Com a mesma base usada pelo especialista em infraestrutura Claudio Frischtak para estimar as perdas em rodovias, energia, saneamento e telefonia, professores de universidades gaúchas projetam prejuízos bem mais modestos no Estado.
O ponto de partida é o estoque de capital fixo existente no Rio Grande do Sul, ou seja, o valor atualizado de construção residencial, infraestrutura e estruturas e máquinas e equipamentos.
A partir desses valores, os pesquisadores e professores Adalmir Marchetti, da PUCRS, e Alessandro Miebach, da UFRGS projetaram percentuais e chegaram a um valor que, mesmo bilionário, é bem mais modesto em relação a outros cálculos que circulam: R$ 28,7 bilhões.
Marchetti admite que o percentual médio de perdas projetado, de 1,79%, pode estar subestimado, mas pondera que é importante ficar com uma espécie de módulo: a cada 2% de destruição do estoque de capital fixo, a necessidade de reposição ficaria ao redor de R$ 30 bilhões.
— É uma tentativa de medida do efeito da enchente sobre a as condições existentes. Claro que, para reconstruir com maior resiliência, seria preciso fazer outro cálculo — afirma o professor da PUCRS.
Nessa conta, também ressalva Marchetti, não estão incluídos móveis e eletrodomésticos, nem o custo do salvamento de vidas.
— O custo será elevado, mas se as perdas forem o dobro do que estimamos, teríamos necessidade de R$ 60 bilhões. Embora pontes e partes de rodovias tenham sido levadas, outras vão secar sem necessidade, ao menos imediata, de reconstrução total. Há números que estão muito fora da realidade — reforça o professor da PUCRS.
Para os professores, o primeiro passo do restabelecimento é exatamente a retomada da infraestrutura básica.
— Precisamos poder sair de Porto Alegre e, em duas horas, estar em Caxias, e retomar a ligação com Lajeado e Estrela — exemplifica.
O passo seguinte é planejar o aumento de resiliência, que não pode se limitar a futuras cheias, precisa alcançar futuras secas, porque continuarão existindo. - depois que El Niño se retirar, vem La Niña, o que significa a habitual menor quantidade de chuva intensificada pela mudança climática. E, pelas características da economia gaúcha, terão forte impacto no PIB. Basta lembrar que duas estiagens sucessivas já fizeram o PIB gaúcho encolher abaixo do patamar de 6%, onde estava no histórico recente.
O cálculo
Item do estoque | Perda estimada | Valor correspondente
- Infraestrutura | 2% | R$ 13,76 bilhões
- Construção residencial | 2% | R$ 11,2 bilhões
- Máquinas e equipamentos | 1,5% | R$ 3,7 bilhões
- Total estimado de perdas | 1,79% | R$ 28,7 bilhões
A metodologia
O PIB do Rio Grande do Sul foi de R$ 640,3 bilhões em 2023, conforme o Departamento de Economia e Estatística do Estado (DEE). Os professores consideram que o Estado tem relação capital-produto de 2,5, o que significa que a cada R$ 2,5 de capital investido é produzido R$ 1 de riqueza, ou seja, de PIB. O estoque de capital da economia gaúcha é estimado em R$ 1,6 trilhão, dos quais 43% são em infraestrutura, 35% em construção residencial e 22% em máquinas e equipamentos. O percentual de perdas foi estimado pelos professores para ter um "módulo básico" que possa ser multiplicado.
O debate
O impacto econômico da enchente de 2024 e as possíveis estratégias de enfrentamento com olhar para desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul serão assuntos de debate organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) da PUCRS na próxima segunda-feira, dia 27. O Seminário sobre os Efeitos Econômicos da Maior Enchente do Rio Grande do Sul terá participação das faculdades de Economia e Desenvolvimento Rural da UFRGS, de Unisinos, Ufpel, URG, UFSM, UCS, Uergs, UPF, Unipampa, Unisc, Univates, UNF – Santa Maria; Unilassale; Fahor, DEE-RS e Secretaria da Fazenda do Estado. O evento é aberto ao público e ocorre às 16h, neste link do YouTube.
PARA LEMBRAR: ainda há emergências a atender e uma reconstrução desafiadora pela frente, para as quais será necessária toda a ajuda disponível e mobilizável, por menor que seja. Se for grande, melhor ainda. Se puder, por favor, contribua. Saiba como clicando aqui.