O Brasil vai entrar no radar do indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB). O índice que "rivaliza" com o tradicional Produto Interno Bruto (PIB) mede a satisfação da população com fatores que interferem na qualidade de vida. Caio Queiroz, CEO da empresa de soluções sustentáveis Aguama Ambiental, foi ao Butão, país espremido entre China e Índia, para conhecer os mecanismos e prevê começar a implementar a metodologia em Fernando de Noronha. Depois, expandir para outras regiões para redirecionar políticas públicas.
Como surge o indicador de Felicidade Interna Bruta (FIB)?
O Butão tem uma religiosidade muito aflorada. O índice foi desenvolvido no país para entender a satisfação das pessoas com vida, saúde, bem-estar, educação, renda e segurança financeira, liberdade e participação social, confiança nas instituições e qualidade ambiental. São feitas entrevistas com toda a comunidade. É um questionário de 72 páginas, com questões objetivas e dissertativas, para melhorar políticas públicas e qualidade de vida.
E o convite para ir ao Butão?
Temos uma parceria com a Renata Rocha, da Youniversality, que já trabalha com isso há 20 anos. Foi aluna do (Dasho) Karma Ura, o ministro do Butão responsável pelo índice de felicidade. E a gente vem organizando alguns fóruns de sustentabilidade e turismo em regiões do Brasil onde atuamos. Levamos o conteúdo para Fernando de Noronha, porque precisávamos dar uma atenção especial para a comunidade. Há forte índice de depressão, de insatisfação. Apesar de as pessoas morarem em um paraíso, trabalham demais, porque o custo de vida é alto, e a qualidade de vida que recebem de volta não é equilibrada. Então, decidimos implementar o índice em Fernando de Noronha. O rei (do Butão, Jigme Khesar Namyel Wangchuck) nos convidou para ir ao Butão entre os dias 10 e 20 de dezembro, para nos apresentar a Mindfulness City, que vai começar a ser construída agora, toda voltada à sustentabilidade e qualidade de vida.
A metodologia terá de ser alterada para aplicar no Brasil?
Está muito incipiente. Vamos ter de fazer uma tropicalização do questionário, porque os valores do Butão são completamente diferentes dos do Brasil. O piloto deve ser em Fernando de Noronha. Depois, podemos começar a espalhar para outras regiões.
Qual é a relação do FIB com outros indicadores econômicos?
Em uma cidade, por exemplo, em que não há saneamento básico, coleta seletiva e serviço de saúde adequado, as pessoas estão mais suscetíveis a ser infelizes. Em um ambiente deplorável, há maior chance de ter pessoas infelizes. Se trabalhar todo mundo junto, iniciativa pública e privada, para melhorar esses índices todos, é possível criar uma bola de neve positiva e, consequentemente, o povo será mais feliz.
Mas há relação entre indicadores?
Sim, envolve vários índices, por exemplo, de segurança, saúde e custos, conectando com sustentabilidade e capitalismo consciente e equilibrando todos os ecossistemas da cidade. Há instituições pesquisando para mostrar na prática que a felicidade é importantíssima para melhorar os índices todos, econômicos, sociais e ambientais de um país. A felicidade é uma fórmula positiva para inserir em corporações e municípios em busca de um desenvolvimento mais sustentável.
Por que o debate ainda é incipiente?
O termo desenvolvimento sustentável foi desenvolvido em 1987. Hoje, atendo algumas empresas que não têm diretoria de sustentabilidade. Infelizmente, a humanidade demora a reagir, porque estava muito focada no índice financeiro. Agora, o trabalho é de conscientização, fazer com que os setores público e privado compreendam e adotem uma gestão mais responsável, e as pessoas vivam de forma mais equilibrada. Todos esses conceitos cruzam com a sustentabilidade e a felicidade para fazer a humanidade acordar e inserir logo esses índices todos para que a gente tenha um ambiente mais preservado e qualidade de vida melhor.
Quando projeta ter resultados do teste em Fernando de Noronha?
Queremos tentar começar essa pesquisa no segundo trimestre de 2025. Vamos ter mais informações entre o final de 2025 e o início de 2026.
*Colaborou João Pedro Cecchini