Menos nas notícias e mais nas redes sociais, há alarme sobre uma suposta "fuga de dólares" no Brasil. É fato? Ou é boato? O que existe, com fatos e dados, é uma saída intensa de moeda americana, acima da média, portanto "atípica", como classificam analistas ponderados.
A mudança de GPS das divisas até o dia 20, conforme dados do Banco Central (BC), está 4,5% acima da registrada em 2019, primeiro ano do governo anterior. Ainda faltam 10 dias na conta, o que pode fazer com que seja a maior saída mensal de dólares desde setembro de 1988, quando chegou a US$ 18,9 bilhões.
Como mostra o gráfico acima, dezembro costuma ser um mês de saída forte de dólares do Brasil. Um dos motivos é a remessa de lucros obtidos por multinacionais a suas matrizes no Exterior. Quanto maiores, mais intensa será essa movimentação. Em 2024, a economia deve ter crescido 3,5%, o que contribuiu para aumentar esse volume.
Isso não quer dizer que está tudo bem no Brasil. Como a coluna vem registrando, há forte deterioração dos indicadores financeiros, por sua vez sintoma da perda de credibilidade na política fiscal.
Na atual proporção da dívida brasileira, é uma grande preocupação, com reflexos na qualidade de vida da população sob as formas de inflação alta e crédito caro. Mas é importante ter discernimento, essa palavra "antiga" que quer dizer ter capacidade de avaliar situações com clareza e justiça.
É bom lembrar, ainda, que quase toda essa saída é em aplicações financeiras. Também conforme o BC, o Brasil recebeu US$ 66,3 bilhões nos 12 meses encerrados em novembro em investimento externo direto, um tipo de recurso que vem ao país para ficar. O valor da conta acumulada é maior do que na dos dois meses anteriores.
O que fez o dólar subir
Neste final de ano, ao menos cinco fatores se combinaram na pressão cambial. Um decorre das próprias pausas nos negócios determinadas pelos feriados, que sempre deixam o mercado mais cauteloso. Outro veio do aumento na projeção de juro e inflação do Relatório Focus. Mais um veio de estimativas de desidratação do pacote fiscal do governo no Congresso, no Brasil, com o reforço do temor de e, finalmente, a informação de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) deve espaçar a redução de juro no país.
Como o BC vem intervindo
Iniciada em 12 de dezembro, a oferta de dólares pelo BC já passa de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 16,76 bilhões em leilões à vista, ou seja, com recursos das reservas internacionais.