Priscila Schapke é diretora e sócia da Fesa Group, ecossistema que oferece soluções para contratação e gestão de profissionais, com atuação no Brasil e no Exterior. A executiva aponta setores que estão mais aquecidos pós-enchente, mas alerta para uma preocupação: o envelhecimento da população gaúcha e o impacto na mão de obra.
Quais setores estão com melhor recuperação depois da enchente?
A tragédia foi espalhada e diversificada. Algumas indústrias calçadistas da região de Igrejinha, Três Coroas e Campo Bom foram afetadas, com muitos profissionais atingidos. Na Região Metropolitana, indústrias farmacêuticas foram muito impactadas. Pequeno comércio e varejo também estão sofrendo. As indústrias próximas a rodovias, principalmente de plástico e metalmecânica, foram impactadas, mas por serem de grande porte, conseguiram se recuperar de forma rápida. Indústrias de alimentos e bebidas conseguiram efeito positivo, com compra de insumos. O agronegócio também sofreu, mas cerca de 90% da colheita já havia sido feita antes da enchente. O impacto é mais de médio e longo prazo. Setores de máquinas e de insumos agrícolas tiveram congelamento de contratações, estimando impacto maior em 2025.
Quais os segmentos mais e menos aquecidos para o próximo ano?
O setor de plásticos, para autopeças e embalagens, está entre os mais aquecidos. O mercado de tecnologia teve impacto menor da enchente, não precisa de muito espaço físico. Há perspectiva otimista para 2025. Indústrias de bebidas e alimentos seguem com boas perspectivas para 2025. Entre todos, o setor de infraestrutura é o que deve ter grande alta, por investimentos públicos e privados para reconstrução. Mas ao contrário dos demais, não está com perspectiva positiva para 2025 por questões políticas e econômicas e cortes que terão de ser feitos. A construção civil também está muito aquecida, com procura por imóveis de baixa renda devido a prejuízos da enchente, mas também novas construções de luxo.
Como a enchente pode impactar o longo prazo da economia gaúcha?
Temos muitos estudos referentes ao Katrina, o quanto impactou a economia dos Estados Unidos. É preocupante para o RS. Em situações como essa, há perda de mão de obra qualificada. A população no pós-Katrina reduziu em 30%. A população gaúcha está envelhecendo, com redução de mão de obra qualificada. Se perdermos profissionais qualificados, a retomada do RS será complexa.
Quais as opções para reter ou repor capital humano?
Existem movimentos do empresariado para não levar posições estratégicas para fora do RS. Também vemos movimentos de contratação de imigrantes e projetos para contratação de mulheres para operações que normalmente são mais masculinas. Mas não bastam iniciativas internas. Precisamos dos suportes municipal, estadual e federal, incentivos para as empresas manterem suas operações no Estado e poderem investir em pessoas.
Há como reduzir a tendência de envelhecimento da população gaúcha?
Trazer novas famílias jovens de fora para cá. O RS sempre foi bastante fechado. Mas, se não houver esse movimento de trazer famílias mais jovens, em 20 anos o impacto vai ser muito grande.
Para atrair mais funcionários para o Estado, uma mudança de escala, com menos dias de trabalho, seria factível?
O gaúcho é bastante conservador. O que percebemos no RS é que as empresas, com exceção do mercado de tecnologia, estão voltando ao presencial. Não acredito que, no curto prazo, tenhamos redução de um dia útil de trabalho por semana. O que, sim, estamos acompanhando, é que ter um dia remoto está se mostrando bastante saudável, atraindo e retendo mão de obra mais jovem.
*Colaborou João Pedro Cecchini