Taxas cambiais e impostos na compra de moedas estrangeiras podem abocanhar uma parte do orçamento da viagem de turistas brasileiros, o que leva à busca por alternativas mais baratas que as “cotações turismo”. Empresas voltadas à tecnologia financeira, chamadas de fintechs, se dedicam a criar alternativas que ofereçam serviços competitivos aos viajantes interessados em fugir das taxas do câmbio turismo e de impostos mais caros.
Mais caras que a cotação comercial, o meio tradicional permite ao viajante partir para seu destino com dinheiro em espécie na carteira. Em valores desta segunda-feira (10), adquirir US$ 100 em espécie custaria entre R$ 525 e R$ 532, segundo simulações feitas por GZH em páginas de casas de câmbio turismo de Porto Alegre. A cota soma taxas de até 5% ao preço comercial da moeda, de R$ 5,06. Já com cartões internacionais, cada gasto lá fora pode sofrer um adicional superior a 10% em taxas.
A opção é necessária para viagens a locais que abandonaram o dinheiro vivo e passaram a adotar transações exclusivamente digitais, como em localidades da Europa e dos EUA. Também há agências que ofertam cartões pré-pagos – nesta modalidade, a cotação média cobrada para o dólar na data, por exemplo, era de R$ 5,58. Ou seja, 10% a mais que o preço comercial da moeda.
Com a alternativa oferecida pelas fintechs, nas transações das contas e carteiras digitais, o IOF cobrado é de 1,1%, enquanto o de cartões internacionais atinge 6,38%. GZH conversou com empresas que oferecem soluções digitais em finanças voltadas a viajantes internacionais e com valores mais próximos do câmbio comercial.
As fintechs Nomad e Wise, por exemplo, representam modelos de negócio distintos que prometem custos menores do que os convencionais para transações internacionais, enquanto bancos digitais como Inter e C6 também têm serviços destinados a viajantes internacionais para seus correntistas.
Opções digitais para moeda estrangeira
A Wise oferece a chance de converter dinheiro em reais para moedas estrangeiras apenas por meio de seu aplicativo, com taxas que vão de 0,9% a 2% sobre as cotações comerciais. Na prática, a instituição mantém sede em diversos países e, ao receber um depósito em uma localidade, disponibiliza de forma instantânea um saldo equivalente na moeda escolhida – o que alivia custos com câmbio internacional, já que não há transferência direta.
Um depósito no Brasil para conversão em dólar geraria um crédito junto à empresa, por exemplo, nos EUA – nesse caso, toda a intermediação é garantida somente pela própria Wise e seus depósitos nos países em que atua. Ou seja, funciona como uma espécie de carteira digital pré-paga. Além disso, a Wise disponibiliza cartão de débito.
— Você pode ter seu saldo em até 50 moedas diferentes, como reais, euro e dólar. Em cada uma delas, é como se você tivesse uma conta em um banco lá fora. Você abre uma conta com a gente, deposita reais e a Wise converte esse dinheiro. É como um envio de dinheiro para fora de você para você mesmo — explica a executiva Helene Romanzini, gerente de marketing de produto na Wise para África, América Latina e Oriente Médio.
Já a Nomad funciona como uma “ponte” digital entre uma conta brasileira e outra nos EUA em dólares, regrada pelo Banco Central norte-americano, o que permite ao cliente investir diretamente em fundos estrangeiros de renda fixa e variável. Na transação, o usuário paga o imposto de transferência ao exterior (1,1%) e ganha um cartão internacional em dólar, que permite gastos em qualquer local do mundo com as mesmas tarifas que um norte-americano pagaria: uma taxa de spread entre 1 e 2%.
— A poucos cliques é permitido ao brasileiro que reside no Brasil abrir uma conta corrente nos EUA e também uma de investimentos, em que ele pode ter acesso a mesma jornada de um cidadão norte-americano na compra de fundos, investimentos, ações e produtos — diz o executivo Ernani Assis, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Nomad, que ressalta que a fintech oferece descontos aos viajantes em aeroportos, restaurantes e aplicativos globais de aluguel e hospedagem.
No caso de bancos digitais com serviços de contas globais, esses grupos abrem uma filial no estrangeiro e permitem aos correntistas brasileiros que mantenham valores no exterior na mesma plataforma que suas contas usuais. No caso da C6, o banco tem uma agência nas ilhas Cayman, paraíso fiscal que permite a abertura de contas multimoedas, com valores em dólar e euro. Nesse caso, a taxa cobrada sobre o dólar comercial são 1,1% de imposto mais um spread de 2%.
— O grande diferencial: o seu banco tem uma conta lá fora. Tudo é feito no mesmo aplicativo, em tempo real, com conversão da moeda brasileira para dólar em segundos e um cartão simples de usar, sem burocracias — explica o executivo Maxnaun Gutierrez, head de produtos do C6 Bank, que ressalta que a escolha pelas ilhas Cayman se dá porque é uma jurisdição que permite a abertura de contas em qualquer moeda do mundo.
É preciso registrar eventuais bens, investimentos ou contas bancárias no exterior ao fisco na aba "Bens e Direitos" da declaração de imposto de renda. Enquanto a Wise deve ser registrada como uma operação de câmbio, C6 e Nomad são depósitos localizados no exterior – C6 nas Ilhas Cayman e Nomad nos EUA. Caso o contribuinte realize investimentos em bolsas de valores estrangeiras por meio do banco ou da fintech, os valores também devem ser declarados.
Custo, segurança e praticidade
A escolha por uma ou outra varia conforme moeda e destino, já que cada modalidade tem suas vantagens a depender dos planos de cada viajante.
Vale considerar o seguinte:
- É importante que o meu dinheiro seja segurado por um fundo garantidor regulado por um Banco Central? Isso dá mais segurança a seus depósitos diante do risco de falência das instituições. Em relação a isso, aplicativos ligados a bancos são mais seguros
- É importante que meu dinheiro depositado na conta ou carteira digital em moeda estrangeira possa render ou ser investido em algum fundo de renda fixa ou variável?
- É importante que o spread (taxa bancária) seja o menor possível?
- É importante que as transações de real para a moeda estrangeira sejam ágeis, ou não importa se elas demorarem até dois dias?
- Meu destino privilegia o uso de dinheiro vivo ou usa cartões digitais, como na Europa?
À GZH, o Banco Central (BCB) indicou que as instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio podem ser consultadas na página do BCB.