 melhores filmes do ano elaborada pelo respeitado American Film Institute. Era como um estranho no ninho em uma temporada célebre por assuntos sérios — o terrorismo (Munique), a indústria do petróleo (Syriana), o racismo (um dos temas centrais de Crash), o preconceito sexual (O Segredo de Brokeback Mountain), a perseguição política (Boa Noite e Boa Sorte). Tema sempre recorrente nas comédias adolescentes americanas, a primeira transa ganha uma abordagem diferente pelas mãos (sem trocadilho!) do diretor Judd Apatow e do ator Steve Carell (que naquele mesmo ano começaria a interpretar o chefe sem-noção Michael Scott na série The Office). Se pelo olhar juvenil é motivo de afobação, para um adulto de 40 anos é motivo de resignação. O elenco de apoio — Seth Rogen, Elizabeth Banks, Catherine Keener, Paul Rudd — é um dos trunfos do filme, que tem uma das cenas mais antológicas das comédias contemporâneas: aquela da depilação. Tente não chorar. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Claro TV)
9) Borat (2006)
Ninguém fica imune na primeira jornada empreendida por este falso repórter da TV pelos Estados Unidos (houve uma segunda aventura de Borat em 2020). Quem cruza o caminho do personagem criado e interpretado pelo inglês Sacha Baron Cohen sofre humilhações ou diz coisas das quais deveria se envergonhar – imaginando que tudo o que dissessem só seria ouvido no distante Cazaquistão, alguns entrevistados soltam o freio e revelam uma série de preconceitos.
Logo na abertura, o filme dirigido por Larry Charles, ex-roteirista da série Seinfeld, diz a que veio: o protagonista mostra seu pobre vilarejo natal (refletindo a visão estereotipada que muitos estadunidenses têm dos países do Leste Europeu e da Ásia Central), seus hobbies (como fotografar às escondidas mulheres urinando) e uma das “ tradições” da região, a infame Corrida do Judeu (a propósito: Cohen é judeu). As piadas – ou ofensas? – antissemitas, escatológicas, misóginas, racistas e homofóbicas se multiplicam quando o repórter e seu produtor, Azamat Bagatov (Ken Davitian), desembarcam em Nova York. Os dois estrelam uma sequência impossível de ser “desvista”, cujo estopim são fotos da atriz e modelo Pamela Anderson, paixão repentina, platônica e avassaladora de Borat. (Star+)
10) Mamma Mia! (2008)
Inspirado em canções do quarteto pop sueco ABBA, o musical dirigido por Phyllida Lloyd é um dos filmes preferidos na minha família. A Bia, eu e as gurias (Helena e Aurora) já revisitamos algumas vezes a ilha grega onde Meryl Streep interpreta Donna, a dona de um hotel. Ao preparar o casamento de sua filha (Amanda Seyfried), descobre que três ex-namorados (Pierce Brosnan, Stellan Skarsgard e Colin Firth) foram convidados — um deles é o pai da noiva. O filme ganhou uma continuação, não tão deliciosa, em 2018. (Globoplay e Lionsgate+)
11) Trovão Tropical (2008)
Ben Stiller dirige esta sátira impagável sobre os bastidores de Hollywood. O título faz referência a um blockbuster de guerra que está sendo rodado nas florestas asiáticas com uma constelação de astros, entre eles um ídolo de filmes de ação (o próprio Stiller), um ganhador de vários Oscar (Robert Downey Jr.), que leva seu trabalho tão a sério que fez pigmentação de pele para incorporar um soldado negro, e um comediante viciado em drogas (Jack Black). O diretor não consegue se impor diante do elenco e muito menos diante do inescrupuloso produtor (Tom Cruise, em ponta memorável). E o que poderia ficar pior de fato fica quando a turma cruza com guerrilheiros de verdade. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video e Apple TV)
12) Se Beber, Não Case! (2009)
Diz a matéria de apresentação em Zero Hora de The Hangover (em inglês, A Ressaca): "Um tigre no banheiro, um dente a menos, um bebê a mais — esses são apenas os primeiros e menores dos problemas que três amigos reunidos em Las Vegas para uma despedida de solteiro enfrentam depois de acordar de uma noite de farra descontrolada". Os três amigos são o bonitão Phil (Bradley Cooper), o reprimido Stu (Ed Helms) e o meio abobado Alan (Zach Galifianakis). A grande encrenca deles é descobrir onde foi parar o noivo desaparecido— que os sequelados padrinhos não sabem como, onde ou quando perderam. Com uma participação especial da lenda do boxe Mike Tyson, o filme do diretor Todd Phillips (o mesmo de Coringa) deu início a uma trilogia que arrecadou US$ 1,4 bilhão. (HBO Max e NOW)
13) Intocáveis (2011)
De cara, é preciso dizer que esta comédia francesa me fez rir tanto quanto chorei. Os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano apostam em uma fórmula imbatível: a dos filmes sobre uma amizade improvável, que supera barreiras — no caso, sociais, culturais, étnicas e até físicas — para, ao fim, dar uma lição moral de solidariedade, tolerância e respeito às diferenças.
Eles adaptaram a história real de Phillippe Pozzo di Borgo, milionário tetraplégico que criou um forte vínculo com o enfermeiro argelino que foi seu braço direito, Abdel Sellou. Em Intocáveis, Phillippe é interpretado pelo ótimo François Cluzet. Abdel ganhou o nome de Driss e representa outra ex-colônia francesa na África, o Senegal — vale dizer que os imigrantes africanos são marginalizados na França. O papel deu estrelato a Omar Sy, visto recentemente como protagonista da série Lupin. O aristocrático Phillippe e o ex-detento Driss são como azeite e água. Um é expert em música erudita, uma chatice sem vibração para o outro, apaixonado por funk. Na galeria de arte, onde Phillippe interpreta significados ocultos, Driss vê borrões infantis. Sofisticação versus rudeza, limitação física contraposta à energia da força bruta — esses duelos provocam ora risos, ora lágrimas e já mereceram pelo menos três refilmagens: uma na Índia, em 2016, uma na Argentina, também em 2016, e uma nos Estados Unidos, em 2017. (MUBI, NOW e canal Telecine do Globoplay)
14) Relatos Selvagens (2014)
Se o comovente Intocáveis entrou na lista, por que o chocante Relatos Selvagens não poderia? Indicada ao Oscar de filme internacional, a obra do argentino Damián Szifron tem seis episódios independentes, um deles estrelado por Ricardo Darín. Ele faz um engenheiro especializado em implosões, mas que explode diante da burocracia e do pouco caso que os serviços públicos dispensam ao contribuinte. Uma das histórias se passa em um avião, onde revela-se que todos os passageiros são desafetos do piloto, e outra em uma festa de casamento, onde a noiva descobre que o noivo é amante de uma das convidadas. Os personagens vão até as últimas consequências, sem se preocupar com a moral nem a lei, proporcionando um riso catártico. O humor mórbido não exclui o comentário social: mostra como nossa ilusão de civilização está sempre por um fio, ainda mais nesses tempos em que as redes sociais ampliaram a agressividade e a polarização. (HBO Max)
15) A Noite do Jogo (2018)
Dirigida pela dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, é uma comédia divertidíssima — mas, convém avisar, no geral as piadas são com adultos e para adultos. O humor está inclusive temperado por momentos de tensão e até de violência (mas nada a ponto de cortar o embalo). Na trama, um grupo de pessoas se mete em uma enrascada a partir do momento em que se reúne para uma noite de jogos na qual, como em um RPG (sigla de role-playing game), precisam interpretar papéis. Falando em interpretar, o elenco é ótimo. Temos, entre outros, Jason Bateman, três vezes indicado ao Emmy de melhor ator pela série Ozark e duas por Arrested Development; Rachel McAdams, que disputou o Oscar por Spotlight; Kyle Chandler, ganhador do Emmy por Friday Night Lights; Jesse Plemons, que concorreu ao Oscar e ao Bafta de coadjuvante por Ataque dos Cães; e Michael C. Hall, o protagonista de Dexter. (HBO Max)
16) Minha Mãe É uma Peça 3 (2019)
Com direção de Susana Garcia, é o divertido encerramento da trilogia em que o saudoso ator Paulo Gustavo encarnou Dona Hermínia. Na pele, nas sapatilhas e com os bobs da personagem, ele personificou as mães que não largam do pé dos filhos apesar de já estarem bem crescidos, as mães que brigam por causa da tampa não devolvida de um pote de plástico, as mães que se metem na decoração da casa da prole e até na criação dos netos. Mas também as mães que não medem esforços para defender os rebentos, as mães que derramam seu amor sobre nós, as mães que, ora, só pedem um pouquinho de retribuição por tudo o que já fizeram pela gente. (Globoplay e NOW)
17) Amizade de Férias (2021)
Está longe de ser unanimidade, mas aqui em casa o filme dirigido por Clay Tarver fez sucesso. Lil Rel Howery e Yvonne Orji interpretam um casal que, durante férias frustradas no México, conhecem outro: os personagens fora da casinha vividos por John Cena e Meredith Hagner. As coisas vão de mal a pior, ou nem tanto: afinal, a comédia ganhou uma continuação, Amizade de Férias 2 (2023), com data de estreia marcada para o final de agosto. (Star+)
18) Duas Tias Loucas de Férias (2021)
Indicadas ao Oscar de melhor roteiro original por Missão Madrinha de Casamento (2011), Kristen Wiig e Annie Mumolo reúnem-se novamente no script de Duas Tias Loucas de Férias (no original, Barb and Star Go to Vista Del Mar). Sob direção de Josh Greenbaum e sem medo de brincarem com o sexo ou o absurdo, Kristen e Annie interpretam duas amigas que deixam sua cidade no Meio-Oeste pela primeira vez e se envolvem em uma trama de crime e romance na Flórida. Jamie Dornan, o Christian Grey de 50 Tons de Cinza e o assassino serial do ótimo seriado The Fall, mostra seu desprendimento para o humor. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)