A partir da próxima segunda-feira (26), a Caixa Econômica Federal passará a oferecer um financiamento imobiliário com taxa de juro mais baixa. Até aí, a notícia seria perfeita não fosse uma informação importante: esse tipo de contrato será reajustado mensalmente pela inflação, tendo como referência o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
A nova linha de crédito para a casa própria vai oferecer juro entre 2,95% e 4,95% ao ano, sendo o mais baixo oferecido a servidores públicos que recebem pela Caixa. O banco financiará até 80% do imóvel e o prazo será de 30 anos.
A partir de agora, os interessados terão a possibilidade de escolher entre a nova modalidade e a que já existe: taxa entre 8,5% a 9,5%, mais a TR, que no momento está zerada. Essa escolha precisa ser tomada com atenção.
A Associação dos Mutuários das Regiões Sul e Sudeste (AMMRS) recomenda cautela. Isso porque, atualmente, há vantagem na largada do financiamento: prestação inicial até 50% menor para quem escolher a vinculação ao IPCA, dependendo do perfil de relacionamento com o banco. Mas a perspectiva de inflação futura no Brasil pode virar o jogo.
— Em um financiamento de curto prazo, tipo 10 anos, pode ser uma boa opção o contrato atrelado à inflação. Mas essa realidade é a de uma minoria. Para a grande parcela dos mutuários, o financiamento é de 30 anos. Se a inflação for de 12%, por exemplo, o reajuste será esse mais a taxa da Caixa — alerta o diretor institucional da AMMRS, Anderson Machado.
Mais caro nos últimos 15 anos
Uma simulação das duas opções realizada pelo fundador da Resale, plataforma que vende imóveis retomados pelos bancos, ilustra o dilema dos futuros mutuários. Segundo os cálculos de Marcelo Prata, um consumidor que tivesse contratado financiamento de R$ 400 mil teria pago ao fim dos últimos 15 anos R$ 767 mil. No sistema atual, no mesmo prazo, o custo seria de R$ 737 mil, uma diferença a mais de R$ 30 mil.
— Existe uma vantagem estrutural com essa medida, que é atrair investidores para esse mercado, com mais recursos para financiar a casa própria, não só nos grandes bancos. Trazer o IPCA ajuda o mercado como um todo. Mas no curto prazo, é um encarecimento do crédito se considerarmos que o IPCA é maior que a TR. Para compensar isso é que a Caixa terá juro menores — avalia Prata.
As linhas de financiamento da Caixa
Modalidade já existente
Taxa entre 8,5% a 9,5% ao ano, mais a TR (atualmente zerada)
Vantagens
- Oferece maior previsibilidade quanto ao valor da prestação.
- É ideal para quem não quer correr riscos, ainda mais aqueles que não têm as fontes de renda atreladas de imediato a variação da inflação.
Desvantagem
- Pode acabar custando mais caro, ao final, no caso da inflação seguir sob controle e até cair mais no futuro.
Modalidade nova, a partir de segunda-feira (26)
Taxa entre 2,95% e 4,95% ao ano mais o IPCA (estimativa de fechar 2019 em 3,71%)
Vantagens
- Prestações iniciais mais baixas.
- É opção para quem aposta em uma queda da inflação e tem correção da renda pela inflação, tanto assalariado quanto prestador de serviços.
- Um financiamento com prazo menor, até 10 anos, pode compensar o risco de uma virada na inflação.
Desvantagens
- Por mais que não seja interesse do governo, a inflação não é controlada por decreto. Há menos de cinco anos, por exemplo, o IPCA passou dos 10%.
- Caso a inflação galope, não será possível trocar de modelo e voltar para a TR.
- A portabilidade de contrato (levar o financiamento para outro banco) só será possível para contratos com um mesmo indexador.