De onde menos se esperava, veio a hipótese: indexar o frete ao custo do óleo diesel foi uma das soluções para o impasse entre governo e caminhoneiros cogitada pelo liberal ministro da Economia, Paulo Guedes. Realmente, como disse o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros à coluna, "razões de Estado se sobrepõem a compromissos de natureza ideológica". Nesta quarta-feira (17), o colega da Infraestrutura achou necessário frear
o ímpeto intervencionista do liberal Guedes. Tarcisio Gomes de Freitas afirmou que,
embora a solução possa ter funcionado em alguns países – como os Estados Unidos, conforme Guedes –, não seria viável no Brasil, onde há "quantidade grande de atravessadores no meio do caminho".
Depois do estrago provocado pelo telefonema de Jair Bolsonaro que suspendeu o reajuste de 5,7% no óleo diesel, o Planalto está se aplicando em separar os problemas – a ameaça de greve e a política de preços da Petrobras. Mas a hipótese de indexação de preços em um governo que se elegeu com o discurso "liberal na economia, conservador nos costumes" é surpreendente e evidencia o tamanho do desafio a ser vencido. A indexação de preços mantida no Brasil depois da desmontagem do mecanismo adotada pelo Plano Real, a maioria em serviços privatizados, é considerada por grande parte dos economistas um dos problemas que o programa do governo Fernando Henrique Cardoso não conseguiu resolver.
E mais curioso é que, no mesmo dia, comece a vigorar na Argentina outro tipo de medida típico dos anos 1990, o congelamento de preços, que depois de inúmeras experiências é considerada ineficaz no médio e longo prazos. Uma das promessas do presidente Mauricio Macri durante a campanha foi exatamente reduzir o intervencionismo do governo na economia. Essa foi a base para a retirada de subsídios que fizeram as contas de luz e gás
dos argentinos subirem até 300%. Agora, a inflação anualizada no país do tango também voltou duas décadas e meia atrás: 54,7%.
Mas é ano eleitoral, e Macri determinou nesta quarta-feira (17) que os preços de 60 produtos essenciais serão congelados por seis meses. Também se comprometeu que não haverá novas altas nas tarifas de serviços públicos mantidos pelo governo federal. Também congelou a banda cambial que determina intervenções do Banco Central na cotação do dólar.