Foi uma terça-feira (18) inusual no mercado financeiro. Pela manhã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu entrevista à rádio CBN e fez as críticas mais pesadas até agora ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Mesmo assim, a bolsa fechou em alta de 0,41% e o dólar ficou praticamente estável, com oscilação de 0,22%. Críticas a Campos Neto já renderam muito estresse. Desta vez, não.
Como na mesma entrevista Lula chancelou os planos de revisão de gastos dos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, prevaleceu essa leitura, há muito tempo aguardada. Outras palavras pesaram mais, e sinais externos ajudaram.
As críticas de Lula a Campos Neto foram pesadas. Sobrou até para os quatro diretores da instituição que já indicou, ou dizer que o BC é "a única coisa desajustada" na economia. No CPF, disse que Campos Neto "trabalha muito mais para prejudicar do que para ajudar o país" e "tem lado político".
Embora a primeira afirmação careça de sustentação, a segunda é até aceitável, depois que o presidente do BC participou de jantar organizado pelo governador de São Paulo e sinalizou que aceitaria cargo de ministro da Fazenda caso Tarcísio de Freitas se candidate e se eleja à Presidência.
Com uma instituição autônoma, críticas do presidente da República ao comandante do BC não são raras. Ocorrem também, eventualmente, nos Estados Unidos. Mas devem ser republicanas, para usar um termo caro ao partido de Lula. Isso significa que devem ser respeitosas e dirigidas ao trabalho, não à pessoa. Mesmo quando o ocupante do cargo, como pessoa física, der margem a críticas.
Os fatores de pressão no mercado
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção.
Eleições na Europa: embora fosse esperado o crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a expressiva votação da extrema direita na França fez o presidente Emmanuel Macron convocar eleições em seu país, o que eleva a incerteza na economia.