A crise econômica vivida pela Argentina, que ganhou novos contornos durante a corrida presidencial à Casa Rosada, preocupa segmentos exportadores do Rio Grande do Sul. Diante da situação, empresários gaúchos avaliam que o Estado, assim como o restante do Brasil, precisa se tornar mais competitivo no cenário externo, em busca de novos mercados e até de diminuição no grau de dependência da nação banhada pelo Rio da Prata – o principal destino das vendas manufaturadas.
Para isso, cobram o avanço da agenda de reformas. Hoje, os argentinos representam o terceiro principal destino das exportações brasileiras, atrás de Estados Unidos e China.
– A crise na Argentina gera grande preocupação. Temos de avançar na agenda de reformas estruturais. Se ficarmos mais competitivos, poderemos alcançar outros mercados, sem tanta dependência da Argentina. Não devemos abrir mão do país vizinho, mas é importante aumentar a capacidade do Brasil no cenário internacional – diz o coordenador do Conselho de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Cezar Luiz Müller.
Pressionado pela derrota nas eleições primárias de domingo (11) para o candidato de oposição Alberto Fernández, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta quarta-feira (14) pacote de medidas na área econômica. Soma-se a essa situação o cenário externo, agravado pelo temor de recessão global no próximo ano.
A turbulência enfrentada pelos argentinos nos últimos meses respingou nas exportações brasileiras. De janeiro a julho, os embarques ao país vizinho caíram 40% frente a igual período de 2018, para US$ 5,9 bilhões. Nos primeiros sete meses deste ano, os principais produtos enviados para a Argentina foram automóveis, cujas vendas despencaram 50%, para US$ 1,3 bilhão. Depois, peças para veículos, com redução de 28,6%, para US$ 469,3 milhões. No Rio Grande do Sul, os números se refletem em indústrias da Serra, considerada polo metalmecânico.
– A Argentina é grande parceira das empresas da região. Boa parte das exportações do polo metalmecânico e automotivo tem o país vizinho como destino. Os efeitos da crise vêm sendo sentidos nos últimos meses – diz a economista Maria Carolina Gullo, diretora de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul.
Baixa nas exportações de calçados
Outro setor atingido pelas dificuldades argentinas é o calçadista. De janeiro a julho, as exportações brasileiras do segmento para esse mercado caíram 28,5%, em pares, e 37,8%, em receita. No Rio Grande do Sul, as vendas também ficaram no vermelho, com baixas de 17,4% e de 37,3%, respectivamente, no período, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
– O setor vem sofrendo os impactos da crise desde o início do ano. No curto prazo, não vemos sinais de melhora na situação da Argentina – menciona o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
Na agropecuária, os efeitos da turbulência encarada pelos vizinhos não causam tanta preocupação no que diz respeito a exportações.
– A Argentina não é uma grande compradora. Se diminuírem o consumo, o Brasil consegue vender para outros mercados – analisa o economista-chefe do Sistema da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz.
O comércio
Exportações brasileiras para a Argentina
(De janeiro a julho)
US$ 5,9 bilhões
Queda de 40% em relação a igual período de 2018
4,6% é a participação no total das vendas externas
3º maior destino dos produtos brasileiros
Importações brasileiras da Argentina
(De janeiro a julho)
US$ 6,2 bilhões
Alta de 1,8% em relação a igual período de 2018
6,1% é a participação no total das compras externas
3º maior vendedor ao Brasil
Principais produtos
Vendas para a Argentina
Automóveis
Partes e peças para automóveis e tratores
Demais produtos manufaturados
Importações da Argentina
Veículos de carga
Automóveis
Trigo em grão