O ranking SBVC-Cielo, da Sociedade Brasileira do Varejo e Consumo, deu um terceiro lugar para o Grupo Lins Ferrão - leia-se as redes Pompéia e Gang - no quesito empregabilidade feminina. Não foi à toa: as duas marcas tem 76% de mulheres em seu quadro de pessoas. E tem, ainda, uma CEO, Carmen Ferrão, que também vai presidir a 14ª Bienal do Mercosul, que deve de ser adiada de setembro para março de 2025 por causa da enchente. O grupo teve lojas afetadas, mas também um indicador ainda mais surpreendente do que os que a coluna vem colhendo em depoimentos: a reação veio ainda em maio, mesmo mês que mergulhou o RS no dilúvio.
Como o grupo chegou a ter 76% de empregabilidade feminina e o que isso significa?
Ao longo da minha jornada, acompanho o crescimento e o envolvimento das mulheres no mercado de trabalho. Não vamos falar de talentos pessoais, mas de contexto, do quanto as mulheres disputam o mercado com os homens, do quanto pensam nas suas famílias e no seu crescimento pessoal, do quanto vislumbram o futuro em planos de carreira. Agora, a Associação Brasileira de Varejo está olhando para o ESG. Ficamos bastante satisfeitos, porque é um número expressivo a nível nacional.
E a empresa tem uma CEO, o que dá exemplo, não?
Tenho um cargo de liderança. Entrei na empresa para montar uma área de comunicação e marketing, que não tinha. Depois me tornei gerente, diretora de marketing, superintendente de marketing e vendas e hoje sou CEO do grupo. Foi uma carreira conquistada. Penso que serve de inspiração para todo um contingente de mulheres. Temos muitas na família, minha irmã dirige o Instituto Lins Ferrão e minhas duas filhas, uma na diretoria-geral da Gang, e outra como diretora da Pompéia em marketing e e-commerce.
Como levar para outros segmentos e funções a ideia de que a mulher é tão capaz quanto o homem?
Não tenho dúvida. Fiz um curso de gestão avançada na França, pela Fundação Dom Cabral, em uma das maiores escolas de negócio do mundo, e ouvi um professor dizer que considera a revolução feminina mais importante de todas, porque as mulheres colocaram trilhões no mundo e fizeram a economia girar. Tenho absoluta certeza de que é uma mudança enorme de um contingente global, em todas as profissões.
Como está o projeto de expansão da Pompéia?
Está indo de vento em popa. Sempre procuramos olhar pelo lado da oportunidade. Continuamos com o plano de expansão, já abrimos 11 lojas em Santa Catarina. Aos poucos, vamos subindo o país. A expansão é muito relevante, porque temos de aproximar a marca das comunidades. Muito me perguntam se a loja física vai terminar com o e-commerce. Mas, não, de jeito nenhum. A loja física vem mudando o seu posicionamento, trabalhando mais a questão da experiência.
A empresa tem planos para o Paraná?
Sim, é a nossa revisão de planejamento. Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e vamos subindo. Neste momento, não temos nenhum ponto no Paraná definido. Estamos esperando um pouco para consolidar a operação de Santa Catarina. No ano passado, também demos um passo importante, que foi a abertura da loja do Iguatemi. Hoje a Pompeia tem 90 lojas e a Gang, 48. Estamos mirando também a eficiência do e-commerce e da logística. Vai ser inaugurado, em breve, nosso centro de distribuição totalmente automatizado em Camaquã. Vai nos proporcionar mais agilidade no estoque, importante para expansão até Santa Catarina.
Como tem sido a experiência no Iguatemi, que não era óbvia?
Tem sido maravilhosa, depois de tantos anos com o mercado do Interior. Tínhamos só um shopping em Porto Alegre, o Total. Então, o Iguatemi veio para solidificar a marca. Digo que a Pompeia pode estar em qualquer lugar do mundo, porque conseguimos ter uma marca com preço acessível e um layout bacana. Estamos muito bem posicionados.
A empresa foi afetada pela enchente?
Primeiro, fomos cuidar dos nossos. Tivemos 150 funcionários afetados. Das nossas lojas, só uma ainda não foi aberta, a do Embarcadero. Não perdemos nenhuma. Em São Leopoldo e Canoas, tivemos só perda de produtos. As lojas do centro de Porto Alegre ficaram fechadas por mais tempo, mas não foram atingidas pela água. Também fizemos um 0800 para que as pessoas pudessem falar, uma espécie de acolhimento afetivo.
E como está sendo a recuperação?
Tem uma teoria que diz que, depois de grandes tragédias, a economia vem com tudo. Maio é o mês do Dia das Mães, a segunda data mais importante no nosso calendário. Neste ano, nem existiu, foi em plena enchente. Mas o que se viu na segunda quinzena de maio foi uma venda muito expressiva, porque houve muita compra de produtos para doação. As pessoas doaram, depois compraram para repor. Fechamos maio com o maior crescimento da história. Foi inesperado. Enfrentamos problemas de logística, mas as lojas estavam abastecidas, esperando o Dia das Mães, e tínhamos produto para entregar. Vi números do varejo, com crescimento no primeiro semestre de 5%. Estamos com esse número. Agora, há grande expectativa para o segundo semestre, que é decisivo.
Como está a competição com sites estrangeiros depois da taxa?
É um desafio do varejo global, de diversas maneiras. O aprendizado é que cada marca precisa ter seu diferencial. Diferentemente dosconcorrentes, trabalhamos com atendimento. Temos 3.211 funcionários e não abrimos mão das pessoas. Então, as lojas tem vendedores que criam uma relação com os clientes, principalmente nas cidades menores. É a humanização da venda. Também desenvolvemos pessoas, com planos de carreira. Está no nosso DNA.
Nas horas vagas, você ainda encaixa a presidência da Bienal do Mercosul?
A Bienal é uma paixão. Fiz a minha primeira, a 13ª, e me convenceram a ficar para a 14ª. Deveria ter começado em 12 de setembro, mas tivemos de transferir para 27 de março. O (Farol) Santander está até hoje se recuperando, o Margs (Museu de Arte do Estado) também. Todos os artistas concordaram em adiar. Vamos reestruturar tudo com calma. Conseguimos manter toda a enorme que há por trás. A novidade vai ser a ampliação dos espaços. Além dos museus convencionais, vamos ter Bienal na Lomba do Pinheiro, no Museu do Hip Hop, no Vila Flores. O tema desta edição é Estalo. Tem tudo a ver com o momento. O mundo é outro, temos de acordar para a vida. Estamos aí com os fenômenos climáticos, temos de encarar.
*Colaborou João Pedro Cecchini