Final de ano é tempo de otimismo. Mesmo nos anos duros de recessão, sempre houve expectativa de melhora para o seguinte – ou, ao menos, de despiora. Mas 2019 quebrou a escrita dos últimos cinco anos, que era começar com boas perspectivas e vê-las murchando gradativamente ao longo dos meses.
O crescimento do PIB desapontou no ano que termina: a expectativa era de alta de 2,55%, conforme o último relatório Focus, do Banco Central, enviado em 28 de dezembro de 2018. Deve entregar algo perto de 1,3%, conforme o último boletim do período, divulgado nesta segunda-feira (30). No entanto, os indicadores reagiram no último trimestre. Surgiram sinais de reação e houve até aumento na geração de empregos formais.
Por isso, 2020 começa sob expectativas mais realistas de retomada, mesmo sob a dose usual de incerteza. A principal envolve o famoso tripé macroeconômico: câmbio, inflação e juro. A oscilação do dólar será essencial para definir o ritmo da alta de preços. No último dia útil de 2019, circulou a informação de que o vice-premiê chinês, Liu He, irá aos Estados Unidos, ainda nesta semana, em poucos dias para assinar a primeira fase do acordo de trégua na guerra comercial com os Estados Unidos. No Brasil, a moeda americana quase perdeu o patamar de R$ 4 mantido desde o início de novembro.
Se a recuperação econômica do Brasil depende, em boa parte, do comportamento dos grandes indicadores, o país ainda tem grandes desafios de microeconomia pela frente. Ao aprovar a reforma da Previdência, o governo federal desativou uma bomba-relógio, mas não construiu uma ponte firme para o crescimento.
Há outro tripé essencial, com menor dependência do Exterior, que precisa ser montado em 2020: emprego, crédito e inadimplência, que também dependem um do outro para melhorar. Além dessas variáveis, há outra essencial para que 2020 seja o ano da virada: o deslanche das privatizações, que podem elevar o investimento no país.
As promessas de Ano Novo
1. Reformas
A pauta do Congresso está cheia: três propostas de emenda constitucional – emergência fiscal, pacto federativo e fundos setoriais – e uma reforma tributária, que devem ser acrescidas da reforma administrativa ainda no início do ano. Em ano eleitoral, o avanço será um grande desafio.
2. Emprego
Até o secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, disse que o desemprego só sai dos dois dígitos em 2022. Mas pesquisa do jornal Folha de S.Paulo mostrou que 57% dos brasileiros creem que gerar vagas ajuda a combater a violência. Espera-se eco no Planalto.
3. Construção
Em São Paulo, os sinais de retomada já são claros: alta de 68,8% na venda de imóveis de janeiro a setembro. No Estado, há expectativa de que 2020 seja o ano da virada. Lançamentos feitos no final de 2019 já encontraram o mercado mais receptivo. Construção gera emprego.
4. Crédito
Há sinais tímidos de retomada. O saldo das operações nos bancos subiu 1,1% em novembro. Um dos maiores desafios a vencer é a inadimplência. Contas em atraso, que representam “nome sujo na praça”, subiram 6,3% em novembro ante igual mês de 2018.
5. Juro
Maior – e melhor – surpresa de 2019 foi a queda na taxa básica. A expectativa era fechar o ano acima de 7%, a realidade foi 4,5%. Ainda há quem aposte em novo corte de 0,25 ponto percentual em fevereiro, mas a maioria acredita que o BC vai parar por aí.
6. Inflação
Outro grande ponto de interrogação na virada do ano, a alta de preços se acelerou no final de 2019. A carne foi a maior vilã, mas gasolina e loterias contribuíram. Caso o dólar se acalme, será mais fácil manter sob controle. Mas se a economia se acelerar, como se espera, pode subir.