O desempenho da economia em nível aquém do esperado segue com efeitos diretos no bolso dos brasileiros. Em junho, o número de consumidores com contas em atraso voltou a subir no país. Em relação a igual mês do ano passado, a inadimplência avançou 4,07%, a nona alta consecutiva, aponta pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
O tamanho das dificuldades pode ser dimensionado pelo contingente de brasileiros que se encontravam nessa situação ao fim do primeiro semestre: 63,6 milhões. A marca representa 42% da população adulta do país, frisa o estudo.
– Há variáveis positivas no país, como inflação controlada e juro baixo. Mas o mercado de trabalho, que coloca dinheiro no bolso das pessoas para pagamento de contas, ainda não se recuperou. E isso acontece devido à economia fraca – explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
As dívidas bancárias, que envolvem cartão de crédito, cheque especial, financiamentos e empréstimos, tiveram o maior crescimento em junho, de 7,62% na comparação com o mesmo mês de 2017. O grande volume de pendências com instituições financeiras já era esperado, diz Marcela. O dado que chama atenção, conforme a economista, é a alta de 6,69% em atrasos com contas básicas, como as de água e luz. O avanço nesse grupo foi o segundo maior do levantamento.
– Isso mostra o quanto o orçamento está apertado – sublinha a especialista.
Entre as regiões brasileiras, o Sul está em situação menos desfavorável. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, 36% dos habitantes adultos (8,19 milhões) sofreram com a inadimplência no primeiro semestre, a menor taxa do país. Apesar disso, o horizonte nacional não deve trazer trégua para a região nos próximos meses:
– Eleições sempre geram incertezas, mas neste ano o cenário é ainda pior. Ninguém sabe quem será o próximo presidente. Com dúvidas, as empresas não fazem investimentos. A expectativa é de que a inadimplência siga com altas consecutivas – lamenta Marcela.