O Dia do Orgulho LGBT+ é comemorado em 28 de junho, segunda-feira. A data foi escolhida para lembrar a revolta ocorrida em 1969, quando homossexuais estadunidenses reagiram à invasão do bar Stonewall Inn, em Nova York, pela polícia. Para celebrar, montei uma lista com filmes sobre lésbicas, gays, bissexuais e trans que estão disponíveis em plataformas de streaming.
São 28 estrangeiros + 6 brasileiros, em alusão ao 28/6. No total, os diretores representam 15 países. A seleção inclui obras premiadas no Oscar e nos festivais de Berlim e de Cannes, clássicos e novidades, cinebiografias, romances, dramas, comédias, documentários e até um policial.
Como qualquer lista, pode ter presenças ou ausências discutíveis. Dei preferência para ficções, por isso ficaram de fora, por exemplo, dois documentários dirigidos por Dave France: A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson (2017), sobre uma das figuras mais proeminentes da rebelião de Stonewall, em cartaz na Netflix, e Bem-Vindo à Chechênia (2020), sobre a violenta perseguição a gays e homens bissexuais naquela república russa, no Telecine. Faço questão de justificar a falta de um filme que costuma aparecer em seleções de temática LGBT+: a de Azul É a Cor Mais Quente (2013), adaptação de uma história em quadrinhos da francesa Julie Maroh. O romance entre a jovem Adèle (interpretada por Adèle Exarchopoulos) e uma aspirante a pintora (Léa Seydoux) venceu o Festival de Cannes — a Palma de Ouro foi dividida entre o diretor Abdellatif Kechiche e as duas atrizes — e recebeu, à época, fartos elogios pela visibilidade dada a relacionamentos lésbicos, o que incluiu uma cena de sexo com sete minutos de duração. Mas os bastidores depõem contra Azul É a Cor Mais Quente.
As atrizes foram vítimas de abusos cometidos por Kechiche. A protagonista revelou que, nas cenas de agressão física, elas estavam sofrendo de verdade, sob o "estímulo" do diretor, que gritava "Acerte-a! Bata nela outra vez!". As filmagens da sequência de sexo duraram 10 horas seguidas e envolveram o uso de próteses vaginais. Adèle chorava por causa do sangramento provocado pelo equipamento, mas o diretor não interrompia o trabalho. Pelo contrário: Léa contou que, muitas vezes, ele enfiava o próprio dedo na vagina das duas para "mostrar como fazer".
28 estrangeiros
120 Batimentos por Minuto (2017)
Na França dos anos 1990, o grupo ativista Act Up se esforça para que a sociedade reconheça a importância da prevenção e do tratamento da aids. O filme de Robin Campillo traz no elenco Nahuel Pérez Biscayart e Adèle Haenel (de Retrato de uma Jovem em Chamas). Ganhou o prêmio especial do júri e a Palma Queer no Festival de Cannes e seis troféus César, o principal do cinema francês. (Google Play e YouTube)
Alex Strangelove (2018)
Nesta comédia romântica estadunidense dirigida por Craig Johnson, um jovem (Daniel Doheny) está decidido a perder a virgindade com a namorada, mas tudo muda quando ele conhece um outro rapaz, Elliot. (Netflix)
Ammonite (2020)
O roteirista e diretor britânico Francis Lee inspirou-se na vida da palentóloga Mary Anning (interpretada por Kate Winslet) para realizar este drama ambientado em uma cidadezinha litorânea da Inglaterra dos anos 1840 (e com muitos ares de Retrato de uma Jovem em Chamas — leia mais abaixo). Enquanto coleta fósseis em suas jornadas matinais pela praia, Mary vai ficando atraída por Charlotte (Saoirse Ronan), a jovem esposa de um geólogo, deixada aos cuidados dela para convalescer de uma doença. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
Carol (2015)
Cineasta celebrizado pela temática LGBT+ — dirigiu Velvet Goldmine (1995) e Longe do Paraíso (2002), por exemplo —, o estadunidense Todd Haynes assina este drama sobre uma mulher rica casada (Cate Blanchett, indicada ao Oscar de melhor atriz) e uma balconista (Rooney Mara, concorrente à estatueta de coadjuvante) que se apaixonam na conservadora década de 1950. A trama é baseada em uma obra da escritora Patricia Highsmith. (Amazon Prime Video, Google Play e YouTube)
Dancing Queens (2021)
A sueca Helena Bergström assina um dos títulos mais recentes da lista, sobre uma dançarina (Molly Nutley) que, após perder a mãe e virar faxineira de uma casa de shows de drag queens, conhece um coreógrafo sensível e volta a alimentar seu sonho de retomar a carreira. (Netflix)
Dor e Glória (2019)
Semibiografia de Pedro Almodóvar, cineasta espanhol que abordou o tema da homossexualidade — de modo aberto, por vezes com humor, não raro com sofrimento — em filmes como Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e Má Educação (2004). Aqui, Antonio Banderas encarna Salvador Mallo, um diretor de cinema em declínio que relembra sua vida, sua carreira e suas paixões desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 1960. No elenco, Penélope Cruz, como a mãe do personagem. (Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
Elisa & Marcela (2019)
Outro romance proibido entre duas mulheres, agora baseado em uma história real. Elisa (Natalia de Molina) adotou identidade masculina para poder se casar com Marcela (Greta Fernandez) na Espanha de 1901. A direção é de Isabel Coixet. (Netflix)
Felizes Juntos (1997)
Um dos mais aclamados cineastas contemporâneos, o chinês Wong Kar-wai mereceu o toféu de melhor diretor no Festival de Cannes por este filme sobre dois homens (Leslie Cheung e Tony Leung Chiu-wai) que fogem de Hong Kong para a Argentina. (Mubi)
Filadélfia (1993)
Não foi o primeiro filme sobre aids e homofobia a contar com um amplo lançamento nos cinemas americanos — esta honra é atribuída a Meu Querido Companheiro (1989), de Norman René. Mas o longa dirigido por Jonathan Demme ganhou mais projeção. Tom Hanks recebeu o Oscar como um advogado gay que é demitido de uma firma prestigiada por estar doente. Denzel Washington interpreta o advogado homofóbico que vai levar seu caso ao tribunal. Também venceu o Oscar de melhor canção — Streets of Philadelphia, de Bruce Springsteen, que tinha entre os concorrentes outra música do filme, Philadelphia, de Neil Young. (Google Play e YouTube)
A Gaiola das Loucas (1996)
Dirigida por Mike Nichols, a refilmagem hollywoodiana é mais sofisticada do que a célebre comédia francesa da década de 1970. Como escreveu o crítico Inácio Araújo, aqui os homossexuais são agente do humor, e não objetos. Mas o enredo é praticamente o mesmo: o filho do dono de uma boate gay (Robin Williams) quer casar com a filha de um senador reacionaríssimo (Gene Hackman). O problema é que o pai é casado com Albert (Nathan Lane), uma drag queen. (Amazon Prime Video)
A Garota Dinamarquesa (2015)
Na Copenhague dos anos 1920, a artista Gerda Wegener (Alicia Vikander, Oscar de atriz coadjuvante) decide vestir de mulher o marido, Einar (Eddie Redmayne, indicado ao Oscar de melhor ator), para pintá-lo. Tem início uma transformação de Einar em Lili Elbe que culminará em uma das primeiras cirurgias de mudança de sexo na história. A direção é do britânico Tom Hooper. (Netflix)
Garotos (2014)
O filme holandês de Mischa Kamp é sobre dois atletas adolescentes — eles correm o revezamento — que, certo dia, acabam se beijando. (Google Play e YouTube)
Laurence Anyways (2012)
O cineasta e ator canadense Xavier Dolan conta a história de um professor chamado Laurence (Melvil Poupaud) que revela para sua namorada (Suzanne Clément) seu desejo de mudar de sexo. O filme ganhou a Palma Queer no Festival de Cannes. (Globoplay e Reserva Imovision)
Me Chame pelo seu Nome (2017)
No verão italiano de 1983, Elio (vivido por Timothée Chalamet), 17 anos, passa seus dias transcrevendo e tocando música clássica, lendo e flertando com uma amiga. Até que conhece um estudante estadunidense mais velho, Oliver (papel de Armie Hammer). Dirigido por Luca Guadagnino, o filme valeu o Oscar de melhor roteiro adaptado para James Ivory, cineasta nonagenário que tem no currículo filmes como Maurice (1987), com Hugh Grant na pele de um universitário rico que, na Cambridge de 1909, confessa sua atração sexual pelo personagem título. (Netflix, Google Play e YouTube)
Milk: A Voz da Igualdade (2008)
Ativista, o cineasta estadunidense Gus Van Sant (o mesmo de Garotos de Programa, de 1991) fez um retrato do primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia, nos anos 1970. A cinebiografia de Harvey Milk concorreu a oito Oscar, incluindo melhor filme e diretor — venceu nas categorias de ator (Sean Penn) e roteiro original. (Google Play e YouTube)
Minha Vida em Cor-de-Rosa (1997)
Neste delicado filme dirigido pelo belga Alain Berliner, um menino de sete anos (Georges du Fresne) escandaliza os convidados de um churrasco ao aparecer vestido como menina. A situação provoca embaraços para os pais, novos no condomínio ao qual querem se integrar. (Supo Mungam Plus)
Minhas Mães e Meu Pai (2010)
O filme de Lisa Cholodenko venceu o Globo de Ouro de comédia — embora não seja impreciso classificá-lo como drama — e concorreu a quatro Oscar, incluindo o de melhor filme. Annette Bening (indicada ao Oscar de melhor atriz) e Julianne Moore formam um casal de lésbicas que conceberam os dois filhos (Josh Hutcherson e Mia Wasikowska) por inseminação artificial. A curiosidade dos jovens em saber quem foi o doador do esperma para suas mães os faz encontrar o dono de restaurante Paul (Mark Ruffalo, que disputou a estatueta de ator coadjuvante). (Amazon Prime Video)
Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016)
O diretor Barry Jenkins acompanha três fases da vida do protagonista: na infância, na adolescência e como um jovem adulto. A sexualidade que o personagem está descobrindo e que mal compreende é rejeitada por sua comunidade. Ganhou os Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e ator coadjuvante (Mahershala Ali). (Apple TV, Google Play e YouTube)
Morte em Veneza (1971)
Filme do meio da trilogia alemã do italiano Luchino Visconti (antes veio Os Deuses Malditos, de 1969, e depois, Ludwig, a Paixão de um Rei, de 1973), é baseado em um romance de Thomas Mann. Na trama, Dirk Bogarde interpreta Von Aschenbach, um envelhecido dirigente de orquestra alemão que, durante as férias em família na cidade de Veneza, fica fascinado por um adolescente loiro, Tadzio (Bjorn Andressen). (Google Play e YouTube)
Priscilla, a Rainha do Deserto (1994)
A bordo de um ônibus batizado de Priscilla, duas drag queens — Anthony/Mitzi (Hugo Weaving) e Adam/Felicia (Guy Pearce) — e uma transexual, Bernadette (Terence Stamp), viajam pelo deserto da Austrália rumo a um show para o qual foram contratadas. Dosando humor, afeto e amargura, o filme de Stephen Elliot ganhou o Oscar de melhor figurino, tornou-se um clássico e, ao lado de Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar (1995), ajudou a popularizar as drag queens. (Telecine)
Retrato de uma Jovem em Chamas (2019)
Vencedor do troféu de melhor roteiro e da Palma Queer no Festival de Cannes, o drama da francesa Céline Sciamma se passa em 1770, em uma ilha da Bretanha. Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora contratada para fazer o retrato de Héloïse (Adèle Haenel), uma moça que acaba de ser retirada de um convento e está prometida pela mãe a um cavalheiro de Milão. Mas o que pinta é uma inflamante paixão entre artista e musa. (Apple TV, Now, Telecine, Google Play e YouTube)
O Segredo de Brokeback Mountain (2005)
Brokeback é o nome da montanha onde o vaqueiro Ennis del Mar (Heath Ledger) e o caubói de rodeio Jack Twist (Jake Gyllenhaal) vivem um romance secreto por quase 20 anos. Ganhou três Oscar (direção, para Ang Lee, roteiro adaptado e trilha sonora) e concorreu a outros cinco, incluindo melhor filme, ator (Ledger), atriz coadjuvante (Michelle Williams) e ator coadjuvante (Gyllenhaal). (Netflix e Telecine)
Seu Nome Gravado em Mim (2020)
Na Taiwan de 1987, os estudantes do Esnino Médio Jia-Han (Edward Chen) e Birdy (Tseng Jing-Hua) se apaixonam e são alvos da homofobia e das pressões familiares. O filme de Patrick Kuang-Hui Liu foi um campeão de bilheteria no país asiático. (Netflix)
Um Dia de Cão (1975)
Um filme de assalto a banco? Sim: neste clássico de Sidney Lumet, Al Pacino planeja o roubo para poder financiar a cirurgia de mudança de sexo da namorada (Chris Sarandon) de um parceiro de crime. Para a época, foi um lance ousado. Conquistou o Oscar de roteiro original e disputou os prêmios de filme, diretor, ator, ator coadjuvante e montagem. (Google Play e YouTube)
Uma Mulher Fantástica (2017)
Vencedor do Oscar de melhor filme internacional, o drama dirigido pelo chileno Sebastián Lelio acompanha a trajetória de Marina (Daniela Vega), uma mulher trans que precisa enfrentar o preconceito da família de seu recém-falecido namorado. (Amazon Prime Video)
(No mesmo ano, Lelio realizou o intenso Desobediência, em que Rachel Weisz faz uma mulher que, ao voltar para comunidade judaica ortodoxa onde cresceu, em Londres, após a morte do pai, reencontra sua paixão proibida: a esposa de um rabino, interpretada por Rachel McAdams. Este filme está disponível em Telecine, Google Play e YouTube.)
Uma Nova Amiga (2014)
Após a morte de sua melhor amiga, Claire (Anaïs Demoustier) entra em depressão, mas cumpre a promessa de cuidar do marido dela, David (Romain Duris), e da filha do casal. Quando vai visitá-los de surpresa, encontra a criança nos braços de alguém com vestido florido e peruca loira. É David, que revela ter voltado a um hábito que tinha antes do casamento: se vestir de mulher. A direção é do francês François Ozon, que também abordou temas LGBT+ em títulos como Gotas d'Água em Pedras Escaldantes (2000) e Verão de 85 (2021, em cartaz nos cinemas). (Reserva Imovison)
Você nem Imagina (2020)
Chinesa que mora em uma cidadezinha nos EUA, Ellie Chu (Leah Lewis) é apaixonada por Aster Flores (Alexxis Lemire), uma garota que namora, mas meio que por inércia, o cara mais popular do colégio. Inteligente e habilidosa com as palavras, Ellie é contratada por um colega, Paul Munsky (Daniel Diemer), para escrever uma carta de amor justamente para Aster. Alice Wu dirige esta comédia dramática adolescente que foge dos lugares-comuns do gênero, apesar da sinopse sugerir o contrário. (Netflix)
XXY (2007)
A argentina Lucia Puenzo assina este drama sobre uma jovem intersexual (Inés Efron) criada como garota. Na adolescência, ao explorar sua sexualidade, ela depara tanto com hostilidade quanto com compaixão. Ganhou quatro prêmios no Festival de Cannes e tem no elenco Ricardo Darín. (Netflix)
6 filmes brasileiros
O Beijo da Mulher-Aranha (1985)
Argentino naturalizado brasileiro, Héctor Babenco concorreu ao Oscar de diretor por esta adaptação de um romance do escritor Manuel Puig, também indicada nas categorias de melhor filme e roteiro e premiada na de ator (William Hurt). Na trama, dois prisioneiros dividem a cela numa cadeia da América do Sul. Um deles, Molina (Hurt), é homossexual e está preso por comportamento imoral. O outro, Valentin (Raul Julia), está encarcerado por motivos políticos. O primeiro narra ao segundo filmes inventados, cheios de suspense e mistério e de femmes fatales como a tal Mulher-Aranha do título (Sônia Braga). (Globoplay)
Bixa Travesty (2018)
A cantora transexual paulistana Linn da Quebrada é a estrela do documentário de Claudia Priscilla e Kiko Goifman. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014)
Premiado com o Teddy (destinado a produções LGBT+) no Festival de Berlim, o filme de Daniel Ribeiro conta a história de um adolescente cego, Leonardo (Guilherme Lobo), que tenta lidar com a mãe superprotetora ao mesmo tempo em que descobre mais sobre sua sexualidade. (Netflix, Google Play e YouTube)
Laerte-se (2017)
O documentário de Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva enfoca a longa trajetória de autoaceitação, como mulher, da cartunista Laerte. (Netflix)
Tatuagem (2013)
Em 1978, em Recife, um grupo de artistas liderado por Clécio Wanderley (Irandhir Santos) oferece espetáculos debochados e anárquicos, em provocação à ditadura militar. Num cabaré, o mundo de Clécio acaba se encontrando com o de Fininha, codinome do soldado Arlindo Araújo (Jesuita Barbosa). O primeiro longa dirigido por Hilton Lacerda, o premiado roteirista de Amarelo Manga (2002) e A Febre do Rato (2011), ganhou os Kikitos de melhor filme, ator (Irandhir) e trilha sonora (DJ Dolores) no Festival de Gramado. (Netflix)
Tinta Bruta (2018)
Ambientado em Porto Alegre, o filme foi premiado com o Teddy no Festival de Berlim.
Com roteiro e direção da dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, conta a história de Pedro (Shico Menegat), um jovem que tenta sobreviver em meio a um processo criminal, à partida da irmã e única amiga e aos olhares que recebe sempre que sai na rua. Sob o codinome Garoto Neon e com o corpo coberto de tinta, ele faz performances eróticas no escuro do seu quarto para milhares de anônimos ao redor do mundo, pela internet. Ao descobrir que outro rapaz (Bruno Fernandes) de sua cidade está copiando sua técnica, Pedro decide ir atrás dele. (Telecine, Google Play e YouTube)