O dólar fechou nesta quarta (23) no menor valor desde 2 de agosto, cotado a R$ 4,8554. Foi o segundo pregão consecutivo de perdas firmes da moeda americana, que já acumula recuo de 2,27% na semana. Os ganhos em agosto, que chegaram a se aproximar de 6% quando o taxa de câmbio flertou com os R$ 5,00, agora são de 2,66%.
À aprovação final do arcabouço fiscal por ampla margem na Câmara dos Deputados na terça-feira à noite somou-se nesta quarta um ambiente externo positivo para divisas emergentes, que subiram em bloco na comparação com a moeda americana.
O real liderou o pelotão, ao lado do rand sul-africano e do peso chileno. As taxas dos Treasuries recuaram, com o retorno da T-note de 10 anos voltando a operar abaixo de 4,20%, na esteira de dados abaixo do esperado de índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) nos Estados Unidos e na Europa. Na contramão do comportamento dos contratos futuros de petróleo, que fecharam em baixa, as commodities metálicas avançaram.
Alta no Ibovespa
O índice Ibovespa, da Bolsa de Valores B3, teve alta de 1,70%, a 118.134 pontos, e pressão vendedora no segmento futuro, com o apetite estrangeiro por ações.
Após dois dias de giro muito fraco, o contrato de dólar futuro para setembro — principal termômetro do apetite por negócios — movimentou mais de US$ 12 bilhões.
O head da Tesouraria da Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o real se destacou nesta quarta no mercado global de moedas, apresentando, ao lado do rand sul-africano, os maiores ganhos em relação ao dólar. Ele observa que o real subiu mais 1,7%, enquanto o peso mexicano, com o qual a moeda brasileira é bastante correlacionada, teve alta ao redor de 0,7%.
— Temos fatores com os Treasuries e as commodities ajudando o real. Mas tem um peso relevante do arcabouço fiscal no comportamento do real. Além da queda do dólar, estamos vendo um recuo dos juros futuros longos e a alta da Bolsa — afirma Weigt, acrescentando que a aprovação por ampla margem mostrou mais uma vez o que a Câmara dos Deputados "segura as pontas" na questão fiscal.
— O arcabouço não é o ideal. Parece difícil fechar o ano que vem sem déficit porque precisa aumentar bastante a receita. Mas evita o risco de cauda de crescimento explosivo de gastos e da relação dívida/PIB, o que dá tranquilidade não apenas ao mercado financeiro mais a todos os agentes econômicos — disse.
Aprovação da nova regra fiscal
A Câmara aprovou na terça o novo arcabouço, após as mudanças do Senado, com 379 votos a favor e 64 contrários. Deputados mantiveram fora do limite de gastos o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e os recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF).
Foi retirado do texto pelo relator da matéria, deputado Claudio Cajado (PP-BA), a emenda do Senado que permitia ao governo prever as chamadas despesas condicionadas no Orçamento de 2024. Essa medida, que garante uma folga de R$ 32 bilhões, deve ser incluída no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). A Câmara rejeitou, ainda, a emenda dos senadores que deixaria despesas com ciência e tecnologia fora dos limites fiscais.
Além do arcabouço fiscal, o governo colheu outra vitória nesta quarta no Congresso. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o projeto de lei que retoma o voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) sem alterações relevantes em relação ao texto que saiu da Câmara. Uma das iniciativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para ampliar as receitas e cumprir as metas de resultado primário, o projeto já foi encaminhado ao plenário e pode ser apreciado ainda nesta quarta.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial total em agosto (até o dia 18) é positivo em US$ 3,790 bilhões — graças a entrada líquida de US$ 4,156 bilhões via comércio exterior. Houve saída líquida de US$ 366 milhões pelo canal financeiro nesse período.