Nem a projeção mais pessimista alcançou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Além da alta máxima prevista, de 1 ponto percentual de uma só vez, o comunicado já avisa que haverá mais dois iguais nas duas próximas reuniões. Depois de meses evitando dar sinais sobre os passos futuros, o Copom alerta agora:
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões".
Isso significa que, em 19 de março, a taxa básica de juro no Brasil estará em 14,25%, muito acima dos 13,75% que foram "herdados" por Luiz Inácio Lula da Silva no início de seu mandato e renderam tantas críticas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Um aumento de juro de três pontos em três meses é considerado um choque monetário. Esse tipo de medida serve para "esfriar" a economia, ou seja, para reduzir fortemente o crescimento, como forte de tentar controlar a inflação.
Nos últimos meses, o próprio Campos Neto mencionou várias vezes a necessidade de um choque fiscal. Teria ocorrido caso o pacote de corte de gastos tivesse sido considerado crível e efetivo. Como não foi, o remédio amargo será administrado pelo BC na forma de três pancadas no juro.
Para não deixar dúvidas, os diretores do BC também fizeram questão de apontar o "evento" que levou a essa decisão dramática:
"O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa."
— Mais importante (do que a elevação) foi a comunicação que sinaliza necessidade de mais duas altas de mesma magnitude, portanto um choque monetário de 3 pontos percentuais. É uma ação contudente, que procura reforçar o compromisso do Banco Central com o sistema de metas — avalia o economista-chefe do BV, Roberto Padovani.
O choque monetário mais recente, antes do anunciado nesta quarta-feira (11), foi executado pelo ex-presidente Alexandre Tombini. Levou a Selic de 7,25% para 11,75% ao ano entre abril de 2013 e dezembro de 2014, seguido de severa recessão. Agora, não terá a mesma intensidade, mas embute o risco de desacelerar muito a economia. Um dos objetivos seria blindar o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, de interferência presidencial.