A economia brasileira escapou do fantasma da recessão técnica, mas ainda não conseguiu engatar retomada mais consistente. No segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 0,4% frente aos três meses imediatamente anteriores. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o resultado na manhã desta quinta-feira (29).
A recessão técnica é caracterizada por dois trimestres consecutivos de baixa no PIB. Como o indicador havia caído entre janeiro e março, novo recuo confirmaria esse movimento.
O resultado positivo de 0,4% reflete avanços em setores como a indústria. Frente ao primeiro trimestre, o setor cresceu 0,7%. A elevação na atividade das fábricas foi impactada pelos segmentos de transformação, que subiu 2%, e da construção civil, com alta de 1,9%. No sentido contrário, o ramo extrativo caiu 3,8%, ainda abalado pelo desastre ambiental de Brumadinho (MG), ocorrido em janeiro.
— O indício de reação da construção civil é importante. A retomada era esperada, mas não veio nos trimestres anteriores. Alguns indicadores já mostravam certo alívio. Apesar da alta, o fôlego ainda é pequeno diante das perdas. A construção está cerca de 30% abaixo do nível do início de 2014 — comenta a economista Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
Pelo lado da oferta, o setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB, também teve desempenho positivo no segundo trimestre, com avanço de 0,3%. No sentido contrário, a agropecuária colheu baixa de 0,4%.
Pela ótica da demanda, um dos destaques foi o aumento de 3,2% na formação bruta de capital fixo (FBCF), após dois recuos consecutivos. O indicador mede investimentos realizados por empresas em máquinas e equipamentos para ampliação da capacidade produtiva.
— A importação de bens de capital voltou a subir. A construção passou a crescer, o que gerou impacto positivo nos investimentos — afirma a economista Amanda Tavares, analista do IBGE.
Segundo o instituto, o consumo das famílias, considerado um dos motores do crescimento do PIB, subiu 0,3%. Já os gastos do governo recuaram 1%.
— O consumo das famílias ainda é fraco. Os gastos da administração pública vieram em linha com o que era esperado — frisa o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito.
No setor internacional, as exportações caíram 1,6%. O resultado espelha recentes turbulências globais, como a crise na Argentina e a guerra comercial entre Estados Unidos e China. As importações avançaram 1%.