Terminou com uma espécie de parada para meditação a semana que teve uma das maiores turbulências do atual mandato no mercado financeiro, a ponto de colocar em questão a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nesta sexta-feira (14), dólar e bolsa se moveram pouco. Ao longo da semana, vários aliados do governo, inclusive o próprio Lula, afirmaram que nada havia acontecido com Haddad, mas os bancos e o Senado resolveram não esperar pela segunda-feira (17).
No movimento mais explícito, o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou que o ministro "não só está determinado a buscar o equilíbrio das contas do governo, também expandir esse diálogo para o Congresso e com todo o empresariado brasileiro".
A manifestação ocorreu depois de uma reunião entre Haddad e vários presidentes de bancos. Sidney fez questão de dizer que a presença no encontro também era para "reafirmar um apoio institucional" ao ministro.
Ecoou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que na véspera afirmara que o equilíbrio fiscal "não deve ser só do presidente Lula, é do Brasil. E como um problema do Brasil, nós do Legislativo temos que colaborar".
É bom lembrar que Pacheco foi padrinho de uma "pauta-bomba" que dava aumento de 5% a cada cinco anos para servidores do Judiciário e do Ministério Público, a PEC do Quinquênio. Menos mal que tenha chamado para si a responsabilidade.
Durante o dia, várias vez simplesmente não houve variação de bolsa e dólar, o que é bastante incomum. Quando se moveram, os indicadores orbitaram em torno do zero. Essa aparente inação, é bom lembrar, ocorre perto das mais recentes máximas, no caso do dólar, e das mínimas, no da bolsa. Não chega a ser tranquilização. É mais tempo para pensar, mesmo.
Os fatores de pressão cambial
Falta de perspectiva do início de cortes de juro nos EUA: a taxa alta lá e mais baixa aqui diminui a atratividade de investimentos no mercado financeiro no Brasil, e investidores resgatam aplicações aqui para migrar para mercados mais lucrativos. Em maio, saíram da chamada "conta financeira" US$ 11,434 bilhões, recorde para o mês de maio desde 1982.
Ajuste fiscal: a decisão do governo Lula de reduzir o déficit primário (despesas maiores que receitas antes do pagamento da dívida) só com aumento de arrecadação, sem corte de gastos, é considerada frágil e difícil de manter ao longo dos quatro anos de mandato. A recente ajuda ao Rio Grande do Sul, que eleva os gastos, contribui com essa percepção.
Eleições na Europa: embora fosse esperado o crescimento das bancadas que questionam a União Europeia, a expressiva votação da extrema direita na França fez o presidente Emmanuel Macron convocar eleições em seu país, o que eleva a incerteza na economia.