Após sofrer com a recessão, o mercado imobiliário dá sinais positivos no país. No segundo trimestre, as vendas residenciais subiram 16% ante igual período de 2018, conforme a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Na entrevista a seguir, o presidente da entidade, José Carlos Martins, avalia possíveis estímulos e riscos ao setor.
Como analisa o atual momento da construção civil no país?
Temos quatro pilares: mercado imobiliário, infraestrutura, obras públicas e obras industriais. Exceto o imobiliário, os outros estão meio parados. Aqueles que não andam de lado, andam para trás. O imobiliário está reagindo no país, muito pelo mercado com recursos da caderneta de poupança.
Quais regiões estão se destacando no setor imobiliário?
Os Estados que estão se saindo melhor são aqueles que dependem menos das condições dos governos locais. Por exemplo, o Sudeste está bem, mas o Rio de Janeiro está mal. O Rio Grande do Sul é um dos que estão andando meio de lado. Apesar de ter agronegócio forte, o Estado vê o governo em dificuldades. Sem elas, estaria mais para frente no ranking. Em São Paulo, a retomada já chegou. Há demanda reprimida que vem sendo consumida. Por exemplo, você casou e foi morar na casa do sogro. Chega uma hora em que você vai embora de lá.
Qual a projeção para as vendas imobiliárias em 2019?
Calculamos crescimento de cerca de 10% nas vendas gerais. O mercado que deve puxar a alta é o de caderneta de poupança.
A Caixa Econômica Federal anunciou, em agosto, linha de crédito imobiliário com base na inflação. Qual o impacto?
A avaliação é positiva. A nova linha de crédito pode provocar concorrência efetiva no setor bancário e entrada mais forte de dinheiro no mercado.
Como a liberação de saques do FGTS pode afetar a construção no país?
O governo quer liberar saques num total de R$ 40 bilhões (até 2020). É muito dinheiro. Sabe quantas casas daria para fazer com essa quantia? 400 mil. Em média, cada financiamento na Caixa é de R$ 100 mil. Essa demanda poderia abrir mais de 400 mil empregos. Investimentos geram vagas de trabalho de qualidade.
Devido ao aperto fiscal, o governo estaria estudando suspender contratações do Minha Casa Minha Vida em 2020. Como isso atingiria a construção?
Estamos vendo se terá dinheiro para os contratos atuais. A nossa briga agora é pelo pagamento daquilo que já foi acertado, e não pelas novas contratações.
Qual o cenário para as demais áreas da construção?
Na parte das obras públicas, é preciso dar um tempo. Enquanto o governo não recuperar a capacidade financeira, não adianta. O setor de obras industriais deve ter uma crescidinha. Com a capacidade ociosa nas fábricas, o empresário não investe. Mas, no instante em que sentir alguma melhora, vai fazer isso. A infraestrutura deverá ser o carro-chefe da retomada.
Por quê? Pode haver efeito positivo de concessões ao setor privado no país?
Sim. Mas esses projetos são de prazo grande de maturação. Não adianta, o governo não tem mais dinheiro para investir como antes. Quando falamos em infraestrutura, ninguém bota recursos em algo em que não acredita. Por isso, é muito importante ao país ter mais segurança jurídica.