Ao anunciar medidas econômicas depois do "lunes negro" (segunda-feira negra), dia em que o dólar chegou a 60 pesos e o terremoto no mercado financeiro argentino afetou o Brasil, o presidente Mauricio Macri terminou de enterrar seu projeto liberal no país vizinho. Foi quase como se dissesse: "Querem populismo? Eu posso dar". Na manhã desta quarta-feira (14), Macri anunciou aumento do salário mínimo, redução de imposto sobre a renda, moratória para pagamentos de pequenas e microempresas, e congelamento do preço da gasolina, que havia ficado fora de sua primeira intervenção econômica, em abril passado.
O pacote estratégico foi apresentado como um alívio para os efeitos da alta do dólar, que na Argentina contagia os preços de forma quase instantânea, diferentemente do Brasil, porque a economia local é muito mais indexada à moeda americana. Até eletrodomésticos têm preços em dólar expostos nas lojas. Os jornais locais relatam aumentos entre 15% e 20% em fraldas, óleo de cozinha e farinha, e entre 20% e 30% para vestuário. Para tentar frear a saída de capitais e segurar a alta de preços, já no "lunes negro" o banco central argentino havia elevado o juro básico em dez pontos percentuais, de 64% para 74% ao ano.
O mercado reagiu mal. O dólar voltou a subir, para 62 pesos, e o risco país disparou para 2,6 mil pontos – antes do resultado eleitoral, estava abaixo de mil. Conforme o sistema de pontos que avalia o risco de o país dar calote, a probabilidade agora seria de 44%. E se não deu resultado econômico, politicamente vai ser difícil não interpretar as medidas como tentativa de reduzir a vantagem do adversário Alberto Fernández, que tem como vice na chapa a ex-presidente Cristina Fernández de Kircher.
No domingo (11), a dupla de Fernández emplacou 15 pontos de vantagem sobre Macri nas prévias gerais do país. Macri ainda pediu desculpas aos argentinos pelo pronunciamento feito na noite de domingo, ainda antes do comunicado oficial do resultado. Pegou especialmente mal uma das frases: "Vayanse a dormir" (Vão dormir), que gerou críticas até entre aliados por parecer desrespeitosa. Seu objetivo é conquistar, ao menos, a possibilidade de disputar o segundo turno. Caso os resultados de domingo se repitam em outubro, a família Kirchner estará de volta ao poder.