Pouco antes da posse, o prefeito reeleito de Porto Alegre, Sebastião Melo, deu ao repórter Carlos Rollsing uma declaração desanimadora, prevendo o que ocorreria nas ruas em seu segundo mandato quando chove muito:
No dia seguinte, veio a conta: parte da cerimônia de sua própria posse teve de ser cancelada pela dupla infalível da capital gaúcha sob chuva forte: alagamentos e falta de luz.
Foi uma entrada de ano com susto para os habitantes da maior cidade do Estado, para a qual se pretende atrair não só mais visitantes como moradores fixos.
Alongando a perspectiva, o prefeito disse que a cidade continuaria s alagar depois de assinar financiamentos internacionais no valor de R$ 3,5 bilhões destinados a obras de recuperação e reconstrução de Porto Alegre.
É fato que uma coisa é ter crédito, outra é transformar projetos dessa envergadura em obras úteis. É só lembrar das obras da Copa, que uma década depois ainda não estão completas. Mas se não tem um cronograma viável e factível, para que, mesmo, Melo se apresentou para disputar a reeleição?
Não fazer promessas inviáveis é uma virtude. Mas não se comprometer com uma solução para Porto Alegre, não. Depois dessas declarações, o mínimo que a nova administração pode fazer para corrigir a rota é dar total eficiência, velocidade e transparência à aplicação desses recursos.
Melo gosta de se apresentar como um prefeito "fazedor", ou seja, seu forte seriam ações, não palavras. Tropeçou nas letras novamente na parte da posse que pôde ser realizada antes que a chuva voltasse a alarmar os porto-alegrenses com seus problemas de infraestrutura.
Considerou "liberdade de expressão" que "qualquer um possa dizer que defende a ditadura". O prefeito reeleito é formado em Direito. Deveria conhecer as restrições legais ao que correntes políticas chamam de "liberdade de expressão", como os crimes de calúnia, injúria e difamação, independentemente da apologia à ditadura, mais discutível legalmente mas não moralmente.
A definição desse regime inclui "supressão ou restrição" de direitos individuais. A cidade que sofreu com boa parte de seu centro histórico coberto de água por semanas merecia mais acolhimento no início de um novo ano. E de um novo mandato.