A construção civil demonstra sinais de otimismo no Rio Grande do Sul. Segundo empresários, a confiança com a retomada dos negócios está relacionada, em parte, ao desempenho positivo de nichos específicos do mercado imobiliário nos últimos meses. A leitura de que a pior fase da crise ficou para trás e o lançamento de linha de crédito habitacional da Caixa também animam o setor, apesar de a economia ainda colecionar dificuldades em todo o país.
Empresários dizem que um dos nichos com bom desempenho no Estado é o de apartamentos compactos. Com área reduzida, esses imóveis são destinados a clientes que vivem sozinhos ou casais sem filhos, por exemplo. Outro segmento que tem se destacado é o de alto padrão, com preços mais elevados, que podem ultrapassar os R$ 4 milhões, conforme representantes do setor.
Embora haja otimismo em relação aos negócios, a construção ainda patina na geração de empregos formais. No período de 12 meses encerrado em julho, o setor fechou 4,1 mil vagas com carteira assinada no Rio Grande do Sul. O saldo decorreu da diferença entre 69,7 mil contratações e 73,8 mil demissões, apontou o Ministério da Economia.
— A retomada plena ainda não chegou, mas o ânimo está maior. Durante a crise, as construtoras investiram mais em pesquisa de mercado. Com isso, descobriram o potencial dos compactos. Esses apartamentos podem ser alugados facilmente em sites como Airbnb e ficam em prédios com lavanderias e outros espaços compartilhados, o que agrada a jovens. Já o alto padrão não sentiu tanto a crise, porque não depende de financiamentos — explica o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado (Sinduscon-RS), Aquiles Dal Molin Júnior.
Diretor-executivo da incorporadora Melnick Even, Juliano Melnick menciona que as vendas, em termos gerais, seguem neste ano em nível "razoavelmente parecido" ao de 2018 na Capital. Segundo ele, há um conjunto de sinais promissores para o restante do ano. Além do bom desempenho do segmento de imóveis compactos, o empresário sublinha que grandes mercados brasileiros, como o paulista, apresentam indícios mais consistentes de reação.
No primeiro semestre, a Região Sudeste teve alta de 24,3% nos lançamentos de unidades residenciais e de 22,8% nas vendas, frente ao mesmo período do ano passado. No Sul, também houve resultados positivos, mas com menor vigor. Enquanto os lançamentos subiram 12,7%, as vendas avançaram 11,2%, indicou a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
— São Paulo é a praça mais dinâmica do país. Normalmente, o mercado de lá se deteriora ou reage às crises antes dos demais. Esses movimentos costumam levar até um ano para chegar a locais como Porto Alegre. A melhora em São Paulo é um bom indicador. Temos aqui um cheiro de retomada mais forte do setor, que pode se confirmar no segundo semestre ou no próximo ano — analisa o diretor da Melnick Even, que fechou 2018 com recorde de vendas, no valor de R$ 645 milhões.
Primeira alta desde 2014
No país, a construção ajudou o Produto Interno Bruto (PIB) a ficar no azul no segundo trimestre. Depois de 20 baixas consecutivas, a atividade avançou 2% ante igual período do ano passado, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, foi o primeiro resultado positivo desde 2014.
Os indícios de melhora ainda se refletiram, em agosto, na confiança dos empresários do setor, que cresceu 2,2 pontos no país. Calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o indicador alcançou a marca de 87,6 pontos, a maior desde dezembro de 2014, em escala de zero a 200.
Diretor da Regional Sul da Cyrela Goldsztein, Rodrigo Putinato atesta a visão otimista. Segundo ele, a incorporadora vem sentindo momento melhor na Capital desde o final de 2018. No ano passado, os lançamentos da empresa em Porto Alegre chegaram a R$ 375 milhões, e a meta é quase dobrar a cifra em 2019, afirma Putinato.
— O mercado ficou muito tempo em recessão. Como as coisas são cíclicas por natureza, agora vem um bom momento. A confiança aumentou — relata.
Em agosto, a Caixa anunciou nova linha de crédito imobiliário, que tem como base a variação da inflação no país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Isso significa que, em momentos de IPCA em nível mais baixo, como o atual, o financiamento pode se tornar mais barato. No sentido contrário, em caso de alta na inflação, as parcelas ficariam mais caras.
— O ano passado foi um pouco duro para o setor no Estado. Agora, vemos sinais de reação. A nova linha da Caixa também pode ajudar — diz o gestor comercial da construtora MRV Engenharia no Rio Grande do Sul, Marcello Rosito.
Segundo o executivo, o número de lançamentos de imóveis da empresa no Estado deve se aproximar de 4 mil unidades neste ano, marca similar à de 2018.
O que levar em conta antes de comprar um imóvel
- Educador financeiro do GuiaInvest, Adriano Severo afirma que, antes de comprar um imóvel, é aconselhável fazer um "planejamento pessoal" de pelo menos 10 anos.
- A ideia é evitar uma aquisição que não se encaixe aos objetivos traçados. Por exemplo: um casal pode financiar um apartamento de um quarto e, durante o período de pagamento, resolver ter filhos. A lógica é que o espaço fique pequeno para receber as crianças.
- Severo também frisa que os gastos relacionados à compra de um imóvel vão além do pagamento do bem. Os custos de eletrodomésticos e móveis também precisam entrar no orçamento.
- Para o especialista, a nova linha de financiamento imobiliário da Caixa Econômica Federal é "interessante" por representar opção a mais na hora de negociar a compra de apartamento ou casa. Por outro lado, Severo sublinha que, se houver alta na inflação, as parcelas ficarão mais caras. Isso significa que a operação não está livre de riscos.
- A inflação medida pelo IPCA atingiu 3,43% no acumulado de 12 meses encerrado em agosto, abaixo do centro da meta perseguida pelo Banco Central neste ano, de 4,25%.