Com o mercado fechado antes que houvesse qualquer sinal de resultado da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, a segunda-feira foi um dia cercado de cautela. A bolsa, que havia iniciado o dia mais animada, conseguiu, por um triz, fechar no positivo: 0,22%. As ações da Petrobras fecharam com leves oscilações, tanto para baixo (ordinárias recuaram 0,07%) quanto para cima (preferenciais avançaram 0,39%).
Pequenas variações como essas representam precaução de investidores e especuladores diante do imponderável. O problema é que não se sabe o que esperar do governo depois do telefonaço de Bolsonaro em que determinou ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, frear o reajuste de 5,7% no óleo diesel nas refinarias.
Analista de óleo e gás da consultoria Tendências, Walter de Vitto vê “situação bem complicada”, especialmente depois que a previsibilidade do governo sobre o assunto escasseou:
– É uma questão de definir quem ganha e quem perde. E é muito difícil fazer isso. Represar um reajuste dessa forma é transferir dinheiro do contribuinte para o setor que usa diesel, seja transporte ou agricultura. Como o orçamento é engessado, significa transferir essa renda.
De Vitto lembra que a variação do dólar e da cotação internacional do petróleo – nenhuma controlável – forma o preço dos combustíveis:
– Caso prevaleça a situação em que se mantenham aumentos de barril e câmbio, o governo vai jogar o ônus na Petrobras de forma contínua? É um jogo sem fim.
A saída, pondera o especialista, é definir a regra e mantê-la. O problema a resolver – ou a “consertar”, como disse Guedes – é que havia regra, quebrada pelo presidente da República. Além de elevar a insegurança jurídica, quebrou a confiança de investidores.
Não só os do mercado financeiro, mas os que estavam dispostos a disputar, por exemplo, as refinarias que a Petrobras pretende oferecer à iniciativa privada, entre as quais deve estar a Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. A representantes de empresas foi dito que não havia mais controle de preços, como no governo Dilma Rousseff. E agora?
De Vitto pondera que os reajustes podem ter qualquer periodicidade, desde que eventuais perdas ou danos sejam compensados por inteiro. Até a ideia de impostos cobrados de forma variável (sobem quando o preço do petróleo baixa e vice-versa) pode ser uma solução.
– O ideal na política de preços é que reflita o que está ocorrendo no mercado, não gerando ganhos e perdas para setores específicos.