Quando o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Rio Grande do Sul (Ibef-RS) escolhe o "Equilibrista do Ano", é sinal de que o profissional viveu uma fase em que foi testado em suas habilidades. Neste 2024, o escolhido foi Rafael Dalla Coletta, diretor financeiro da gaúcha SLC Máquinas, segmento que vive um momento que exige capacidade de compensar sua situação delicada. Vê desaceleração "importante" por seca e chuva extrema recentes. A necessidade de lidar com o efeito da mudança climática, por outro lado, aquece outro mercado também explorado pela SLC Máquinas: de construção e pavimentação, que enfrenta maior demanda para reconstrução. Os opostos desafiam o "equilibrista".
Por que há redução na venda de máquinas agrícolas?
Neste ano, o mercado de máquinas teve retração importante por conta dos efeitos climáticos que tivemos nos últimos três anos e do efeito da enchente deste ano, mas o impacto ainda pode ser minimizado. A retração existe, mas vai depender do que vamos conseguir vender no último trimestre. Temos expectativa de ter números bons, considerando o cenário atual.
O que poderia ajudar na recuperação?
Uma próxima safra com produtividade boa ou acima da média, sem efeitos climáticos adversos relevantes. O preço das commodities também pode ajudar, precisa acompanhar a tendência, ou ao menos ter estabilidade. Hoje, temos o arroz com preços menores, a soja com valores intermediários e o trigo muito oscilante. Se houver uma recuperação, somada a linhas de crédito e acertos nas condições de renegociações, direciona para uma retomada.
A SLC Agrícola é conhecida por iniciativas ESG. Como a Máquinas compartilha esses princípios?
A SLC Agrícola tem gestão independente da SLC Máquinas, mas os valores são conjuntos. Temos como exemplo o que a SLC Agrícola faz, mas não necessariamente se aplica à Máquinas. Temos um comitê de sustentabilidade que se reúne mensalmente e projetos ocorrendo há quatro anos. Trabalhamos com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) para poder focar nos que são os prioritários em relação ao nosso negócio.
No cenário macroeconômico, o que mais afeta a empresa?
Os efeitos da mudança climática têm sido perceptíveis. Afetam não só diretamente, como uma unidade nossa em Eldorado do Sul que teve prejuízo da enchente, por exemplo, mas também indiretamente. Nossos clientes vêm sendo castigados por estiagens e chuvas extremas. A revolução digital também afeta. As redes sociais, a inteligência artificial, a robotização, a automatização e os desafios da inclusão digital têm uma complexidade por trás. Outro desafio é manter as pessoas engajadas, preparadas, entendendo os objetivos e se sentindo parte deles, com autonomia para atuar.
E em relação ao mercado?
Existe tendência, lida pelas instituições financeiras, de alta de juro para os próximos anos, ou pelo menos para o próximo ano. Com isso, o capital de giro de que necessitamos vai ficar mais caro, e as tomadas de recurso que poderiam viabilizar investimentos de clientes também tendem a ser mais caras. Outro ponto importante é a reforma tributária, que precisa sair. Existe insegurança jurídica muito grande, uma complexidade que torna a gestão das empresas mais complexa, cara e lenta. E existe uma possibilidade de mudança iminente, que tende a trazer menos complexidade, mas também vai precisar ser muito bem digerida por todos os envolvidos.
O cenário seguirá incerto?
Estimamos que 2025 seja melhor do que 2024. O tamanho dessa melhoria vai depender muito de nossa capacidade de ter eficiência operacional, mas os desafios são inerentes.
A empresa planeja expandir no Estado?
Nos últimos anos, realizamos duas aquisições importantes, que nos fizeram crescer em faturamento de forma exponencial. Estamos no momento maturando a mais recente aquisição, feita há cerca de um ano. Com a aquisição, também passamos a atuar no mercado de construção e pavimentação, em que a SLC Máquinas não participava antes. Agora, a prioridade é a consolidação e a rentabilização dos negócios feitos há pouco.
O setor de construção e pavimentação é uma aposta da empresa?
O mercado de construção e pavimentação está em momento diferente do mercado agrícola, que passou por diversos efeitos climáticos. Na linha de construção e pavimentação, houve maior demanda de máquinas e equipamentos para atuar na reconstrução. É um segmento que tem se mostrado bastante ativo. Estamos procurando aproveitar ao máximo esse momento aquecido.
*Colaborou João Pedro Cecchini