Depois do estrago provocado pelo telefonema de Jair Bolsonaro que suspendeu o reajuste de 5,7% no óleo diesel, o governo parece ter entendido o tamanho da encrenca. Com o anúncio de medidas estruturantes para o setor de transportes anunciadas na manhã desta terça-feira (16), começa a fazer o que deveria ter feito desde o início: separado os problemas dos caminhoneiros, que vão muito além dos reajustes do combustível da questão da política de preços da Petrobras. Ou, como disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, a "consertar" o problema que o próprio Planalto criou. No dia anterior, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, havia dado a senha:
– Uma coisa é o governo, outra é a Petrobras – afirmou.
O anúncio mais impactante foi a destinação de R$ 2 bilhões para conclusão de obras paradas nas estradas, entre as quais a BR-116 no Rio Grande do Sul. É uma ótima notícia, desde que tenha ritmo e não interfira na busca do equilíbrio fiscal. No entanto, o primeiro órgão envolvido na tentativa de tranquilização da categoria anunciada nesta manhã foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A oferta de crédito de R$ 30 mil para cada caminhoneiro autônomo — até dois veículos por CPF, para garantir que o incentivo não vá pagar em grandes frotas — é destinada à compra de pneus e manutenção.
O sinal foi suficiente: imediatamente após o início da entrevista concedida pelos ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, as ações ordinárias da Petrobras, que andavam de lado, passaram a subir mais de 2%, e a bolsa, que estava no mesmo ritmo cauteloso, passou a subir com mais intensidade. Sim, é fácil assim: basta fazer o que a lógica econômica recomenda. O ministro da Infraestrutura mostrou porque é bem avaliado na Esplanada:
– Nosso maior desafio é dar trabalho ao (caminhoneiro) autônomo.
Até porque, entre alguns analistas respeitáveis, o episódio foi interpretado como mais um sinal da necessidade de privatização da Petrobras. E ao que tudo indica, o governo Bolsonaro não tem intenção de avançar nessa direção. Especialista em óleo e gás da consultoria Tendências, Walter de Vitto não gosta da relação entre a dificuldade de administrar a política de preços e a pressão por vender a estatal:
– São assuntos diferentes. Há interligação, em alguma medida, até por interferir na avaliação da empresa. Mas não gosto de misturar esses assuntos. Uma coisa é a política de precificação, outra a de privatização.