Antes de conversar com a coluna por telefone, o sócio-fundador da livraria Cameron, Delamor D'Ávila Filho, compartilhou fotos e sua sensação diante das perdas da sua rede com a enchente:
— Dá vontade de sentar na calçada e chorar.
Das 10 unidades, três ficam no Aeroporto Salgado Filho e estão embaixo d'água. O centro de distribuição e os três depósitos da empresa também ficam na zona norte de Porto Alegre e enfrentam o mesmo problema de Fiergs, Fecomércio, Femsa e moradores da região: a dificuldade de escoamento da água acumulada por tantos dias de chuva forte.
Do depósito que armazena móveis para feiras, não restou nada. Nos demais e no centro de distribuição da Cameron, onde ficam os livros, as perdas chegam a 80%, estima Delamor. É apenas uma projeção, porque ele também ainda não teve acesso aos depósitos desde que a água invadiu os empreendimentos entre os dias 3 e 4 de maio.
— Avisaram que a água estava subindo em velocidade de apavorar. Mandei quatro funcionários às pressas. Levantaram o que deu, cerca de 20% do estoque. Estávamos acostumados com uma realidade, de subir os produtos a uma certa altura quando ocorriam cheias. Dessa vez, a água chegou a 1,7 metro — relata Delamor.
Cerca de 50% dos livros foram danificados e não poderão ser vendidos, o que representa uma perda de R$ 2,2 milhões nas contas da Cameron. Somam-se outros R$ 700 mil em prejuízos de mobiliário. E ainda há expectativa de redução de 30% do faturamento anual da livraria.
— A tragédia no setor livreiro se arrasta desde a pandemia, passando pelo declínio das duas gigantes, Saraiva e Cultura. Também sofre um massacre do mercado eletrônico. Mas essa enchente é pior do que tudo isso. Não podemos contar só com prorrogações, precisamos de algum tipo de isenção — diz Delamor.
Segundo o empreendedor, algumas editoras já estão repondo parte dos estoques de livrarias sem custos adicionais. No entanto, a normalização da operação da Cameron deve ficar apenas para o próximo ano.
— Neste ano, vamos trabalhar muito na reconstrução, com pouco retorno. Mas não podemos parar. Tem o baque, mas vamos seguir em frente.
Com cerca de cem funcionários, a rede gaúcha de livrarias fundada em 2000 aposta em lojas em conceito aberto para superar a crise. No último dia 16, começou a funcionar um primeiro modelo no shopping Iguatemi, em Porto Alegre. Não é uma operação itinerante.
*Colaborou João Pedro Cecchini