Houve um momento, logo depois que as águas do dilúvio de maio baixaram, que a jornalista que assina esta coluna sentiu arrepios. Enquanto gestores públicos apontavam a necessidade de fazer projetos de infraestrutura com mais resiliência – maior capacidade de resistir a fenômenos climáticos severos –, proliferavam pelo Estado iniciativas para restabelecer conexões ainda mais precárias do que as existentes antes.
Na época, havia uma tese para essa aparente contradição: estruturas emergenciais eram necessárias para recuperar conexões, em um segundo momento seriam providenciadas as estruturas mais resilientes.
Na quinta-feira (2), veio o espanto: a ponte de contêineres construída em Feliz, no Vale do Caí, foi levada pela elevação do Rio Caí. Durou pouco mais de dois meses. E foram gastos recursos da comunidade para a construção emergencial. Mais arrepios.
O episódio de Feliz evidencia que não é preciso um evento climático severíssimo, como os de maio de 2024, para desafiar obras não projetadas e construídas com maior resiliência.
Isso significa maior custo, embora haja divergências sobre o quanto mais é necessário para garantir capacidade de resistir a mais vento e mais água. Mas não há tempo a perder.
Embora o governo federal tenha liberado R$ 6,5 bilhões para obras de prevenção às cheias, prevê outro tipo de intervenção, focada em construção de diques e no fortalecimento do sistema de proteção da Capital.
Deveria ser suficiente evitar que o prefeito reeleito, Sebastião Melo, considerasse razoável anunciar que Porto Alegre "vai continuar alagando". Mas não inclui soluções para cidades tão esperançosas quanto a que mereceu o nome de "Feliz".