Qual é o diagnóstico da economia brasileira nesta virada de 2024 para 2025? Tudo vai bem, como mostram a menor taxa de desemprego e maior massa salarial das respectivas séries históricas? Ou tudo vai mal, com a sexta maior alta do dólar da história e também sexta maior desvalorização do real no mundo?
Parece, mas não significa apenas que o Brasil vai bem na economia real e mal nos indicadores financeiros – embora seja uma constatação óbvia. O que parece contraditório é, na verdade, uma relação de causa e consequência, ao menos na visão do mercado.
Os bons níveis de emprego e renda são resultado de políticas sociais do governo Lula. O conjunto Bolsa Família de R$ 600, reajuste real (acima da inflação) do salário mínimo e aumento nos pagamentos do Benefício de Prestação Continuada (BPC) mantém o consumo elevado, que estimula produção e contratações.
A manutenção desse conjunto exige mais gastos do governo. Do ponto de vista das contas públicas, a consequência das políticas sociais geradoras de emprego e renda é o rombo no orçamento.
O principal mecanismo de transmissão é a previdência social. A União não paga todos os salários mínimos recebidos no Brasil – boa parte está na iniciativa privada –, mas as aposentadorias bancadas pelo setor público e quase todos os benefícios sociais são vinculados ao piso nacional.
Foi por isso que uma das principais decepções com o pacote de corte de gastos foi a manutenção dessa vinculação. Mesmo economistas que se declaram "não fiscalistas", ou seja, que não colocam o equilíbrio das contas acima do bem-estar da população, consideram adequada a manutenção da correção dos benefícios pela inflação, sem aumento real. Um dos argumentos é que o fundamento desse mecanismo é a a repartição dos ganhos de produtividade na economia.
Com renda em alta, ponderam os especialistas em inflação, fica mais fácil repassar aumentos acentuados pela alta do dólar aos preços. Isso significa que a economia real aditivada pela política fiscal tende a se traduzir em mau humor financeiro, pressionando câmbio e juro básico.
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