Qual é a melhor comédia romântica de todos os tempos? A resposta vai variar de coração para coração, mas O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997), que está disponível na HBO Max e na Netflix, tem credenciais para ombrear com títulos como Aconteceu Naquela Noite (1934), um dos raros ganhadores do chamado Big Five no Oscar — melhor filme, diretor (Frank Capra), ator (Clark Gable), atriz (Claudette Colbert) e roteiro. Ou Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), que chegou perto: venceu nas categorias de melhor filme, atriz (Diane Keaton), direção e roteiro original (ambos com Woody Allen, que também concorria como ator).
Ou O Pecado Mora ao Lado (1955), imortalizado pela célebre cena de Marilyn Monroe tendo a saia levantada pelo passar dos trens do metrô de Nova York. Ou Harry e Sally: Feitos um para o Outro (1989), em que Meg Ryan faz corar Billy Crystal ao fingir um orgasmo em um restaurante.
Ou ainda Uma Linda Mulher (1990) e Quatro Casamentos e um Funeral (1994), que, respectivamente, tornaram Julia Roberts e Hugh Grant o rosto feminino e o rosto masculino do gênero (ambos estrelaram outro título emblemático, Um Lugar Chamado Notting Hill, de 1999). E temos também Questão de Tempo (2013), provavelmente a melhor do século 21.
A fórmula da comédia romântica perfeita inclui um par central que combine como queijo e goiabada, coadjuvantes carismáticos que seguram a peteca enquanto o casal fica no vai-não-vai, uma trama com alguma injeção de novidade, alguma pretensão de reinvenção, um tanto de fantasia e inverossimilhança (afinal, de sério já basta o mundo real) e uma trilha sonora formidável.
Tudo isso pode ser encontrado em O Casamento do Meu Melhor Amigo, que disputou três Globos de Ouro: melhor comédia ou musical, atriz (Julia Roberts) e ator coadjuvante (Rupert Everett). O filme foi escrito pelo estadunidense Ron Bass, vencedor do Oscar de roteiro original, com Barry Morrow, por Rain Man (1988), e dirigido pelo australiano P.J. Hogan, que alçara voo para Hollywood com outro título do gênero, O Casamento de Muriel (1994).
Julia interpreta Julianne, uma crítica de gastronomia que tem um pacto com um antigo amigo, Michael (Dermot Mulroney): caso nenhum dos dois se apaixone até completar 28 anos, eles se casam. Faltando poucos dias para o prazo se esgotar, ela recebe a notícia de que ele vai trocar alianças com a filha de um rico empresário, Kimberly, papel de Cameron Diaz.
O pulo do gato é a subversão da expectativa. Inicialmente, sofremos com a decepção amorosa de Julianne, mas, no fim das contas, a suposta protagonista, vivida pela rainha das comédias românticas, é na realidade a vilã da história.
Suas tentativas — ora divertidas, ora cruéis — de destruir o noivado são acompanhadas de perto pelo amigo gay, George (Rupert Everett), um dos coadjuvantes mais marcantes do gênero. É ele quem puxa um número musical inesquecível, o do coral de I Say a Little Prayer (1967), uma das várias composições de Burt Bacharach (1928-2023) e Hal David (1921-2012) a embalar o filme — a lista inclui a deliciosa Wishin' and Hopin' (por Ani DiFranco), a clássica What the World Needs Now (por Jackie DeShannon), e a belíssima I Just Don't Know What to Do with Myself (por Nicky Holland).
Esta última também recebe uma versão arrepiante pela personagem de Cameron Diaz em um karaokê. Era para ser um golpe certeiro de Julianne para sabotar a imagem de perfeitinha da noiva, sabendo que ela canta mal, mas o tiro sai pela culatra: Michael se apaixona ainda mais pela espontaneidade e pela sinceridade de Kimberly. O mesmo acontece com o espectador.