A primeira dica para quem está planejando uma viagem de férias para o Exterior ou um período de intercâmbio é estruturar a conversão da moeda em etapas. Como está sujeita a variações, a troca dos reais por dólares ou euros não deve ser feita de uma vez só, já que a cotação varia diariamente e pode ficar mais favorável com o tempo.
No universo de projeções de economistas e analistas financeiros, o câmbio desponta como o indicador mais difícil de prever. As variáveis que incidem na relação entre o real e o dólar americano são múltiplas e dependem tanto de aspectos geopolíticos, como uma guerra que não tem data para acabar, quanto monetários, como a taxa de juro. A previsão do Relatório Focus, do Banco Central, é de que a cotação do dólar fique em R$ 4,95 no fim de 2023. A moeda americana caiu, apesar de uma alta recente.
— Pensando em um bom planejamento financeiro antes de viajar, o recomendado é que a pessoa faça a conversão do real para a moeda estrangeira gradualmente, ao longo do período que anteceder a viagem, para aproveitar os momentos de melhor câmbio no mercado. Essa estratégia é chamada de dollar-cost averaging e visa reduzir os efeitos da volatilidade do preço do câmbio — afirma Caio Fasanella, head de Investimentos da Nomad.
Assim como o mercado bancário, que passou por uma revolução com as novas fronteiras da tecnologia, o setor de câmbio também se ampliou. O professor Marcos Piellusch, da FIA Business School, contextualiza:
— Antigamente, as opções eram restritas às casas de câmbio e aos bancos, adquirindo moeda em espécie. Posteriormente, surgiram os cartões de débito, que permitem a carga e a utilização para compras no Exterior e na internet. Há alguns anos surgiram as empresas de meios de pagamento que permitiam a aplicação de recursos em moeda estrangeira.
De acordo com Piellusch, o mercado também dispõe hoje de contas internacionais em diversos bancos, que permitem ao cliente utilizar o seu cadastro em um banco digital para transferir recursos em moeda estrangeira em tempo real para dólar, euros e outras moedas. O processo pode ser feito pela internet ou em aplicativos, explica. Ao criar a conta, a maioria dos serviços pede dados como passaporte, documento de identificação e endereço para a emissão e entrega do cartão. Há cobrança de taxas variadas.
Investimento
Além da compra de moeda estrangeira para viabilizar uma viagem ou curso lá fora – a queda do dólar torna destinos como a Argentina muito interessantes para o turista brasileiro –, é possível aproveitar o ganho com as oscilações cambiais com a aquisição de ativos, podendo ainda obter juro.
— As opções começam com os tradicionais fundos cambiais, que obtêm ganhos com oscilações nas moedas estrangeiras. A aplicação e o resgate são feitos em reais, mas é necessário ficar de olho no prazo do investimento, porque em alguns casos podem ocorrer oscilações no preço das cotas e na tributação, que comprometem o rendimento — explica o professor da FIA Business School.
É possível também investir em Exchange Traded Funds (ETFs), que proporcionam rendimento em dólar, mas são negociados no Brasil. Esses ativos são disponibilizados por meio de uma corretora aqui, e os preços podem oscilar. No entanto, há fundos de diversos tipos, de renda fixa, renda variável, criptomoedas etc.
Compare para não perder as férias
Veja as opções mais comuns e quais os prós e contras para decidir:
- Compra de papel moeda: a recomendação é levar sempre uma parte dos recursos em papel moeda. De acordo com Regis Radin, diretor superintendente do Supercâmbio, de preferência, os valores devem ser convertidos na moeda do país de destino, mas em uma quantidade pequena – porque, via de regra, utiliza-se muito mais o cartão. Além disso, este é mais seguro e tem taxas de câmbio mais atraentes, avalia. IOF: 1,1%.
- Cartão pré-pago: na avaliação de Radin, os cartões pré-pagos eram a melhor opção para viagens internacionais até pouco tempo atrás. Porém, o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dessa modalidade está em 5,38%. Com isso, eles se tornaram caros e, aos poucos, as pessoas pararam de usar. IOF: 5,38%.
- Cartão de crédito internacional: sempre foi uma opção, mas também ficou desfavorável em função do IOF de 5,38%. Para o diretor superintendente da Supercâmbio, além disso, a cotação do dólar que os bancos utilizam para converter as compras para reais é mais cara. Sendo assim, não é a melhor opção. Talvez seja importante ter o cartão de crédito como segurança, para alguma eventualidade, diz. IOF: 5,38%.
- Conta internacional: para o especialista, é a melhor opção.
— A pessoa está abrindo uma conta internacional no seu nome, tudo de forma automática e digital pelo aplicativo e, como existe um cartão de débito da conta, utiliza-se esse cartão no Exterior de forma fácil e prática. O cartão funciona sempre na moeda do país que a pessoa estiver, ou seja, mesmo que a conta internacional seja em dólar, se estivermos na Europa, por exemplo, vai funcionar normalmente na Zona do Euro, fazendo a conversão de forma automática — explica Radin.
No caso dos cartões internacionais, o IOF é de 1,1%. Em relação à taxa de câmbio, também costuma ser atraente, o que torna mais barata a conversão, avalia o especialista. No Brasil, entre as empresas e bancos que têm esse tipo de serviço estão a BS2, o Banco C6, Avenue, Wise, Revolut e Nomad. IOF: 1,1%.