Depois da apresentação do pacote de corte de gastos considerado insuficiente por especialistas em contas públicas, o dólar disparou e, na tentativa de acalmar o mercado, foi anunciado um choque de juro.
Desde então, começou a ser discutida a possibilidade de uma recessão no Brasil. Isso significaria ao menos dois trimestres seguidos de queda no PIB, com redução no consumo e na renda, o que significa empobrecimento da população.
Mas não é só um problema do "mercado"? Crises financeiras podem contagiar a economia real quando são ou muito profundas ou muito longas. Os mecanismos de transmissão de problemas são exatamente dólar, inflação e juro – mais ou menos nesta ordem.
Quando o dólar sobe muito ou fica mais alto por muito tempo, aumenta o preço em reais de vários tipos de produto: dos óbvios importados aos que têm componentes vindos do Exterior, incluindo até os que são produzidos no Brasil, com custo em reais, mas cujo preço é definido no mercado internacional, com petróleo, soja e aço, por exemplo.
Isso provoca aumento da inflação e, em consequência, o Banco Central (BC) precisa elevar o juro – ou deixar a taxa básica alta mais tempo – para tentar frear os repasses em cadeia que costumam ser feitos quando isso ocorre.
O crédito mais caro reduz o consumo de produtos e serviços de maior valor, que raramente são pagos à vista, como casa própria, veículos e até eletrodomésticos como fogão e geladeira.
A essa altura, o crédito para o investimento produtivo já ficou mais caro com a subida dos juros futuros, que servem de referência para o financiamento de longo prazo.
Mas isso significa que uma recessão, ou seja, um empobrecimento geral da população, especialmente das faixas de renda mais baixa, já está contratada? Há controvérsias. A Fecomércio-RS prevê que há risco considerável, mas por ora o que a maioria dos economistas preveem para 2025 é uma desaceleração da economia, ou seja, um crescimento menor do que o deste ano, que deve ficar ao redor de 3,5%.
— Falar em recessão, hoje, acho que é pintar um cenário muito escuro para a frente. Não descarto essa hipótese, mas não é o cenário que a Austin trabalha. O que vemos é uma desaceleração da economia. Com essa surpresa do Copom na semana passada, revisamos para baixo o crescimento do PIB para 2025, de 1,9% para 1,7% — afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.