A coluna acompanha várias estimativas de perdas e necessidades do Rio Grande do Sul enquanto não fica pronta a que deve ser a mais abrangente, feita com metodologia da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) em parceria com Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Uma das realizadas fora do Estado, pela gestora de patrimônio Tag Investimentos, estima a ajuda conforme a disposição do governo federal. Se for mais "conservador", o desembolso efetivo ficaria em cerca de R$ 48,3 bilhões, se for mais "atuante", alcançaria R$ 117,6 bilhões - diferença de R$ 69,3 bilhões (veja tabela detalhada no final do texto).
Segundo André Leite, diretor de investimentos da Tag, a projeção foi necessária diante da relevância do Estado e dos impactos que pode provocar na economia nacional. Assim como outras análises dessa natureza, a conclusão foi de que o furacão Katrina é o evento mais comparável ao dilúvio de maio de 2024. A Tag tem 20 anos e administra cerca de R$ 13 bilhões.
— Até pelo capital instalado na região de New Orleans, a conta de reparos lá foi bem maior do que deve ser a do Rio Grande do Sul, tanto em percentual do PIB quanto em valor nominal — ressalva.
Mas para além dos cálculos de perdas, pondera, a ajuda da União vai depender muito de quão estimulativo o governo federal vai querer ser. As projeções para o Rio Grande do Sul da Tag estão em carta enviada aos clientes.
A perspectiva é a das contas públicas nacionais. O texto pondera que "estamos falando que o socorro imediato do governo, mais do que urgente e necessário, vira uma dívida que, em algum momento, precisa ser paga".
É por isso, inclusive, que André Leite vê um "efeito RS" na recente alta do dólar no Brasil. Explica que a tragédia provoca na economia, primeiro, um choque negativo de oferta, com as perdas no campo e a dificuldade de operação de indústria, comércio e serviços.
— Choques de oferta sempre são inflacionários.
Depois, no momento da reconstrução, acrescenta, embute um choque positivo de demanda. No caso do Estado, projeta que no primeiro momento, esse aumento no consumo não será absorvido pela oferta brasileira.
— Um pedaço vai virar importação, o que afeta a balança comercial.
Mas entre "conservador" e um "atuante", qual modelo o executivo imagina que vai dominar? No segundo, fica claro no texto enviado aos investidores:
"Sabemos que o governo está em plena campanha para recuperar prefeituras nas eleições municipais, além de querer manter a economia voando e o pleno emprego até a campanha presidencial. Com esse viés, creio que o número de impacto primário está mais para 1% do que para 0,6% em 2024".
A carta aos clientes ainda tem um pedido de ajuda ao Estado:
"A TAG Investimentos continua solidária aos nossos irmãos do Rio Grande do Sul, passando por essa tragédia climática sem precedentes na história do Brasil. Continuamos a estimular doações para o estado, direcionando para instituições sérias e agora focadas na reconstrução. Uma delas é o Instituto Floresta (institutoculturalfloresta.org.br)."
A estimativa
A projeção que depende da visão de governo, com valores em R$ bilhões
- Rubrica | Base | Conservador | Atuante
- Obras, Infraestrutura e Habitacional | 15,9 | 8,4 | 23,5
- Recuperação ambiental | 20,3 | 15,2 | 25,3
- Saúde 13,3 | 10,6 | 15,9
- Políticas de crédito | 7,1 |6,6 | 7,5
- Manutenção do emprego |3,6 | 1,8 | 5,3
- Recomposição de perda nominal de ICMS e ISS | 5 | 3,3 | 6,6
- Gastos sociais e transferência de renda | 4,9 | 2,4 | 33,5
- Total | 70 | 48,3 | 117,6